domingo, 12 de fevereiro de 2012

Correr como criança

(Alguém aí já reparou na beleza de uma criança correndo na beira da praia? Pois Antônio sempre me dá este presente.)


Eu levo Antônio à praia sempre que posso. E a melhor parte de quando estamos lá é a hora em que ele me pede pra deixá-lo correr. Eu delimito os espaços: “Você pode ir daqui até lá...” Ele me sorri animado, e sempre percebe que aumentei um pouquinho a distância.
Ver Antônio inspirando, preparando os pulmões para iniciar a corrida, é a coisa mais linda que há! Graças a Deus esse momento existe (talvez seja essa a hora em que Deus aperta a tal da tecla pause do tempo...).
É louca!”, devem pensar as pessoas que me vêem: eu o sigo com um olhar atento, mas invejoso!... Ele corre pela areia, quase some do alcance dos meus olhos. Eu vou vendo aquele corpinho frágil transformar-se – na minha poesia de mãe – num avião a jato, numa motocicleta possante, numa lancha voadeira... Se me permito um pouco mais de ilusão, ele é o “The Flash” com todos os seus poderes de chegar antes mesmo de partir.
Braços e pernas perfeitamente coordenados – a natureza faz por si, dispensa personal trainers. Ele sabe o que faz. Inicia sua trajetória sério, compenetrado, preocupado em chegar lá, no local marcado. Atravessa a correnteza das ondas que tocam a praia, salta os obstáculos que lhe aparecem a frente e, com determinação, chega.
Da chegada, eu sei pelo aceno. Deus me acena pelas mãos de Antônio, quase invisíveis pela distância: eis meu corredor lá, invencível. É hora da volta.
A volta é algo que emociona e aperta qualquer coração de mãe: a corrida agora é menos veloz – o objetivo já fora atingido – e é em minha direção. A cara séria dá lugar ao sorriso que se modifica enquanto as bochechas trêmulas obedecem ao ritmo dos passos. Às vezes acontecem alguns tropeços, mas ele se levanta, sorri e continua.
Ofegante, se aproxima, de braços abertos. E eu tenho que estar lá para receber o abraço mais valioso do mundo! O que nunca termina. O que dura a eternidade de alguns segundos. O que fala por si.
Mas não há cansaço. Ele quer ir de novo. E me pede pra marcar um ponto de chegada ainda mais distante. Eu sou a contadora, dou a partida: um, dois, três e já!!!
Lá vai ele, o meu Antônio, o Antônio da vida que o assiste e o espera ansiosa... Lá vai meu menino, que há tão poucos dias aprendeu a andar sozinho, sem minhas mãos. Lá vai o meu amor...
Dia desses, por convite do rapaz que aluga lanchas por aqui, ele deu uma volta em uma delas. Eu permiti. Colete no corpinho, sumiu diante de mim e das águas acolhedoras. Foi-se, para mais uma aventura em alto-mar. Quando voltou, não havia dado uma voltinha: tinha descoberto o universo que existe pra lá do alcance dos pés! Sentou-se na areia e contou-me tudo, o tudo que havia vivido naqueles – tão breves! – instantes na lancha.
Quisera correr como criança! Lançar-me à aventura de ir até chegar. Ter a alegria de saber que alguém espera o meu retorno com o mesmo abraço valioso!
Nada sou sem Antônio. Ele veio pro meu mundo para eu me lembrar de que existo, para além do trabalho, da rotina do dia-a-dia, porque eu acho que já havia me esquecido disto. Hoje ele já não me deixa esquecer: solicita-me por todo tempo. É meu companheiro, enxuga minhas lágrimas quando choro. Diz-me que “vai passar”...
Antônio sabe o quanto eu preciso vê-lo correr quando vamos à praia, e eu não sei por que é assim, mas ele sabe. Não passa um dia em que não realize este meu desejo. O de ir... e voltar.
Graças a Deus Antônio volta. Graças a Deus é criança. Graças a Deus tem saúde para dar a mim esta alegria. Graças a Deus estou aqui para assistir à cena que, sem sombra de dúvida, guardarei na retina e no meu coração pro resto de minha vida.
O que dizer de um cenário composto por um dia de céu azul, sol, mar, vento no rosto, e uma criança feliz correndo na praia? Na minha pequenez, digo que não mereço este presente. Mas Deus, onipotente e misericordioso, discorda de mim: e recebo o milagre, apesar de todos os meus pecados.

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