terça-feira, 1 de julho de 2014

Santoro


Deus não me faz acordar todas as manhãs à toa. Não, Ele tem sempre um propósito. Hoje sei qual foi o propósito de Deus, quando me mandou o Sol pela janela quebrada – que finalmente caiu, desta vez! – do quarto: Ele quis que eu viesse até aqui, e quis que eu escrevesse sobre Santoro.

Para isto, Deus usou o facebook. E, logo assim que acordei e liguei o celular, um sinal de que haviam marcado o meu nome numa publicação chamou-me a atenção. E foi ali que Deus me disse “escreve, Karla, que ainda não desisti”.

Deus ainda não desistiu. Não desistiu do mundo, das pessoas, de cada coração, de cada ser humano. Ele me repetiu isto várias vezes, enquanto lia o depoimento maravilhoso (porque emocionado) do meu amigo Santoro. E quanta emoção senti, ao ver que fui marcada por ele!

Santoro é cada um de nós. Quem é Santoro? Somos nós! Santoro existe: é um homem – o dono do retrato – simples, que conheci durante o tempo em que trabalhei em Iguaba Grande. Nossos caminhos se cruzaram em muitas idas e vindas da escola para casa, da casa para a escola, pelas ruas da cidade, em reuniões na Secretaria Municipal de Educação. Empatia instantânea, agora posso revelar recíproca. Muito quieto, homem de poucas palavras. Sujeito sério, admirável sob o meu ponto de vista. Santoro é Auxiliar de Serviços Gerais numa das escolas municipais por onde passei.

Em certa época, nos encontramos novamente, e daquela vez estávamos discutindo o Regimento Escolar, que sofreria alterações. Lembro-me bem de que nós dois defendíamos a possibilidade de que todo funcionário da escola, que fosse efetivo e que comprovasse conclusão de Ensino Superior atrelado à Educação, pudesse ser Diretor. Discussões calorosas acabaram por manter o Artigo como estava, atribuindo somente aos Professores tal oportunidade. Não gostei daquele resultado. Santoro também não gostou.

Na defesa, um cidadão. Um trabalhador. Um homem que por méritos próprios galgou empregar-se na Prefeitura através de Concurso Público, e o fez.

Santoro é cada um de nós.

Um Auxiliar de Serviços Gerais que enxergava a escola para além daquilo em que se resumia o seu trabalho. Que, durante a discussão, incansável, sobressaiu-se diante dos outros, aos meus olhos de professora: ali está ele, que pessoa interessante!

Fomos votos vencidos. E ali estava só começando a trajetória de Santoro, que teve uma de suas etapas concluídas há poucos dias: Santoro cursou História, e hoje é Professor!

O depoimento no facebook – desabafo do homem – fala por si:

“Depois destes três últimos anos de tensão, nervosismo, cansaço,  prazer, alegria, satisfação e amizades, consegui atingir meu objetivo, o de ter a LICENCIATURA ( HISTÓRIA ) para que pudesse realizar um sonho antigo ser PROFESSOR. Foram meses de muitos estudo e pesquisas, muita tensão, nervosismo, noites sem dormir, cansaço mas tudo com muito prazer alegria e satisfação, pois, adquiri conhecimentos e experiências antes não vividas, encontrei pessoas incríveis que levarei para o resto da vida.
Agradeço ao meu coordenador, professor e amigo Paulo de plena erudição. Cláudia por seus conhecimentos invejáveis, o tranqüilo e sensato não menos erudito Rafael, o muitas vezes incompreendido mas de uma inteligência incomparável Fábio. Não esquecendo outro grandes professores como: Wellington, Manuela, Monica e tantos outros. E também a pureza e sensibilidade da profª. Margareth. Que me capacitaram a ser futuramente um grande profissional do ensino.
Agradeço a minha esposa(...), agradeço também aos professores (...) pelas palavras de incentivo.
Mas agradeço muito aos meus inimigos e pessoas que torceram contra o meu sonho, seja, com empecilhos colocados no meu caminho ou duvidar de minha intelectualidade para tal,mas EU VENCI... e a você que acha que apoio não tem capacidade de ser um professor e quem sabe um diretor de escola, tai.
SOU PROFESSOR .....CARAMBA!!!!!
OBRIGADO, DEUS !!!!!!!!”

Fiquei encantada! E agradeci a Deus porque ainda me encanto com coisas assim. Tendo pedido a Santoro permissão para escrever o texto e citar seu nome, ele me respondeu afirmativamente, e completou a resposta dizendo da esperança de que o texto sirva de incentivo para outras pessoas. É ele!

É ele, o menino que a escola excluiu, e eu nem sei do motivo. Sei, que excluiu. Não fosse assim, e já teria concluído seus estudos antes. E, ainda que alguém pense que ele pode ter terminado o Ensino Médio na época certa, e resolvido graduar-se depois, ainda assim julgo ser isto uma exclusão da escola. Exclusão pior, porque velada.

A escola exclui ao apresentar ao aluno o seu currículo oculto: aquele que seleciona, que desagrega, que unifica, que discrimina. Não precisa dizer nada. Age. É cruel. E, mesmo que consigam passar por ela até o momento de Certificado, saem de lá jovens que internalizaram que aquele é o seu limite. Que basta. Que “agora” é hora do mercado de trabalho.

Mas o desejo, o que fica no coração, ainda que adormeça, um dia acorda. Santoro permitiu dar vez aos sonhos do coração. Santoro rompeu barreiras, e agora é um Professor de História! Educador sempre o foi, posto que não dá para separar a ação de educar e designá-la somente aos docentes da escola. Todo mundo educa, uma vez que todo mundo é adulto naquele universo onde as crianças estão para aprender... Santoro, agora, é Professor!

Será um Professor “de primeira”, porque levará para a sua sala de aula, muito mais do que a história que pretende ensinar, a história da vida que o compôs. Levará para os meninos e meninas – seus futuros alunos – o testemunho vivo de que é possível sonhar, acreditar nos sonhos, ter uma meta na vida e alcançar bons resultados quando se luta para vencer. E tudo isto é possível de se conseguir com dignidade e, sobretudo, com humildade.

Deus ainda não desistiu. Deus espera de mim, espera de você, espera de Santoro. E Deus se agrada, quando vê, de lá do mais alto dos céus, um filho Seu sabendo aproveitar de modo bom a vida que lhe foi concedida.

O que dizer a Santoro?

Santoro, meu texto hoje é uma pequena homenagem a você. Escrevo, porque é o que mais amo fazer na vida. Não saberia fazer de outro jeito.

Fico do lado de cá, esperando ler sua publicação acerca do primeiro dia numa sala de aula. Fico na torcida, alegre por saber que vem gente boa por aí. Gente com sangue abençoado nas veias, gente que vem para fazer o bem.

Do lado de cá não está nada fácil, meu amigo. Mas quando você estiver por aqui, ficará tudo bem melhor!

Parabéns!

Karla Pontes.



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