quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Todo mundo na mira

(Não estou gostando nada, nada da maneira como vem se espalhando a poeira dos "facekids" que, loucos por um minuto de fama, vêm expondo nossas escolas ao ridículo. Não concordo com este tipo de conduta. Daí, resolvi compartilhar com vocês.)


Agora é festa: está todo mundo na mira das câmeras fotográficas e dos celulares. Você está bonito hoje?
Estou espantada. E acho que estou sozinha. E fico com medo, porque minha cara de espanto não é bonita, e posso sair feia na foto...
A poeira dos facekids voou longe. E hoje já não se dá mais aulas nas escolas: os alunos – nossas crianças! – estão a fotografar tudo o que vêem pela frente. Descobriram, agora, que as paredes das escolas estão ruindo, que o professor de Ciências não vai há um ano e meio, que não há trancas nas portas dos banheiros e que as cadeiras onde se sentam só têm três pernas.
A sortuda da menina conseguiu uns minutos de fama no horário nobre – ou pobre? – da televisão. Havia uns milhões de pessoas olhando para a tela, naquela noite. E, desejosos por serem famosos também, os pais presentearam seus filhos com os modelos “top de linha” dos telefones celulares. E o conselho dado pela manhã, em vez de ser o de obedecer à professora, foi o de filmar tudo o que vir de errado na escola.
Não gostei. Não gostei do que vi. Umas mães com cachecóis e casa arrumada delatando a espera pelo repórter... Tudo muito bonitinho!
Nossas escolas abrem todos os dias e recebem seus alunos. As Secretarias de Educação abrem todos os dias e recebem seus funcionários. O direito à salubridade é respaldado em legislações pertinentes: número de alunos por turma, condições de higiene, segurança e acessibilidade. A cidadania é um direito, tanto do professor quanto do aluno.
Pensar que daqui a alguns dias, pelo jeito que a coisa evolui, poderemos fechar as secretarias me dá medo. Pensar que estaremos monitorados vinte e quatro horas por uma criança me dá medo. Não pelo que filmarão, mas pela forma como a democracia está sendo conduzida, neste caso.
Pais devem estar nas escolas, mas não para aparecerem na TV. Ou será que agora a televisão ficou responsável também por isto?
Mães e pais revelando que não conheciam o interior da escola onde confiaram seus filhos. Não sabiam quem eram seus professores, não sabiam quem era a diretora. Eu devo ter perdido a parte em que confessaram não saber nem o endereço de onde a escola fica...
Do outro lado, a escola, que não seduz, não traz os pais “pra dentro”, não divide, não delega atribuições. A escola que não propaga um grêmio estudantil, que não exige das outras esferas a solução para aquilo que lhe aflige e que está além de suas competências... A escola impotente e omissa. A escola que ninguém quer.
Tudo errado. Tudo errado. E a gente lá, assistindo e concordando. Pior, tendo a ideia de fazer o mesmo, de comprar uma câmera nova para o nosso filho. Há escolas que registram em seus Regimentos a proibição do uso de aparelhos celulares. E os alunos andam pelos corredores infringindo a lei e...?
Que nos sirva de lição a brincadeira, pelo menos: podemos começar a repensar os valores que andam implícitos no nosso currículo oculto. Porque, certamente, estamos fazendo muita coisa errada, se observarmos que, de um dia para o outro, ficamos expostos, à mercê de um “rec” na câmera...
Ou então, no final, isto tudo acaba num novo BBB, com professores, equipe técnico-administrativo-pedagógica e responsáveis concorrendo a milhões de reais, conforme forem atingindo pontos num ibope da televisão.
Vai ver, a intenção é esta. Quer saber? Fala sério!

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