sábado, 10 de março de 2012

Feliz reencontro

(Reencontrar meus ex-alunos depois de tanto tempo, e sentir o mesmo afeto como se a despedida tivesse sido ontem deu origem a novo texto.)


Eu estava perdida nos meus pensamentos tristes de que nada havia dado certo nas minhas coisas de amor. Mas Deus não gosta de me ver triste, e presenteou-me com um reencontro comigo mesma. Obrigada, Senhor!
Há dias tenho recebido presentes pelo facebook: tenho recebido uns jovens alegres, cheios de vida, de beleza e de atitude! Meus meninos e meninas – tão preciosos! – têm retornado pro meu coração...
Eu brinquei com as palavras no texto anterior, confusa que fiquei, tomada pela emoção de encontrar-me no retrato de minha mãe. O profundo mistério do tempo instalou-se nos meus pensamentos, nos meus sentimentos, eu me embaralhei, e quase já não sabia em que tempo estava. E Deus, soberano, atento às minhas angústias, veio consolar-me, trazendo de volta um passado em que fui tão feliz: os meus dias no Colégio Daflon Ferraz, os meus dias na Espaço Aberto Escola.
Em 1990 comecei a trabalhar no Daflon. Turmas de primeira e segunda séries. Turnos da manhã e da tarde. Crianças de sete, oito anos. Trabalhei no Daflon até 1995. Foram mais de dez turmas. E, aos poucos, eles chegam até a mim, hoje, em 2012, vinte e dois anos depois, com o mesmo carinho, recordando-se dos detalhes, mas, principalmente – e o que me deixa mais feliz – do amor que sentíamos um pelo outro.
O mesmo acontece com o pessoal da EAE: uma amizade nos uniu naqueles anos de trabalho, que foram de 1995 a 2000. No primeiro ano, uma turma pequena de terceira série. Anos depois, uma turma “da pesada”! Um desafio que se transformou em amor e cumplicidade.
Tenho escrito tanto sobre essas coisas de educar e ensinar! Tanto sobre escola! Queria partilhar com vocês desta alegria que sinto agora, porque isto está acontecendo justamente no momento em que eu mais precisava. Precisava de amor, de afeto. Precisava me lembrar de que fui, sim, uma professora dedicada, de que tentei sempre fazer o melhor, de que fui feliz. Porque já faz tanto tempo que eu, nessas minhas confusões de sentimentos, já temia estar devaneando...
É fato, graças a Deus! Fiz amigos mesmo, incluindo mães e pais de ex-alunos. Fui responsável com minha prática. Ensinei-lhes o conteúdo sem deixar de exaltar a alegria de viver, de estar com o outro, de estar entre amigos. Passeamos, brincamos, aprendemos, conversamos, contamos piadas. Fizemos muitos, muitos exercícios de Matemática, até eu me certificar de que haviam aprendido. Gostaram da Matemática, expulsei o monstro. Tenho alunos cursando Física, Meteorologia, Engenharia. Mito posto por terra.
Brincamos muito, porque criança tem o direito de brincar. Acompanhamos a queda do Palace II (quem lembra?) e aproveitamos para estudar História. E, se algum deles ainda guardou cadernos, estarão lá, também, alguns textos que compus, para “alegrar” mais as aulas. As provas tinham expressões com seus nomes. Havia um festival de estrelinhas no peito daqueles que davam conta do recado, e isto incluía, também, os que terminavam tudo por último. Respeito ao tempo de cada um.
Na minha lembrança, a confiança e o respeito dos pais. Temerosos em ver seus filhos com uma professora meio “diferente”, mas acreditando, apostando. E a confiança e o respeito dos donos das escolas, também.
Todo mundo construiu a Karla Pontes que sou hoje. Mas devo, principalmente, às crianças. Eles fizeram na época deles o que Antônio faz agora: me derrubavam, me reconstruíam. Eu ia pra casa depois de um dia de trabalho já pensando em como fazer melhor, na dúvida de saber se tinha feito direito.
No Daflon, o sinal batia para a forma. Ali mesmo a brincadeira começava. Na Espaço Aberto, eram as minhas palmas que chamavam a galerinha pra dentro. Brincadeira gostosa, também. Antes de entrar, pela manhã, cedinho, meus alunos eram recebidos por mim. Um “bom dia!” no portão (eu adorava fazer isto!), pra que ficassem certos de que eu ali estava.
Deixei as duas escolas, experimentei a lida nas escolas públicas (muita saudade, também), vim morar em Iguaba Grande. Deixei de ser professora, passei a ser “Inspetor Escolar”. Mas todos os dias em que saio de casa e entro na Secretaria de Educação ou numa escola, entro com tudo o que tenho aqui, latejando no meu coração. É essa paixão que me movimenta os passos, que me alimenta a alma. Essa certeza de que ainda posso fazer muito pelos meninos da cidade, de que posso plantar amor nos corações da gente que trabalha nas escolas.
É verdade. É assim. Afeto educa. Afeto ensina, até os conteúdos. Eu “tiquei” tudo o que havia nos meus planos de curso. E deu certo. Hoje eles estão vivendo a vida deles, usando, talvez, alguma coisa que tenham aprendido comigo. Outras coisas, eles já esqueceram. Mas de mim, não. Da Tia Karla eles se lembram até hoje...

4 comentários:

  1. Que lindo!!! :)

    Realmente, foi uma época inesquecível. Mais ainda pra mim, que era meu ultimo ano em Niterói, estava indo para outro lugar e não sabia o que poderia encontrar, se teria amizades como tive no Daflon, se as pessoas iriam gostar de mim...

    Tenho muitas lembranças dessa época... até a musiquinha dos ossos, pra lembrar a matéria, eu me lembro até hoje!!! rs... Me lembro que eu tinha medo de uns meninos da quarta série, que até hoje eu não sei direito o porquê, como começou, mas eles mexiam comigo e eu tinha medo... e um dia eles estavam lá, no recreio, e eu não queria sair da sala e descer pro recreio com medo, e a Tia Karla foi passar comigo o recreio, só pra que eu pudesse ficar no pátio igual a todo mundo...

    Na visão de uma criança, coisas simples tornam-se muito valiosas e de muita importância...

    Então, com o meu ponto de vista do passado que tive como criança e aluna, mais o ponto de vista que tenho hoje, posso dizer que se existiam dúvidas quanto ao seu trabalho, tenha certeza de que, do seu modo e como você mesma disse, com afeto e dedicação você foi uma grande educadora. E o que vale a pena, a gente sempre guarda com carinho e leva para a vida toda...

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    1. Ah, minha querida aluna! Que presente ler seu texto! Muito obrigada!
      Lembro também da música: "clavícula, omoplata, úmero, rádio..." Composição simples pra que vcs aprendessem brincando...
      Estou no caminho certo, concluí. E reencontrar vcs é como se o próprio Deus me dissesse SIM.
      Do episódio do recreio lembro vagamente. Mas tenho no meu coração a imagem da menina pequenininha, mas bastante inteligente!!!
      Obrigada, mais uma vez. E fique por aqui, lendo os textos quando puder. Você vai se encontrar em alguns deles, tenho certeza. Bjs.

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  2. Karla professora, karla mestre, karla humana... você está se olhando num espelho, espelho da vida, espelho da alma. As pessoas que você está reencontrando são os reflexos. Deus realmente está te abençoando, dizendo que vale e valeu a pena! Você tinha ainda alguma´dúvida??? Bjs Texto lindo!!!!!!!

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    1. Se eu tinha dúvidas agora não tenho mais. Obrigada pela constante partilha, Mariza!

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