sábado, 4 de fevereiro de 2012

Espetáculo

(Todos os dias temos um espetáculo para assistir: Deus nos brinda com a presença do Sol. Mas não é todo mundo que vê.)


Somos tão diferentes na rotina do nosso dia-a-dia!
Cada um de nós acorda de um jeito, numa determinada hora, em algum lugar e tem algo para fazer. Seguindo o roteiro de nossas atividades predeterminadas, em algum momento acabamos nos encontrando: pelas ruas, no trânsito da cidade, na padaria, na banca de jornais, na escola, no trabalho... E, preocupados em darmos conta do que teremos para o dia, mal nos observamos. Quando temos sorte, ouvimos um “pra você também” como resposta a um “bom dia!” (quando lembramos de dizê-lo).
Nosso dia começa, e ele está lá: O rei. O Sol!
Que belo presente Deus nos deu quando resolveu que a natureza seria companheira dos indivíduos! Mas Deus demonstrou sua misericórdia com o homem quando lhe ofereceu o Sol.
Nas nossas idas e vindas mal nos damos conta da presença dele. Por muitas vezes até reclamamos quando seu brilho penetra a escuridão do quarto, a despeito das janelas fechadas. “Maldita janela empenada”, reclamamos, quase blasfemando. Ou quando seu calor aquece demais, em tempos em que tudo o que queríamos era um lugar fresco para ficar. Mas a maravilha do nascer e do pôr-do-sol é algo que cala a qualquer um. E se temos uns minutinhos do dia para observarmos isto, havemos de dar Graças a Deus.
Ele nasce e brilha todos os dias. Inclusive naqueles sombrios onde nuvens pesadas insistem em escondê-lo de nós. E nasce pra todo mundo.
E eu não paro de pensar nisto. Não há ricos ou pobres, feios ou bonitos, bons ou maus, escolhidos para assistir ao espetáculo: todo dia tem no céu um Sol acolhedor, que brilha intensamente para qualquer tipo de pessoa. Ele está lá, enquanto trabalhamos, enquanto estudamos, enquanto damos conta da agenda do dia. Está lá, como se fosse o próprio Deus nos abençoando, nos acalentando, nos dizendo que não se esqueceu de nós.
Está lá e não nos pede um centavo pelo show.
Está lá apresentando sua magnitude para os detentos dos presídios que o enxergam num prisma, porque limitado, talvez diferente do nosso. Também eles têm seus momentos (garantidos pelos direitos do homem!) de vê-lo em sua plenitude... Talvez seja essa a hora de suas orações mais sinceras... Sentindo o corpo aquecido, como num abraço... Talvez o Sol seja o perdão dos pecadores que estão lá, arrependidos ou a arrependerem-se. O Sol brilha sobre as cadeias como sobre nossas casas. Acorda detentos nas celas com raios que desrespeitam as janelas, como as do nosso quarto.
O brilho do Sol acorda os bêbados, os mendigos, os que não têm um lar. Acorda os dependentes, que passaram a noite fugindo de suas verdades... E com o mesmo “abraço” os acolhe, como que dizendo: “Eis um novo dia, que tal pensar em mudar?”
Enquanto estamos na praia (ou nas belas piscinas de nossas casas) curtindo o Sol que nos doura o corpo, os doentes em estado terminal aquecem-se e alimentam-se dele. O carinho de seus raios lhe dá motivação, alegria, mais expectativa de vida.
Todos os animais são presenteados com o espetáculo da presença do Sol. Aqueles que largamos às ruas são até privilegiados pois, trancados em suas correntes, os das perigosas e caras raças às vezes o vêem em parte. Deus não faz diferença: o ser humano não vê o Sol melhor que eles. Todos podemos ver o astro: homens, animais e plantas.
Quando vai-se embora deixa esta bela imagem em nossa retina: deitando-se por detrás das montanhas ou no leito do mar, descansa. Finda seu trabalho. E ainda que pensemos que adormece, dá aos nossos companheiros do outro lado do planeta a oportunidade de viverem mais um dia. De recomeçarem.
Agimos errado quando julgamos sermos pessoas diferentes (há quem se julgue até melhor do que os outros!). Para isto, Deus nos dá a maior prova de que é um erro pensar assim: Deus nos dá o Sol.
O espetáculo é saber que o dia nasce. É saber que as oportunidades estarão lá, a nossa espera. É saber que há tempo, talvez vinte e quatro horas, para se fazer alguma coisa de bom. Saber que tanto nós quanto o que pensamos ser as piores criaturas do mundo estão recebendo o presente que nada mais significa do que o perdão de Deus pelos erros de ontem e a chance de mudar, de renascer.
Ninguém abre os olhos numa manhã de Sol sem se lembrar de Deus. Se o faz, está perdendo a chance de um maravilhoso encontro. E não há selecionados. Deus convida a todo mundo para Seu abraço acalorado...
Quando sair de casa, ao passar por alguém deseje-lhe este bom dia: o bom dia de Sol, o bom dia do perdão, o bom dia do recomeço... E veja se também o seu não será diferente...
Inspire o ar aquecido sem reclamar. Inspire fundo. Há quem já não o faça mais. Abençoados somos por sermos acordados por aqueles raios lá no nosso quarto – sinal de que vivemos! Não conserte o empenado das janelas. Conserte-se a si mesmo. Lembre-se de que quem tem tão pouco – ou nada tem – assiste ao espetáculo tanto quanto você. Porque Deus é bom. E ainda não desistiu de nós.
O Sol brilha quando estamos felizes, e quando estamos tristes também. Brilha até quando nos despedimos de alguém que perdemos. Brilha pra nos lembrar que dele somos dignos. Todo mundo é digno. E em meio a todos os que Deus julga merecedores estamos nós, do jeito que somos.
Todo mundo é diferente e, no entanto, todo mundo recebe o presente, porque todo mundo merece. Só não assiste ao espetáculo, quem não quer.

2 comentários:

  1. Adorei você comparar o sol a Deus! Nossa nunca tinha pensado nisso, não no Deus Sol mas no sol Deus que mesmo escondido nos aquece. Lindo...

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    1. Agora fica ainda mais fácil sentir a presença de Deus em nossa vida. Concorda? Bjs.

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