domingo, 26 de fevereiro de 2012

Você e ele, ele e eu, eu e você

(Antônio tem pai e mãe. Antônio tem família. E é amado por ela!)


Hoje você levou meu filho à praia, deixou-me em casa morrendo de ciúmes.
Eu fiquei aqui, pela metade, como fico todas as vezes em que estou sem ele, sem aquele pequeno que é maior que esta casa onde mora comigo.
Ouço o eco de minhas próprias ações. Abro e fecho a geladeira, como se fosse a hora de alimentá-lo. Vou e volto à sala, procurando pela bagunça que me traz a alegria da certeza de que ele está por perto.
Entristeço egoistamente. Hoje é dia de Antônio ser seu.
Preciso lhe dizer que você é o melhor amigo de Antônio. Todos os dias, quando acordamos ou quando deitamos para dormir, Antônio agradece a Deus por você existir.
Somos responsáveis pelas consequências das escolhas que fazemos pela vida afora. Uma dessas consequências – ou dessas escolhas – fez com que Antônio não experimentasse viver em família, comigo e com você. Mas sempre tive tanto medo de magoá-lo, quis sempre tanto evitar que algo de ruim acontecesse ao meu menino que evitei que ele presenciasse e sofresse a hora do adeus. Se esse adeus aconteceria... Eu não sei.
Mas algo me conforta o coração e me deixa quase convencida de que fiz a coisa certa: Antônio experimenta do que pode, e com amor.
Hoje vocês dois estão juntos – homens da minha vida! – curtindo um dia de sol e pescaria. Meu filho (é tão difícil dizer nosso!) saiu de casa na carona do seu carro, feliz da vida, gritando um “te amo, mãe!” como quem me dissesse para não me preocupar, como quem me garantisse a volta pros meus braços.
A vida de Antônio é dele, mas a missão de torná-la feliz é nossa. Ao menos, por enquanto. Hoje o dia será grandioso pra ele, porque estará com seu pai, seu herói de verdade. Qualquer desenho animado, qualquer DVD inédito, qualquer jogo do computador perde a vez quando você chega e sorri pra ele no portão. Se lhe diz “vamos!”, então... O que lhe resta mais assistir, se o homem que enfrenta todos os perigos por ele está bem à sua frente?
É uma vida um tanto truncada, mas é a que lhe podemos oferecer. Vamos, então, fazer a nossa parte da melhor maneira possível. Antônio sabe que é amado, sabe do respeito que temos um pelo outro, sabe da importância que tenho em sua vida como da que você tem na minha, uma vez que me proporcionou essa oportunidade de passar o resto dos meus dias – porque eu hei de passar, se Deus quiser! – cuidando desse presente divino que ele é.
Tudo o que há de lindo em nosso filho (agora saiu!) é nosso também. Veio da combinação do que há em nós dois: eu aprendi a amar Antônio no momento em que soube dele, mas quando estive com ele nos meus braços foi você quem me ensinou a demonstrar esse afeto. Eu não havia aprendido isto, porque nunca havia experimentado este materializar dos sentimentos. Aprendi com você a dizer “eu te amo”, a fazer carinho nele... Hoje Antônio é um menino extremamente carinhoso e dedicado, devo isto a quem?
Nosso bom-senso-de-humor (essa palavra não existe) invadiu o espírito do nosso menino, e hoje por várias vezes caímos na gargalhada com as suas tiradas sábias e rápidas (isto ele herdou de quem?) diante de uma situação corriqueira. Nossos sorrisos se confundem todos na hora mais abençoada, que é a da brincadeira a três.
Hoje ele está com você, e eu permito, e abençoo este momento, embora com o coração diminuído, coisa de uma mãe de carne e osso. Porque é importante para o crescimento dele esse passar o dia em companhia do pai. Aprender os truques de se tornar um homem de verdade, ainda que isto signifique também observar as meninas bonitas na praia...
Você foi o homem da minha vida quando por você Deus me deu Antônio. Antônio é o homem da minha vida, agora. Com direito, inclusive, à toalha molhada em cima da cama. E eu devo minha vida a grandes homens: a meu pai, a você e a Antônio.
Maravilhosa sensação de ciúmes! Imagino o cenário: você e ele na praia, os pescadores, os barquinhos, as gaivotas afoitas pelo que sobra dos peixes, o sol, o vento, e tudo o que ele está vivendo, criança inocente que é.
Daqui a pouco (acho que ainda vai demorar um bocado) ele me gritará, anunciando a chegada. Estará vermelhinho, a despeito do FPS 60 com que lhe besuntei o corpo.  O corado se revelará por conta da alegria no seu coração, que sentirei palpitante quando apertar contra o meu. E verei você feliz, também, sorridente, todo prosa, lambendo a cria, orgulhoso pela parte que lhe coube no resultado maravilhoso da existência de Antônio.
É a família que podemos dar a ele, certo? Então, que Deus nos abençoe, e que continue nos iluminando nas horas tão difíceis de cumprirmos a tarefa de educá-lo. Que possamos ter discernimento para que o julgamento dele a respeito de nossas atitudes seja preenchido de amor. E que seu amor nos perdoe os erros, as covardias, os temores.
Quero criar meu-nosso filho para amar e perdoar. E sei que tenho conseguido avançar muito, Antônio é um menino espetacular! Dono de um coração que não tem tamanho. Pleno de bondade e generosidade, virtudes tão pouco vistas hoje em dia.
Se nossa história não seguiu um caminho convencional, pouco importa agora. Convém que prossigamos, oferecendo a ele tudo o que uma família pode oferecer de melhor: este amor em abundância que lhe damos, esta sinceridade no olhar cada vez que a conversa é séria, os limites que lhe garantirão saber até onde ir futuramente, a certeza de que estaremos aqui todas as vezes que ele precisar que estejamos. O que passar disto, está nas mãos de Deus. E se foi o próprio Deus quem nos enviou Antônio e nos delegou o dever de fazer dele um grande homem, um homem dEle, Ele não há de nos desamparar quando fraquejarmos. Para isto nos deu, um ao outro. Formou-nos família. Se moramos ou não sob o mesmo teto, isto pode ser somente um detalhe. Façamos nossa parte, pro nosso menino poder ser feliz.

