segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Super Antônio

(Nestes tempos de "carnaval em casa", a companhia de Antônio tem me inspirado!)


Antônio é um super-herói. Nada o abate.
Aos seis anos de idade enfrenta todos os problemas que lhe aparecem. Para combater cada um deles, um objeto diferente surge de sua mochila. Nada é o que parece: onde vejo um copo ele vê uma espaçonave, onde vejo uma tampinha ele vê um comunicador da intergaláxia, o que pra mim é uma corda para ele é a teia do Homem-Aranha...
Meus olhos têm quarenta e três anos. Os dele, seis. Aí está a razão pela qual não vemos as mesmas coisas num mesmo objeto.
Se Antônio quer ser o Arqueiro Verde, veste-se desta cor. Se surge vestido de azul é um dos Power Rangers.  Com muita facilidade e tranquilidade se transforma no que lhe for necessário para exterminar o mal, e fazer com que o bem vença, sempre.
Antônio brinca, brinca sem parar. A sala da nossa casa é o seu mundo: televisão ligada e todos os brinquedos espalhados, ele dá conta das duas coisas, sem perder o fio da meada. Sabe exatamente em que parte está o desenho animado e a brincadeira paralela. Ele é todos os personagens, todos os salvadores da Terra. Antônio é um super-herói.
Este super-herói de seis anos não sabe o que espera lá na frente. Eu sei. E tento fazer minha parte, mas sempre acho que faço errado. E, enquanto o observo lutando contra tantos poderes destruidores, fico tentando imaginar como fazer pra dizer a verdade a ele.
Preciso contar a Antônio que o mundo está cheio de gente ruim. E que essas pessoas não tem rostos verdes, nem dentes amarelos afiados, tampouco chifres ou coisas semelhantes para que sejam identificadas. Muito pelo contrário. Aqui “na frente”, onde estou, todo mundo tem o mesmo rosto, e às vezes demoramos muito para discernir entre o rosto do bem e o do mal.
Aqui não se usam armas mirabólicas e possantes para derrubar os outros. Faz-se isto com meias palavras, com atitudes dissimuladas, e até mesmo com belos sorrisos estampados.
Preocupada em proteger Antônio do improtegível, fico tentando prever o que lhe acontecerá pelo caminho, para me preparar para o acalento quando ele precisar de mim. Ele vai sofrer quando descobrir que seu amor pela menina da escola não é correspondido, vai sofrer quando o professor o flagrar colando no dia da prova. Antônio vai chorar quando perceber que foi traído pelo seu melhor amigo, quando ficar em recuperação em Matemática, quando tiver a carteira roubada por algum pivete.
Os super-heróis estão na TV. Vendem brinquedos, camisetas, lancheiras, copos, roupas de banho, material escolar. São tão queridos pelas crianças! Alguns atravessam a adolescência, mas não ensinam aos nossos filhos que viver a realidade é bem diferente. Essa parte fica pra gente que é mãe. E é duro ensinar isto.
Eu ainda não sei como fazer, mas peço a Deus que esteja viva lá na frente. Porque quero receber Antônio nos meus braços quando, do alto de seus quase dois metros de altura – ele vai chegar lá! – ele desabar, chorando um amor perdido. E quero abraçá-lo acolhedoramente nas suas tristezas, para que por alguns instantes ele pense que o mundo sou eu.
Deitado no meu colo como costuma ficar agora, contarei a ele que “a vida é assim”, coisa que muito ouvi, já, dos meus pais. E enxugar-lhe-ei as lágrimas derramadas sem vergonha, porque graças a Deus eu digo a Antônio todos os dias que homem pode chorar. Ali estarei, com meu conforto e consolo, criando meu filho para o mundo que o espera. Direi-lhe palavras que o façam sentir-se forte, sem deixar de reconhecer suas fraquezas. E, depois, o farei sorrir, acrescentando algumas besteiras ao texto – sempre – bobo de mãe.
É assim que imagino criar o homem que se tornará Antônio. Vou guardando na minha memória afetiva alguns dos truques que ele ensaia agora na luta travada entre o bem e o mal, tentando não me esquecer dos detalhes, porque essa luta apenas substitui os adversários à medida que o tempo passa.
Aos poucos ele vai perceber que não tenho laser, nem armas de fogo ou gelo, coisas que hoje ele diz que eu tenho. Vai perceber que sou fraca, e que não sei todas as coisas, apesar de ser professora (ele sempre diz que se eu sou professora tenho que saber de tudo!). E vai concluir que, a despeito de todos os “defeitos” descobertos, me ama além da medida. Como vai concluir que é extraordinariamente amado por mim, apesar de colar na prova ou ficar em recuperação.
Taí a vida, Super Antônio! Importa que estejamos juntos. Vamos ver o que será...

Nenhum comentário:

Postar um comentário