sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Muitos universos e uma só mochila

(Antônio carrega alguns universos na mochila dele. E eu queria saber sobre a tecla "pause" do tempo...)


Ando procurando pela tecla “pause” do tempo. Eu queria congelar Antônio.
Quase seis anos e muita inteligência, esperteza e uma vitalidade que lhe cora a boca, as bochechas e ilumina o olhar. Aqueles olhinhos de jabuticaba...
Preparei Antônio para sairmos de casa, ontem. Íamos passear. Quando já estava para entrar no carro ouvi dele um “peraí”. Antônio entrou em casa de novo. E de lá saiu com a mochila nas costas.
Na mochila de Antônio – ele a carregava nas costas com o sorriso mais lindo do mundo – havia um universo, que fui descobrindo enquanto ele tirava as coisas de dentro pra brincar no carro durante a viagem: o bonequinho “Ben 10”, umas duas tampinhas de garrafas, algumas peças de montar, um carrinho que já não tem uma das rodas, um bonequinho da turma do “Era do Gelo”, uma tesourinha, o meu funil e o meu descascador de batatas. Ah, tinha também o fixador do chuveirinho, que ele conseguiu, “sem querer”, retirar da parede do box.
Antônio fez a viagem, nos primeiros minutos, observando atentamente a janela do carro. Cara séria, testa franzida por conta do vento. “No que será que está pensando este menino?” dizia eu para mim mesma, talvez mais preocupada em saber dos pensamentos dele do que com o trânsito nas ruas. De vez em quando eu lhe perguntava se estava tudo bem. Ele acenava um “sim” com a cabeça.
Depois de observar o caminho e de muito refletir, Antônio decidiu brincar no banco do carro. E lançou mão de sua mochila mágica, guardadora do universo! Retirou os brinquedos, separou com absoluta convicção os “seres do bem” e os “monstros do mal” e começou a brincar. Às vezes os heróis precisavam fazer muitas estripulias para salvar a humanidade e, aí, eu sentia algumas pequenas pancadinhas na cabeça...
Antônio é só uma criança, e já me ensina tanto! No sinal vermelho do trânsito olho pra ele pelo espelho retrovisor. Ele me olha. Nada dizemos. Sorrimos. O sinal verde anuncia que é hora de cortar o cordão. Volto a dirigir, torcendo para encontrar um novo sinal fechado à frente.
Aqueles objetos da mochila vão alternando suas funções se a viagem é demorada. Tudo pode acontecer com seis ou sete coisas que são pegas na hora do “peraí”... E quando há cansaço, a janela é novamente o convite. E lá recomeçam os pensamentos que eu – por Deus! – queria tanto saber quais são. Mas eu não pergunto isto a Antônio. Deixo-o só. Respeito. Quando dou sorte, ele faz uma pergunta (“Mãe, como os homens fazem os videogames?”, “Mãe, por que existem as baratas?”, “Mãe, como as vozes das pessoas saem no celular?”, “Mãe...), e aí descubro em que estava pensando. Mas não é sempre, é quase nunca.
Eu também tenho uma pergunta pra fazer: Como é que se aperta a tecla pause do tempo? Quando Antônio crescer, já não será mais de universos a mochila composta. Quando viajar comigo, talvez queira assumir o volante. E na viagem pouco saberá dos meus pensamentos... Um consolo: pode ser que nos olhemos, ainda, fixamente, durante o vermelho dos sinais.
Ele está dormindo agora, enquanto escrevo. Quando acordar, vai me abraçar, vai querer contar-me sobre os seus sonhos. Eles sempre estão lá, os heróis da mochila do dia. Eu e ele vamos nos sentar no sofá e participar de mais uma grande aventura! E eu, juro por Deus, estou louca para que essa hora chegue, porque enquanto não consigo apertar o pause do tempo posso manter minhas mãos no replay... enquanto Deus permitir.

8 comentários:

  1. É incrível o que sentimos por nossos filhos... Só quem tem um filho pode entender. Deus abençoe a união de vocês dois, minha amiga! Parabéns pelo texto.

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    1. Amém. É tudo o que peço a Ele...
      Obrigada eu a você, amigo!

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  2. Tenho acompanhado seu blog.Confesso estar encantada!Tenho um neto da idade do seu filho Antonio e outro de 9 meses,são meus amores! Esse universo em uma mochila existe de verdade! heheh.
    Parabéns, vc escreve muitíssimo bem, adoro ler!
    Rosane.

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    1. Obrigada, Rita! Que surpresa boa tê-la por aqui!...
      Fique, a casa é sua! ;)

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  3. É amiga a tecla pause não existe!!!
    As mochilas que minhas filhas hoje levam para dentro do carro são recheadas de roupas e outros objetos para o final de semana com os namorados. Os assuntos nãos são mais os brinquedos....são situações que já até passamos e fico a pensar será que elas irão seguir meus conselhos? Os finais de semana são cada vez mais terríveis.....sem a presença delas!!!Enquanto a tempo amiga Karla Pontes aproveite o Replay.

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    1. Acho que nos preocuparemos SEMPRE em saber se nossos filhos seguirão nossos conselhos...
      Obrigada, Nícia! Seu depoimento é emocionante!

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  4. Mais um dos bons e que tratam dos filhos...ah se não os temos como sabê-los?!Minha poeta,vejo em seu Antonio o meu Marcello e sua mochila (sim,ele faz parte dos mochileiros!!aventureiros!!)e quantas vezes quis que existisse o pause embora incentivando o "go on"!!Cultivei um belo amigo (vc tb o terá) e como é bom ativar a tecla replay!!acertos, erros,perdas,ganhos=VIDA!!
    Parabénssss e obrigada pelo deleite!

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    1. Sem palavras, Glorinha...
      Emocionada. Vamos ver o que ainda vem por aí.
      Obrigada! :)

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