sábado, 28 de janeiro de 2012

Marli

(Alguém aí conhece Dona Marli, a Diretora da Escola...? Eu conheço. Ela está aqui, no texto de hoje. E as semelhanças não são mera coincidência...)

Eu a conheci há doze anos. E passei a ser só mais uma dentre tantos – quiçá todos – que a conheciam aqui em Iguaba Grande. Marli, a Diretora da Escola (aqui na cidade as pessoas trazem consigo uma referência. A de Marli é a de ser Diretora).
Uma mulher maravilhosa. Sempre ao lado de sua fiel companheira de trabalho Guiomar. Aquelas duas escreveram seus nomes na história de Iguaba. Mas Marli encontrou, ao longo dos anos, já quase no final da carreira, quem a fizesse desistir.
Hoje, numa das minhas idas rotineiras ao mercado, conversei sobre Marli com uma amiga. E ficamos nos perguntando: “cadê ela?” E o que vou escrever agora é o que penso ter acontecido. Perdoe-me, Marli, se não for a verdade.
Marli desistiu de remar contra uma maré que não ia para o mesmo lado que ela. Marli adiantou sua aposentadoria, requerendo licença prêmio. Pra qualquer um isto pode soar naturalmente, mas não para quem conhece Marli de verdade.
Marli desistiu, como muitos. Iguaba perdeu muitos de seus profissionais competentes. Gente que queria fazer algo de bom, gente que queria construir. Poucos ficaram, porque bravos e insistentes guerreiros ou porque cansados ou sem oportunidades para fazê-lo.
Um erro, com o peso de um pecado, querer-se misturar política (digo desta o lado escuso) com Educação. Vaidades fazem as pessoas passarem por cima das outras sem sequer pedirem licença ou desculpas. E atravessaram aquela mulher (que tudo o que sempre soube fazer foi gerir uma Escola) de forma tão traiçoeira que teria sido mais elegante convidá-la a se retirar.
Eis meu desabafo, era só o que pretendia. Olhando pra Marli hoje vejo a mesma mulher a quem admirei quando conheci: Às vésperas de aposentar-se anda cuidando da saúde de sua mãe, agora com mais tempo e disponibilidade. Decerto dedicando-se mais, também, ao esposo, bênção recebida já quando não mais esperava (Marli deixava mãe e marido para consagrar-se ao cotidiano da Escola, ao seu escabroso papel)...
Tudo isso lhe rendeu o título de Diretora aqui em Iguaba Grande. Título que a enobrece, posto que homenageia aqueles que estão na real luta em defesa dos nossos pequenos, dos que nada têm a ver com os caprichos de quem se julga grande quando está no poder.
Perdeu Iguaba, perdemos todos. Fica, a Escola, à deriva, oferecida a todos os que acenarem com um sorriso...
O lado pobre – ou podre? – da política calou Marli. Calou a mim, também, que procurei outro lugar pra trabalhar, cansada que estava das perseguições mesquinhas... Calou a toda boa gente que hoje está fazendo o bem em outros municípios...  A dureza da política levou Madá de nós. Quem saiu ganhando neste jogo covarde?
Digo a vocês que quando encontro Marli vejo uma mulher sorridente, um tanto mais descansada, talvez. Mas não há quem me esconda o fundo dos seus olhos. E lá vejo uma tristezinha, uma saudade que não passa dos tempos de Direção.
Marli, eis-me aqui, em sua defesa. Porque ainda que o tempo passe jamais deixarei Iguaba esquecer-se de você, do bem fez aos nossos alunos cada dia que visitando as salas de aula lhes disse “bom dia”, ainda que o cumprimento precedesse a uma bronca sem tamanho. Porque educar é isto, também. E estou certa de que cada aluno que passou por suas escolas compôs-se do que você representou para eles. E foram muitos os alunos.
Quem escreveu uma história de encalços e covardia não pode apagar a história escrita por gente do bem. Se alguém me perguntar se conheço Marli direi, enquanto viver, “conheço sim, a Diretora da Escola”...

Um comentário:

  1. Que texto lindo!!Eu conheci a Marli,diretora!!
    Concordo quando discorre sobre as perdas de Iguaba;sou uma das que desistiu pela invasão da politicagem na Educação de Iguaba!
    Parabéns,Karla e Marli!

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