quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Caio, Marcello, Antônio e Cia.

(Eles estão muito acima de nós, embora ainda os enxerguemos tão pequenininhos! Estão vivendo e, se são felizes, resta-nos agradecer a Deus...)


Desde que li aquele recado não penso noutra coisa. Ele escreveu mais ou menos assim: “Agora é oficial. Estou partindo para a Patagônia!

Eu corri ao Google, esquecendo-me de que sou professora (Antônio me diz que tenho que saber tudo porque sou professora!), para confirmar minhas suspeitas. Sim, a Patagônia fica mesmo na Argentina e no Chile. E Caio quer ir pra lá, porque quer escalar montanhas, certamente.

Marcello, noutro dia, esteve num balão. Num balão de verdade! E eu fico olhando as fotografias e imaginando um Antônio homem feito, grudado a uma pedra que não tem mais fim de tão alta ou dentro de um balão, acenando, subindo...

São onze horas da noite e, quando me levantei da cama para escrever aqui, deixei um menininho sonhando. Antônio sonha com seus heróis preferidos. Acorda me contando das aventuras – inventa muito mais do que aquilo que realmente sonhou, se é que sonhou! – de cada um. Ficamos durante muito tempo sentados à mesa do café compartilhando as suas histórias. E agora, depois que li o que Caio escreveu, espero pelo dia em que meu filho sonhe com uma montanha gigantesca ou com uma viagem num balão.

Eu sou o passado de Jussara, Glória, Janaina, Francisco, Nícia, e de tantos amigos que enxergam em Antônio seus filhos que hoje já são adolescentes, adultos. Eles, os meus amigos, são o meu futuro. E é confuso este sentimento que hoje a internet nos permite de trazer tão simultaneamente todos os tempos de volta. Caio foi meu aluno. Um menino de nove ou dez anos. Hoje está com as mochilas prontas para traduzir em felicidade o seu sonho. Antigamente suas mochilas carregavam os cadernos de Matemática, uns lápis, e uns brinquedos para a hora do recreio. Hoje carregam o material necessário para ver o mundo numa perspectiva completamente diferente da minha. Como será o mundo do alto de um monte? Como será o mundo do alto de um balão?

Esperei Antônio adormecer para vir aqui. Acariciei-lhe a cabeça suavemente, para não despertá-lo. Agradeci a Deus por ele estar perto de mim. E o que me diferencia dos amigos que citei lá em cima é somente o fato de que meu menino tem seis anos. Aconteceu de eu ser mãe mais tarde, agora fico vendo pelos olhos deles o que meu coração ainda vai ter que aguentar!

Meus olhos congelaram o “status” de um rapaz de vinte e poucos anos. Quando li, meu coração me remeteu imediatamente à Jussara, sua mãe. Fui Jussara por alguns instantes. Tentei sentir medo, não consegui. Tentei me desesperar, não consegui. Tudo o que senti foi uma alegria imensa e um orgulho, também sem tamanho. Imagino que esteja assim o coração da mãe do meu aluno. Como sei, ficam assim, orgulhosos – ainda que palpitantes – os corações do grupo de pais, lá. Glória se declara virtualmente, todo mundo sofre, ri, chora com ela. Hoje, está todo mundo que a conhece com saudades do Marcello. Janaina, Nícia e Francisco vêm, sempre, com a palavra que completa as minhas reticências, e olha que não as economizo! Sabem do que há à frente, porque já estão lá.

Sei que não posso, mas eu queria, neste momento, com este texto, acolher a todos. Queria abençoar a Caio, Marcello, Antônio e companhia. Dizer-lhes que viver é justamente isto: aproveitar oportunidades, fazer o bem, tentar ser feliz. E que isto só acontece plenamente quando se honra a pai e mãe. Queria abraçar Jussara e Glória de maneira tal, que minhas palavras escritas penetrassem seus corações, trazendo-lhes conforto. E dizer pra todos os meus amigos que agora avistam seus filhos sob novo ângulo, que Antônio está aqui, na fila, crescendo, e que nada será diferente, porque esta é, verdadeiramente, a ordem natural das coisas.

Talvez tenhamos pensado errado todo este tempo. Talvez as montanhas tenham sido criadas por Deus para que o homem provasse sua inteligência, sua perspicácia, sua valentia! Talvez o balão seja o veículo do futuro. E talvez um dia gerações riam do medo que sentiam as mães dos desbravadores e aventureiros.

E tudo o que me resta agora é ajoelhar-me junto à cama e pedir a Deus para ser mãe na mesma medida que vocês, minhas amigas – e alguns amigos também – foram/são. Pedir a Deus que me abençoe e auxilie na missão de criar meu homenzinho, para que ele se torne um desbravador, um aventureiro. Para que faça diferença por onde passe, para que trabalhe, seja justo, honesto, bom. Para que viaje o mundo, amplie seus conhecimentos, torne-se inteligente, culto, sábio, e da mesma forma humano o bastante para saber enxergar ao seu próximo a ponto de amá-lo. Para que experimente o amor, com todos os sofrimentos que lhe são inerentes, e que, tendo sofrido e aprendido, forme sua família, e que tenha seus próprios filhos e netos, porque o mundo é grande demais, há muito o que se descobrir ainda, e a fila não pode parar. É Caio, na foto. O próprio.