8 comentários:

  1. Nossa Karla, fiquei muito emocionada. Esse blog tem sido espetacular na arte de amadurecimento e reflexão para todos nós. Deus abençoe você por dividir com o mundo as suas entranhas, as suas angústias e as suas vitórias. Parabéns!!!

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    1. É, amiga... Alguns julgam exposição demais. Eu, desabafo, partilha. Eu recebo a bênção. Obrigada.

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  2. Que lindo texto! Cheio de vida e emoção. Desejo sinceramente que a inspiração continue a contemplar-lhe, amiga! Quando leio um texto seu, já fico desejando ler o próximo.
    Grande abraço!!!

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    1. Obrigada, Fernanda! Pela intimidade - do assunto e nossa - recebo sua crítica como bênção. O próximo já está a caminho...

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  3. Putz, Karla... Que carga de emoção, já sabe q chorei, né?!? rs Parabéns por tão nobres sentimentos e, sobretudo, por conseguir expressá-los de forma tão leve, verdadeira e emocionante.. Já disse q sou sua fã???????? rsrsrs Te adoro, amiga e me orgulho muito de nossa amizade! Beijinhosss

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    1. Que bom que tenho conseguido expressar esses sentimentos todos que habitam dentro de mim!!! Obrigada pelo carinho, Anna Paula!

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  4. Karla a cada texto que eu leio é uma lição de vida,poucas pessoas tem esse dom lindo que vc tem que é essa entimidade para se expressar!!! E através dela podermos aprender a ser um ser humano melhor e aproveitar os momentos únicos que acontecem em nossas vidas... Nossa é adrenalina pura,bjs!

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    1. Se eu estiver ajudando alguém a viver melhor a vida, já está valendo a pena. O propósito é este, mesmo, o de partilhar as experiências que vivo. Adrenalina pura! Rs.

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