(Uma tentativa de descrever meu sentimento por Antônio, como se fosse possível!)
Ele está dormindo, agora.
Corpo espalhado na cama, cansaço compensado, vigiado pelos anjinhos que sempre,
antes de pegar no sono, pede a Deus que envie para protegê-lo.
Eu o amo.
Indescritível, esse amor de
mãe. Ainda que eu registre todas as palavras que o teclado do notebook me
permite, jamais conseguiria definir o que é isto que a gente sente por um
filho!
Quando abri o resultado do
exame, me apaixonei por ele. Aliás, acho que já o amava quando estiquei o braço
para a agulhada! Depois, quando a ultrassonografia definiu as treze semanas,
sofri por não ter aproveitado melhor o início da gravidez. E pedi perdão a ele
pela falta de carinho, por deitar de bruços na praia...
Amo Antônio! Desde que
descobri que ele estava em mim. Já sabia ser um menino, já conseguia vê-lo, tal
como nasceu: branquinho, de olhos e cabelos escuros. Já previa-lhe o nome, que
significa “inestimável”!
Hoje tenho em casa um menino
de sete anos. Tenho um amigo, um parceiro. Dessa nossa convivência – nada fácil
para uma mulher que vivia sozinha e que foi mãe aos trinta e sete anos! –
surgiu um compromisso: somos a nossa família. Ele, extremamente responsável por
mim, arriscaria dizer até que mais do que eu por ele...
Sua dor é minha. Graças a
Deus, quase nunca adoece. Mas, se o percebo prostrado, quieto, sinto o coração
atravessado por uma espada. Meu menino não é de tristezas, a não ser que o “homem
das águas não consiga eliminar as forças do mal que atacam os dinossauros
aquáticos”, ou qualquer outra coisa parecida. E, se o rosto manifesta
seriedade, fico inquieta, angustiada por saber o que tem. Uma “barriguinha”
doendo, um corte no joelho, umas bolotinhas espalhadas pelo corpo depois da
picada de um inseto e, pronto, eis uma Karla acabada: não sou nada sem Antônio!
Como descrever um sentimento
como este? Há sete anos minha vida transcorria daquela forma que eu julgava
normal. Tudo em ordem em casa. Rotina decorada, inalterável. E, repentinamente, Deus me envia um garotinho
que põe por terra tudo o que eu julgava dominar.
Filhos desordenam a vida da
gente. Nada na minha casa (na minha vida!) ficou no lugar, desde que ele
nasceu. Pouquíssimas regras puderam ser mantidas. E percebi que teria que conviver
com mais alguém em casa. E tudo o que, a princípio me causou estranheza,
dúvida, medo, passou a ser razão de alegria e orgulho. Durante esses sete anos
fomos/estamos aprendendo a lidar um com o outro, e é impressionante como o amor
só aumenta. Agora mesmo, olhando para ele dormindo na cama, sinto que meu amor
é maior do que o de ontem, quando lhe desejei “boa noite”.
Hoje é domingo, temos o dia
pela frente. Respeito-lhe o sono. Daqui a pouco ele acordará. Às vezes vem
devagar, silenciosamente, e me surpreende com um abraço. Cai na gargalhada
quando eu me assusto. Aí a gente se abraça e eu sempre sou a última a me
desprender...
Graças a Deus tive Antônio
aos trinta e sete anos! Até que ele cresça e resolva trocar os meus braços por
outros, já estarei bem mais velha. Sim, bem mais velha, porque mãe eterniza o
tempo, não acreditaria se alguém me dissesse agora que “passa rápido demais!” Eu já contei do meu desejo de apertar a tecla
pause do tempo, não contei?
Meu coração sabe-lhe as
dores, as preocupações, os temores, as alegrias, as tristezas, as emoções. Como
ele mesmo diz, eu sei de todas as coisas. Não sei como isto acontece, mas sei.
E venho percebendo que ele também sabe das minhas. Pergunta-me se estou bem,
exatamente naqueles dias em que não estou. Há uns meses me viu chorar. Eu
estava debruçada na janela do banheiro, imaginei-me escondida... Que nada! Lá
estava Antônio, com as mãos estendidas secando minhas lágrimas e me perguntando
o que estava acontecendo. Até hoje ele se lembra disto. Seu coraçãozinho não se
esqueceu. Acho que descobriu que mães sofrem, também.
