Trinta anos separados. Até que
se reencontram. E cada um tem, de repente, trinta anos a menos, pelo menos por
um dia...
Em trinta anos, ficaram
adultos. Agora têm em seus rostos, além das marcas das espinhas da
adolescência, rugas: viveram! Trazem os olhos cansados – já viram tanta coisa
nesta vida! – e auxiliados, agora, por lentes de óculos que jamais pensaram em
usar. Muitos cabelos brancos apareceram, embora ela ainda os disfarce numa
tinta amarronzada.
Um casal de amigos. Muito
amigos. E que só sabem que sempre o foram agora que a maturidade lhes permite
saberes que não possuíam há trinta anos...
Um dia, depois de alguns anos
dividindo brincadeiras, apelidos e boladas na hora do recreio, o destino os
separou: era chegada a hora do “segundo grau”. Fizeram escolhas diferentes, um
sem saber do outro. Tomaram rumos diferentes. No fim daquele ano ela recebeu
dele, pelos Correios, uma fita K7 com
canções gravadas e um cartãozinho de Natal, com confidências de carinho. Ela
riu. Jamais se esqueceu: “Alguém disse
que te ama, adivinha quem fui?”
Nunca mais se viram. Nunca mais
se falaram. E trinta anos se passaram.
Trinta anos levaram embora uma
menina sonhadora e um menino pra lá de tímido. Ele cresceu, conheceu o amor,
casou-se. Ela cresceu, conheceu o amor, casou-se. Respeitando a ordem natural
das coisas, tiveram filhos. Lindos filhos!
Enquanto deixavam de ser
adolescentes e se tornavam adultos, Deus foi realizando Sua obra. Deu-lhes
talentos afins: a poesia, a fotografia, a música, o romantismo, a fé. Deus desenhou
naqueles dois o rascunho de almas boas, generosas, caridosas, fiéis.
Enquanto deixavam de ser
adolescentes e se tornavam adultos, o homem aprimorou a robótica e a
cibernética. E um belo dia, trinta anos depois de um histórico escolar separar
os dois amigos, a Internet os encontrou – ou eles encontraram a Internet – e
eles encontraram-se, um ao outro.
As emoções se sobrepõem ao
tempo. No primeiro (re)encontro, os treze anos de volta. E, diante do espelho
que revela a verdadeira idade, aquela saudade de tudo o que foi vivido!...
Trinta anos não são nada quando
o adeus não é dito.
E hoje, gratos a Deus pela
Inteligência do homem, de vez em quando os dois amigos trocam seu “bom dia”. De
vez em quando um ajuda o outro, um socorre o outro, e muito mais vezes um se
alegra com a alegria do outro.
Talvez um dia o reencontro
presencial se dê. E o abraço aconteça. O abraço que nunca existiu, posto que,
crianças, nunca deram importância a isto. Crianças e adolescentes não sabem a
falta que um abraço faz. Enquanto este dia não chega, conforto-me com sua voz
em gravações que tenho, com suas palavras de carinho. Vamos acompanhando, um ao
outro, através do “Sr. Google”, este que, se bem utilizado, pode aproximar tantos
destinos que se perderam!...
Cada vez que estou com ele, sou
uma menina. Do outro lado, sua foto no “chat” me revela o garoto. Que é o
tempo, afinal? Este senhor das horas que reduz nosso prazer no banho, nosso
sonho na cama, nossa viagem no carro, nossa alegria na vida se, diante de uma
emoção que se sente, é capaz de parar por trinta anos?
Bem-vindo à minha vida virtual,
querido amigo! Poetas que somos – você infinitamente melhor do que eu – fomos
agraciados com o dom de não temer o vibrar do relógio. E não me resta dúvida de
que nossa afinidade em perceber essência em coisas que a maioria das pessoas
despreza, faz-nos sentir o calor do abraço, ainda que estejamos geograficamente
tão distantes!
Hoje meu texto é pra você.