quinta-feira, 24 de maio de 2012

A gente se vê!

(Já não sei como explicar essa alegria de ver meu filho crescer... Que sentimento é este, esta alegria que dói? Estou cedendo espaço para a vida, que agora é dele... Antônio dia desses disse-me uma frase. Escrevi sobre o que senti ao ouvi-la.)



Antes eu o passava para o colo da “tia”. E era assim que nos despedíamos: um sorriso banguela, depois um chorinho – meu e dele – e o portão da escola se fechava, quase no meu nariz avermelhado...
Ontem, na escola, eu e Antônio estávamos esperando o sinal tocar para a entrada dos alunos. Sentados lado a lado, conversávamos sobre o que lhe esperava e eu tecia minhas recomendações: obediência à Professora, rapidez e capricho (como se as duas coisas fossem possíveis no 1º ano de escolaridade) na cópia do dever do quadro, diversão na hora do recreio (sem abusos!), etc., etc., etc.
Quando ouvimos o sinal tocar, um menino – um rapazinho! – levantou-se e despediu-se de mim. Evitou que eu adentrasse o espaço da escola. Antônio deu-me um beijo estalado no rosto, fez um “papo firme” com as mãos e falou: “A gente se vê!”.
Como assim, a gente se vê???
Onde está aquele bebê banguela que demorava a soltar-se do meu pescoço até passar para o colo da tia?
Antônio me deu vários “tchaus”, enquanto eu o seguia pateticamente, desprezando seu olhar pedindo “fique aí”. Até que percebi minha idiotice e travei, numa das calçadas do pátio da escola e deixei-o ir, viver sua própria vida.
Ah, meu Deus, será mesmo que meu menino de seis anos está a caminho dos sete? Aquele ensaio de janelinha (o dente ainda não caiu) já significa que preciso me afastar uns metros? Que será de mim?
Quando fiquei sozinha com Antônio aos três dias de nascido (pra quem não leu tem texto por aqui falando desta experiência) olhei pra ele e pensei: “que será de mim?”... Agora venho percebendo que esta é uma frase comum das mães, em suas eternas etapas... Que será de mim, agora?
Meu Deus, obrigada por este presente que se chama Antônio! Jamais me cansarei de agradecer! Obrigada por permitir-me viver estas experiências! O menino que me enxotava no portão da escola hoje o fazia com um olhar cheio de afeto e saudade. Era a sua necessidade de viver que me pedia pra sair de cena. Ali o espaço é dele, tudo é novidade, ele ainda o está reconhecendo, demarcando. E isto era algo que ele precisava conquistar sozinho. É a inteligência da criança, inteligência natural, inexplicável dom de Deus!
Eu estudei tanto, para aprender hoje com ele. É quem tudo me ensina. Quando lhe peço - quase obrigo! – que seja rápido com as coisas, ele me pergunta: “Como é que você quer que eu faça rápido, se eu só sei fazer devagar?” Quando lhe digo que não quero que desenhe enquanto almoça ele me diz: “Eu não estou desenhando enquanto almoço, estou almoçando enquanto desenho”... E entre uma tirada e outra (coisas que na minha época se chamava de respostas malcriadas) me revela uma inteligência, uma perspicácia, uma astúcia que inflam meu ego enquanto agradeço: Obrigada, Senhor, obrigada, Senhor!
São só seis anos. E nem sei o que me espera pela frente. Mas vejo com orgulho e um amor infinito que a vida está só começando. E sou feliz, porque se há tanta vida esperando por Antônio ganho, meio que por tabela, uns anos de vida de presente, também. Quero viver imensamente, porque quero fazer de tudo para que Antônio seja feliz. Esperto como é, curtirá a vida com sabedoria, aproveitando as coisas boas, reconhecendo e negando as más, crescendo e tornando-se um homem de verdade, íntegro, justo, companheiro, fiel, amigo, solidário. Isto é quase uma oração, ouve aí, Senhor!
A gente se vê, meu filho querido. Ele quis me dizer que a gente se veria na hora da saída. Eu, porém, um pouco mais vivida que ele, recebo a frase como um dever a cumprir. A gente se vê pela vida... Eu, sempre ao seu lado, mesmo que a metros – cada vez mais largos – de distância. Vejo você nas formaturas que se seguirão, no passar dos anos, no cair dos demais dentinhos, nos pelos crescendo, no choro pelo primeiro amor. Quero estar aqui, em todos esses momentos, Antônio. A gente se vê!

Nenhum comentário:

Postar um comentário