sábado, 3 de março de 2012

O que foi que deu errado?

(Da minha vida profissional eu não tenho do que me queixar... Tá tudo bem, uma vez que foi o que escolhi fazer. Mas da minha vida pessoal... Caramba!)


Deu quase tudo certo: primeiro, eu estudei numa escola paroquial do município de São Gonçalo. Boa aluna, “dispensei” a primeira série, indo direto do jardim de infância para a segunda série, amparada pela Resolução 108. Pesou-me ter que garantir boas notas ao longo do ano letivo. Eu apenas havia ido para a primeira série sabendo ler. Mas a professora, tia Maria do Carmo, disse para a minha mãe que eu estava atrapalhando a aula lendo tudo o que ela escrevia no quadro. E encaminhou-me para a sala da tia Carmem Lúcia.
Quando eu terminei a quarta série tive que ir para outra escola. E estudei da quinta série ao primeiro ano do segundo grau – o “básico” – em outra escola pública também.
Fiz o primeiro ano lá porque o prefeito prometeu aos alunos que ofereceria àquelas turmas a formação geral até a conclusão do segundo grau. Não tendo cumprido a promessa, cedeu-nos bolsa de estudo integral para terminarmos os estudos em uma escola particular.
Nesta época eu tinha quatorze anos. Indecisa sobre o que estudar, ouvi da minha mãe uma pergunta que ajudou-me a decidir: “Você não vai trabalhar, não? Na sua idade eu já estava atrás do balcão da farmácia trabalhando...” Decidi cursar Formação de Professores para ter, logo, um emprego.
O prefeito da cidade quebrou a segunda promessa e em uma reunião com o diretor da escola soubemos que teríamos que pagar a mensalidade. Graças a Deus o diretor tinha sido meu professor, e empregou-me como auxiliar de classe numa turma de pré-escolar. Eu estudava pela manhã e trabalhava à tarde. E, no final do mês, a secretária da escola carimbava “ISENTO” no meu carnê. Profecia de mãe se cumpre!
Dali segui meu caminho. Depois que me formei professora não parei de trabalhar. Somente dezesseis anos depois é que ingressei na faculdade para fazer Pedagogia. Uma alegria passar para a Universidade Federal Fluminense! Professores excelentes, experiência maravilhosa!
Até ali eu segui o caminho exatamente como ensinaram meus pais: sem olhar para os lados, sem dar atenção a estranhos, sem confiar nas intenções dos meninos... E na faculdade conheci aquele que viria a ser o meu marido.
Eu me casei. Com vinte e seis anos. Acreditando que seria para sempre. Casei-me com um poeta, um rapaz extremamente inteligente. Nos conhecemos em agosto, nos casamos em abril. E não deu certo.
Cinco anos de um casamento que mais pareceram cinco anos de tentativas. Não deu mais. E chegou ao fim aquilo tudo que construí nas minhas crenças...
Foi muito difícil. Por mais que o amor acabe – ou nos mostre que nunca existiu de verdade – o processo de separação num casamento é doloroso demais! Dói fisicamente. É estranho...
Eu quis chorar a dor física e emocional que sentia, mas eu não tinha paz para isto. Eu morava muito próximo de minha família e, querendo fazer de tudo para ajudar, eles acabavam por invadir todos os meus espaços, e eu tinha que omitir sentimentos, engolir choros, essas coisas. Meu marido deixou minha casa em novembro, as aulas terminaram em dezembro e eu, de férias, passei janeiro todo curtindo a solidão (agora a um, mesmo) de uma casa vazia. Mas eu não podia sofrer, porque ninguém podia saber.
Deus foi, mais uma vez, misericordioso comigo: em janeiro mesmo fui chamada no concurso que havia feito para Iguaba Grande. E vim pra cá, de mochila nas costas, decidida a recomeçar, feliz por ter um canto pra sofrer por aqueles meses que passei representando. Quando cheguei aqui, trabalhava somente três dias na semana. Nos outros, eu chorava a minha dor. Chorei, até que ela passou.
Passa. As dores passam. Minha mãe sempre me disse isto. Mesmo quando eu inventava aquelas febres pra ela encostar a mão na minha testa. Mesmo quando eu não queria que passasse, pra mão dela ficar ali mais um pouquinho...
A dor passou. Eu consegui outro emprego para completar minha semana de trabalho. Parei de voltar pra São Gonçalo. Fiz da casa de veraneio dos meus pais a minha casa. Mudei o endereço das minhas contas, trouxe o resto das roupas, trouxe a geladeira, ganhei um filhotinho de pastor alemão, finquei âncora. Meu lar! Agora eu moro em Iguaba Grande.
Eu disse adeus ao passado e olhei para frente. Demorou um pouco e eu conheci o amor outra vez, quando já estava bem desacreditada dele... Mas, para resumir, novamente não deu certo.
Tem alguma coisa de errado por aqui, que eu ainda não descobri o que é. Mas vou vivendo, porque nada para pra me esperar. Eu sei contar direitinho sobre as coisas do trabalho, mas não sei explicar o meu coração. Olho-me no espelho – daquele jeito profundo que só a gente sabe quando se olha – perguntando-me o que foi que deu errado, mas a resposta não vem. Tento me lembrar se algum dia minha mãe profetizou também isto...
Antônio está aqui comigo. É o bom do meu lado mau. Olhando pra ele penso que meus tropeços já predeterminavam a sua chegada na minha vida. Sua presença contagiante em nossa casa (e na minha vida!) alenta minha alma. É como se eu sentisse fisicamente o perdão de Deus.
Nas coisas de estudo e de trabalho pelas quais passei tornei-me competente. Estou satisfeita com o resultado. Já não posso dizer o mesmo, infelizmente, sobre as minhas coisas de amor. Alguma coisa deu errado. Mas talvez seja pretensão minha desejar que tudo desse certo na minha vida. Será que com todo mundo é assim?
Seja como for, vou cumprindo o que ora me cabe: educar Antônio, ser-lhe mãe, no sentido mais amplo da palavra. E cuidar para que meus vícios não se sobreponham aos desejos dele. Preciso deixá-lo seguir um caminho diferente do meu ou também ele estará fadado a viver na solidão.

4 comentários:

  1. Talvez as coisas não saiam como o planejado...mas como assim alguma coisa deu errado nas coisas do amor? Esse post é uma prova de vários amores que deram certo: o seu amor pela sua mãe, pelo seu trabalho, por suas conquista ao londo desses anos, por sua profissão, e aquele maior de todos pelo Antonio!!! Penso que algo não deu errado, mas apenas ainda não aconteceu. Beijocas, Debora Martins.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nada como alguém que nos faça enxergar as coisas por outros prismas... Obrigada pelas palavras, Debora!

      Excluir
  2. Mais uma catarse, economia boa do divá rs rs rs Maravilhosamente apresenta a linha do tempo de sua vida que na verdade, pode ser a vida de muitas e muitas pessoas que estão a sua volta. Deu certo sim, convordo com sua amiga acima, está dando, você sabe disso. Sua força e perseverança. Lindo texto, linda vida...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Deu certo numas coisas, noutras não. Normal, concluo. Tem mais certo do que errado, felizmente. Obrigada, Mariza!

      Excluir