segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Uma semana

(As ilusões são criadas pelas pessoas... Quem vive ou viveu um relaciomento a dois vai entender Mariana. Ou entenderá Davi.)

Bastou uma semana para você perceber que as ilusões são criadas pelas pessoas.
Afastados por dois meses – porque você pediu “um tempo” – vocês retomam a relação. Davi voltou com um punhado de promessas na ponta da língua. Você quis tentar mais uma vez, porque acha que ainda o ama. “Se as promessas forem cumpridas...”, diz a si mesma, embora intimamente desacreditada.
Ficam juntos por uma semana. Davi é, exatamente, o mesmo homem.
Numa manhã de quarta-feira você o vê sair de casa para trabalhar. Ainda sonolenta, observa o jeito dele de tomar apressadamente o café, observar as manchetes do jornal do dia, deixar a xícara em cima da mesa da cozinha e o pijama no chão do banheiro, procurar as chaves do carro xingando todos os palavrões, e deixar a casa, finalmente. Os portões da garagem abertos e o último grito: “Amor, fecha pra mim?”
Você volta pra cama, agradece a Deus por ser aquele o seu dia de folga. Quando dá por si está agradecendo a Deus também por ser dia de expediente – e hora-extra – pra Davi. Hoje será um dia de paz em sua vida.
Opção errada a de retomar a história com ele. As ilusões são criadas pelas pessoas. E você começa a refletir... Lembra da história, desde seu início... Não precisa nem de espelhos para falar com você mesma...
Não existe príncipe encantado, nem cavalo branco. Depois do primeiro encontro não há flores vermelhas com bilhetinho romântico, tampouco telefonemas.
Se o jantar é num belo restaurante, a conta será dividida. Isto se ele não disser que esqueceu a carteira em casa.
A conversa durante o jantar é boa? Ele está mentindo, ou omitindo, ou decorou alguns temas consultando a internet.
O anel entregue na caixinha é folheado a ouro. E pertencia à mãe ou à irmã dele, que a essa hora está dando por falta da bijuteria.
Mas, mesmo assim, com todas essas evidências, você aceita o convite: Ele quer se casar com você.
Você está eufórica: daqui a alguns meses terá o homem dos seus sonhos ao seu lado: cavalheiro, educado, cortês, alguém para lhe ajudar a pagar as contas...
Ele está eufórico: daqui a alguns meses terá uma namorada-amante para lhe fazer companhia, todos os dias e todas as noites, aquecendo seus pés e orelhas quando sentir frio, cobrindo-o quando a colcha escorregar e...
... lavando suas roupas sujas (incluindo as íntimas!), preparando almoço e jantar para as horas em que sentir fome, pendurando a toalha no varal quando jogá-la na cama, arrumando toda a casa, recolhendo a sujeira dos seus cachorros, assistindo ao canal de TV de sua escolha, torcendo pelo seu time, preparando uns petiscos, também, quando o futebol for assistido junto com os seus amigos convidados sem prévia consulta... Daqui a alguns meses ele terá a seu lado a sua mulher de verdade! A Amélia, digo, Mariana. A garota ideal para lhe ajudar a pagar as contas, porque tem um emprego excelente e estável no Banco do Brasil.
Depois da festa do casamento (que sua família bancou), a lua-de-mel. E ele vai contar o dinheiro arrecadado com o corte da gravata para ver o que dá pra fazer. Sua primeira desilusão.
Conversando sobre filhos, depois de consumada a noite de núpcias e de ele ter dormido profundamente e roncado absurdamente sem deixá-la sequer cochilar, enquanto você lhe conta do sonho de ter dois – de preferência um casalzinho - quem sabe gêmeos?! – ele diz a você que tanto faz, porque ele já tem um casal de filhos do primeiro casamento. E acrescenta, ainda com um hálito desagradável: “se você não quiser ter, por mim, tudo bem”. Sua segunda desilusão.
A terceira desilusão vem quando as contas chegam e ele começa por dividi-las afixando ímãs na geladeira: cada lado é responsabilidade de um. E você percebe que o seu lado está sempre em desvantagem. Tenta argumentar com ele e ele diz que é assim porque você ganha mais. E, pela primeira vez, você quer morrer.
Quando reconstrói a história na cabeça se entristece, se arrepende, se revolta. Levanta da cama que agora lhe parece desconfortável. Quando vai à cozinha percebe mais um ímã na sua “conta” - a assinatura do celular dele vence hoje - e decide voltar a ser sozinha.
Deixa um recado na caixa de mensagem dele, solta os cachorros, troca as fechaduras, queima todas as contas e volta pro colchão, que agora lhe é mais convidativo...
As ilusões são as besteiras criadas pelas pessoas. O que existe, de fato, é o que é verdadeiro. Mariana se cansou. Agora, mais aconchegada nas cobertas, dorme tranquila enquanto agradece a Deus por ter tido esses sete dias para se convencer de que é melhor viver sem Davi.

4 comentários:

  1. _ "Mulher nenhuma será obrigada a lavar as suas cuecas. Começando por mim!" Assim mamãe me ensinou a cantar "lava roupa todo dia, que agonia...". Até hoje desenvolvo as minhas habilidades domésticas, o meu senso de higiene, lavando essa peça de roupa sempre quando vou tomar banho. Hoje sou o único provedor de minha família (não por opções minha e de minha mulher) e sei o que é pagar as contas de uma casa... minha mulher também, pois é extremamente parceira e contribui ao máximo para diminuir despesas.
    Sinceramente, esse Davi é o "cara" personagem de Roberto Carlos: chato pra cacete!
    Tomara que ele encontre "uma Golias" pela frente, difícil de derrotar, tipo carne de pescoço ou ossinho de galinha, meio que complicado de engolir.
    Agora Mariana passou a ser minha heroína por ter dado um tremendo 'pé na bunda' desse mala!
    Beijos!

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  2. Percebeu que estou tratando os seus personagens como se não fossem fictícios? Meu companheiro de vinho anda me perscrutando. Ele está querendo me dizer alguma coisa!!!
    Vou ouvi-lo um pouco mais!
    Beijos!!!

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