9 comentários:

  1. Amiga tão querida,mais uma vez a emoção toma conta de mim...é assim mesmo,descreveu sabiamente o tão ímpar sentimento de "gostar dos filhos",descobrindo-se mudando a cada dia ,acertando,errando.Eu tenho um mochileiro desbravador sim,que me fez conhecer vários pedaços desse mundão,porque eu "embarcava/embarco nos sonhos dele rsrs!!! Nas palavras de Artur da Távola,em seu livro Mevitevendo (amooo)"gostar do filho é permitir-lhe o vôo,no máximo ensinando-o a distinguir ninho da arapuca.Gostar do filho é amar a liberdade,mas ter medo da dele,mesmo permitindo-a!!!Hoje meu Marcello "pousou pelas bandas da Califórnia,em San Francisco como profissional respeitado...mais um sonho conquistado e "permitido" por essa mãe que continua alçando altos vôos ...obrigadaaaa minha poetamiga!!

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  2. Me acabei amiga. Não tô podendo ler estas coisas. A grande dificuldade disso meu bem é que ao contrário do que o Antônio pensa (e a nossa pretensão espera), nós mães/professoras não sabemos tudo, porque não vivemos tudo. Um dia sua filha/filho chega pra você com uma angústia por um sofrimento que você não viveu, uma montanha que você só viu em fotos, um frio no coração que você nunca sentiu e daí, você que sempre teve o dom da palavra descobre que não sabe o que dizer. E ela/ele não cabe mais no seu colo, e você não pode mais fazer um curativo em formato de microfone pra transformar a dor em brincadeira e ver um sorriso no meio das lágrimas. Daí eles se vão sem que você tenha dito nada, ou com você dizendo o que eles não queriam ouvir e seu ninho fica vazio. Meu filho se casou, minha filha vai embora este mês, meus alunos são adultos. Que bom que as aulas não demoram a começar e outras crianças virão. Pintei os cabelos e até as sobrancelhas. Vamos tentando enganar o tempo...

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    1. Importa é que eles voltam, Janaina, como Caio prometeu voltar para o colo de Jussara. Eles voltam, mesmo sabendo - melhor que nós! - que na maioria não temos nada pra dizer. :)

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  3. Jussara Martins Gomes: Karla Pontes, isso é uma baita covardia, pensei que você já tinha parado com essa sua mania de fazer a gente chorar, lembra das festas de dia das mães e final do ano, rsrsrsrsrsrsr. Esse seu texto é uma poesia e um acalanto para o meu coração. Saber que tem tanta gente emanando energia boa para o Caio é uma alegria muito grande! Estou muito orgulhosa dele e feliz por ele, mas o coração está pequenininho rs, mas só posso no momento entregar a vida dele a Deus, pois tenho certeza que ele estará sempre com ele sendo os meus olhos e meus braços. Obrigada amiga pelo carinho e desejo tudo de melhor para o Antônio! Caio Gomes, vou cobrar a promessa de voltar para o colinho da mamãe, rs. Te amo muito filho! Beijinhos Karlinha e sinta-se abraçada bem forte tá?

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    1. Recebi o abraço, Jussara, obrigada! Feliz de vc, que pode ter a certeza de que Caio estará nas mãos de Deus. Fez o seu papel. Agora, tá na vez dele! Bjs.

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  4. É Karla Pontes....Nós amamos e educamos.....Filhos são como navios, vc viu a mensagem....como é difíl soltar as amarras!!!Bjs.

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  5. Tia Carla, que lindo!! Não foi uma homenagem só pro Caio, mas às mães também! Quero ser mãe assim, como essas que você descreveu, como você e como a minha mãe, a qual também suportou minha saída de casa quando eu tinha 19 anos! Saí para estudar viver o meu grande amor, hoje, meu marido! E a gente sempre volta! Agora estou aqui decorando meu apartamento que comprei no mesmo bairro que o dela! Muita sorte e realizações pro Caio!! E muitas outras inspirações para que você continue escrevendo assim, com essa simplicidade e naturalidade tocante que preenche nossa alma! Bjs!

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    1. Minha querida, Nathalia...
      Hoje venho recebendo, dia após dia, as bênçãos de Deus me confirmando de que fiz o que mais amava nesta vida: lecionar!
      Seu testemunho como filha, mulher, mãe, companheira, aluna, amiga me deixaram emocionada! Deus a abençoe! Obrigada pelo carinho!!! :)

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