sábado, 18 de fevereiro de 2012

Muito prazer, meu Blog!

(Através de você tento contar sobre o que fui, e melhorar o que sou. Aos amigos - virtuais ou não - que passeiam por aqui porque sentem prazer nisto, dedico este texto.)



Sempre gostei de escrever. Minha vida, eu contei em várias páginas de vários diários que um dia se foram: ação insensata que os adultos praticam quando acham que são maduros o suficiente para viverem sem as lembranças da infância e da adolescência.

Os papéis sempre foram fiéis companheiros. O colchão da cama também. Punha-me de joelhos e escrevia, escrevia, escrevia minhas solidões.
Quando consegui ter um quarto só pra mim consegui, também, chegar ao final dos textos de uma só vez: não havia mais a minha irmã a interromper-me os pensamentos com procuras esbaforidas pelo vestido a usar...
Eu fiz do meu quarto o meu refúgio. Muitos cadernos contando das minhas experiências com a vida: meus amigos, minhas brigas com eles, minhas insatisfações com as regras lá de casa. Jamais meus pais souberam daquilo do qual discordei. Mas meus cadernos sabiam tudo. Muitas manchas de lágrimas. Solidão dói bastante. Cresci optando por escrever minhas coisas enquanto ouvia da janela o barulho dos meninos e meninas da minha idade a desvendar os encantos da noite.
A noite trazia-me inspiração para as poesias. E o som daqueles passos e vozes alegres misturados com o ronco dos carros – que os jovens fazem questão de produzir! – enchia-me de motivação: e eram poemas, versos, sonetos...
Até que ganhei a Remington 22, uma máquina de escrever! Meus dedos, então alucinados, caminhavam pelas teclas das letras, experimentando resultados. (Eis uma prática que ainda tenho: olhar o teclado e imaginar que palavras estão ali, como diria Carlos Drummond de Andrade, “prontas para serem escritas”...)
Eu fiz muita coisa com aquela máquina... Nossa! Lembrar dela agora me arrepia a pele! O estalar dos botões para a retirada da tampa já me fazia pensar no texto que iria escrever. E eu datilografava tão rápido que parecia ter feito o curso. Que nada! A pura emoção de estar ali, querendo logo revelar meus pensamentos...
Lá no meu refúgio tudo concorria para que eu vivesse das coisas que escrevia. Comprei logo um aparelho de som e uma televisão, uma vez que o meu gosto para compartilhar momentos de música e TV com a família era pouquíssimo. E por lá fiquei, anos da minha vida, a escrever, a compor minha história.
Voltei para os cadernos depois que minha companheira Remington 22 se cansou. A máquina para, mas os pensamentos não podem esperar. Quando me apaixonei de verdade (existe isto?) foram tantos os desvarios que enchi meu armário. Relíquia destruída no dia do fim. Um amontoado de papéis rasgados com a fúria de quem se acaba por causa de um amor perdido. Eu estava vivendo – e era só isso! – quando pensava que ia morrer.
Depois foram os ensaios com a minha profissão de professora: muitos “diários de bordo”, registrando sucessos, fracassos, mas, principalmente, minha paixão por lecionar. Taí algo de que me orgulho sobremaneira: do ofício de ser professora! Escrevi muito sobre meus dias, sobre o que pensava, sobre o que imaginava poder fazer diferente... Por muito tempo fui professora, e só isso. Esqueci-me de mim, e trabalhei, trabalhei, trabalhei, carregando nos braços os cadernos dos tantos alunos que passaram pela minha vida. Foram dezesseis anos ininterruptos, uma média de vinte e cinco alunos por turno, o que me faz chegar a uma estimativa de oitocentos seres humanos em formação no convívio comigo. Caramba! Que bênção de Deus! Como Ele confiou em mim!...
Apesar de algumas ausências, de algumas lacunas provocadas por períodos em que muito pouca coisa me inspirava, recomecei o exercício de escrever há alguns anos. Comecei a partilhar meus textos, coisa que dificilmente fazia. E algumas pessoas começaram a gostar de ler o que eu escrevia. Dali a chegar ao Blog, foi rápido. E devo dizer que a experiência tem-me sido extremamente emocionante.
Muito prazer, meu Blog! Vim aqui para contar a você que sou uma pessoa renovada depois que cruzamos nossos caminhos. Tudo o que há escrito em cada página é um pouco do que sou, do que Deus planejou que eu fosse. Sei que cometi muitos erros, mas sei também que Ele não está lá tão decepcionado assim.
Vim dizer-lhe da alegria que é escrever uma coisa que se está sentindo e encontrar do outro lado da tela um alguém que precisa lê-la. Da alegria que é ouvir a crítica, sinal de que posso melhorar. Da alegria que é emocionar um leitor com tão pobres palavras.
Eu fiz amigos através do Blog. Gente que não conheço pessoalmente, mas que me trata com intimidade, respeito e carinho. Gente que reza por mim quando vai dormir.
Deus seja louvado pelas palavras que escrevi sem saber por que, e só descobri quando alguém me revelou tê-las recebido no momento em que precisava. Deus seja louvado pela foto que recebi do sobrado onde morei, depois de postar “Feliz a vida toda”. Por ter acalentado alguns corações quando perdemos Roseléa. Por ter emocionado Marli e Herminia quando lhes prestei as merecidas homenagens. Pela essência de lavanda que recebi de presente depois que publiquei “Faxina: estou pronta!”, por ter recebido tantos testemunhos de amigos que se identificaram comigo através das histórias - tão particulares – que contei sobre meu filho, minha família, minha vida...
Obrigada, meu Deus, por cada reflexão que eu possa ter causado nos corações dos professores. Obrigada por permitir que eu chegasse até aqui. Obrigada por cada palavra que recebo de minha amiga Alda a cada nova mensagem...
Eis o mundo virtual me provando que nem tudo está perdido, apesar da “evolução do nada”...
Se é por aqui que é pra ir, estou indo. E confesso que encontrei um caminho bom demais. Porque o caminho que se faz acompanhado por amigos de verdade – virtuais ou não - só pode ser o certo. Só pode ser de Deus.

2 comentários:

  1. Muito lindo seu texto! Enquanto eu lia, senti a sua presença ao meu lado, como se estivéssemos na nossa sala de trabalho, com você falando tudo isso. Cheguei a imaginar sua entonação em cada palavra, as viradas de cabeça e o sorriso saindo pelo canto da boca. Foi isso que você fez: transpareceu, materializou-se virtualmente, se isso é possível. Mas foi o que senti. Parabéns e um beijo. Você não pode parar, Deus não quer.

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    1. Se é o que diz... Acho que este blog está a minha cara, mesmo! Obrigada!

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