Eu sou força, para ele. Quase
a Mulher Maravilha! Faço o serviço de casa, o levo para a escola, vou buscá-lo,
trabalho fora, pago as contas, apago as luzes, controlo o tempo no chuveiro,
preparo-lhe o almoço preferido, o suco mais gostoso, o lanche predileto. No
final, quando o dia termina, é nos meus braços que ele adormece. Eu lhe digo “durma
com Deus” e ele me responde “dorme com Deus você também”. Nada mais é
necessário. Muitas vezes choro quietinha, depois que ele me diz isso. Sinto
Deus me abençoando, é muita emoção.
Em 1º de fevereiro de 2006
conheci o amor de verdade. Neste dia entendi meus pais. Quando Antônio reage às
minhas posturas de “mãe brava”, vejo que estou no caminho certo. Porque mãe
sempre duvida, sempre se culpa e, mesmo que erre, eu creio, erra tentando
acertar. Então, quando o vejo fazer bico, cara de zangado quando lhe nego algum
pedido, lembro-me imediatamente dos meus pais. Agora sei. Agora entendo tudo. E
perdoo, na mesma medida em que peço perdão.
Tem um menino dormindo na
minha cama, ainda. Espalhado, braços e pernas abertos, toma todo o espaço. E
ainda nem cresceu o tanto que seu corpo promete! Meu menino anda às voltas de
um dentinho mole, que indica uma nova janelinha. E voltamos àquela conferência
diária, para ver quando isto se dará. Fica apreensivo, porque eu estou
apreensiva. Coisas de mãe! Estamos esperando a visita da Fada dos Dentes...
De janelinha em janelinha vai
vivendo, crescendo, tecendo a vida que é dele. Já toma algumas decisões sozinho.
Já está mais independente. Eu, de minha parte, sigo ao lado (à frente, atrás,
em cima, embaixo...) aparando arestas, apontando-lhe os perigos que o esperam
lá na frente, acreditando que posso evitar que sofra. Na verdade, revelando um
segredo agora, eu quero mesmo é que esses tais perigos já não existam mais
quando Antônio crescer.
De janelinha em janelinha vou
eu vivendo, envelhecendo, dando-lhe passagem para a vida. Conheço os “lá na frente”
todos, e tento sinalizar-lhe os cuidados. Minha vida vai passando, vou me
despedindo, e nem ligo, porque meu amor de mãe me preenche de tal forma que de
nada mais preciso.
Eu queria ter descrito aqui,
nestas linhas, o que é, ou como é o amor de mãe. Olhando para os parágrafos
acima, vejo que não consegui. Mas o texto está pronto, e é o registro de tudo o
que somos um para o outro. Cada um ama de um jeito, cada um retribui o amor que
recebe de um jeito. Vivo minha vida assim, com Antônio. E sou infinitamente
grata a Deus pelo presente que recebi quando aquela folha de papel do
laboratório se abriu em minhas mãos e me assustou com o salto da palavra
POSITIVO. Minha vida estava só começando, ali, e eu nem sabia! Obrigada, Senhor!
Como escreveu Augusto Cury:
ResponderExcluirHá dois tipos de sonhos.
Primeiro, os sonhos produzidos quando mergulhamos no sono. Sinto que o AMOR DE MÃE seria o segundo.
Segundo, os sonhos que produzimos quando estamos acordados, vivendo as batalhas da existência, sentindo a vida que pulsa em nosso dia-adia.Parabéns pelo texto amiga!
É mesmo um sonho ser mãe. Obrigada, Nícia!
ExcluirO amor de Mãe é indescritível! Só quem é MÃE sabe e sente esta mistura de êxtase, orgulho, medo...Lindo seu texto!
ResponderExcluirObrigada, Cleuza! :)
ExcluirLindo demais...retrata fielmente nossos sentimentos de mãe...e os anos vão passando mas continuamos a rogar aos anjinhos que os acompanhem.Levou-me às lágrimas,mais uma vez,minha poeta linda!!!
ResponderExcluirAinda bem que sei que suas lágrimas são de felicidade... Bjs, Glorinha!!!
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