quarta-feira, 6 de junho de 2012

Professor Jorge Vicente

(Deus fez Sua obra completa em minha vida: Tendo lido meu último texto postado (sim, eu CREIO que Ele leu), permitiu-me estar diante de meu querido professor! Hoje eu o abracei, vcs acreditam?)


Ainda estou sob o impacto da forte emoção: estômago apertado, nervos à flor da pele... Mas vim até aqui para testemunhar a presença de Deus na minha vida.
Não bastou que eu escrevesse o texto no fim de semana citando o nome dele, atribuindo a ele a responsabilidade por minha preocupação no uso da língua portuguesa. Não. Deus queria mais pra mim. E, trinta e quatro anos depois, deu-me ele, o próprio Jorge Vicente, num abraço do qual jamais me esquecerei.
Hoje estive presente num evento da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba Grande. Sentei-me bem ao final da fila de cadeiras, acompanhada que estava de Antônio. Deixei-o, assim, mais à vontade para distrair-se.
De pé, do lado oposto ao meu, um senhor de cabelos brancos chamou-me a atenção. E observando os detalhes dos sorrisos, da atenção dispensada às pessoas, do carinho e da simpatia não tive dúvidas: tratava-se da figura do Professor Jorge Vicente.
Que coisa instigante é o tempo! Bastou que eu o reconhecesse para ter, novamente, por alguns minutos, nove anos de idade. Boquiaberta fiquei, como no dia de sua primeira aula: camisa cor de abóbora, calça marrom, cabelos de um preto incontestável, atitude política, aula interessante, respostas para as perguntas feitas pelos alunos, domínio de conteúdo e amor, amor, amor pela profissão.
Jorge Vicente tinha um jeito, já, diferente de lecionar. Combinava coisas com os alunos, lançava umas bolinhas azuis e vermelhas nos cadernos para atribuição de pontos. Estabelecia um “campeonato”, onde o primeiro aluno que levantasse a mão tinha a vez para responder em voz alta às atividades propostas. Dava pontos nos livros, corrigia o dever de casa, e ensinou-me que o antônimo de jamais é sempre. E eu aprendi isto errando uma questão do livro: respondi que era “sim”. Errei. Aprendi.
Ele nos ensinou que errando se aprende. Colocava apelido nas crianças. Chamava meu amigo Wellington de “cotonete de orelhão”... E era muito, muito respeitado por todos da sala, uma vez que sabia aproveitar todos os momentos dos seus cinquenta minutos de aula. Jorge Vicente era um professor jovem – lindo! – da rede pública de ensino do município de São Gonçalo, e valorizava o que fazia com sua postura profissional de PROFESSOR.
Meu testemunho estava ali, a poucos metros de distância: Deus não só olha por mim, como lê o meu blog. Leu neste fim de semana, compadeceu-se de minha saudade e permitiu-me aquele abraço que imaginava nunca mais poder viver. Jorge Vicente quebrou o protocolo – e eu, então, que nem sabia que havia! – como membro da Academia e tomou-me nos braços, depois de um discurso idiota que fiz, diante de uma plateia que esperava, certamente, palavras mais contundentes de uma Subsecretária de Educação. Falei apenas da emoção de vê-lo ali, confusa que estava. Abraçados ficamos alguns segundos e foi ali, só ali, que percebi que éramos do mesmo tamanho.
O que me levara à dúvida (“será ele?”) tinha sido exatamente o tamanho. Ora, na perspectiva da aluna de nove anos, eu trazia comigo a imagem daquele forte homem bem maior do que eu. No entanto, ao senti-lo tão de perto pude ver que cresci. Acho que só hoje me dei conta disto.
Extremamente emocionada, só pude dizer a ele: “Deus o abençoe, Deus o abençoe!” Foi louvor, foi gratidão, foi emoção, foi alegria.
Talvez eu não durma esta noite. Ficarei a lembrar-me daqueles dias no Castello Branco. Vou recordar o dia em que ele avisou à turma que a dispensa para o recreio seria por ordem da maior nota obtida no bimestre. E que, tendo citado o nome de todos os alunos, deixou-me por último, assustadíssima por imaginar ter tirado zero. Desfazendo a “cara feia”, brincadeira proposital, mostrou-me seu diário de classe: minha nota havia sido a melhor da turma. E parabenizou-me, carinhosamente.
A noite mal dormida – já prevejo! – fará com que eu recorde com riqueza de detalhes a festa do final do ano em que ele apareceu na escola munido de uma filmadora (caramba, quem possuía uma filmadora em 1978?) e filmou-nos a todos, com tamanho carinho.
Obrigada, meu Deus! Que faço por merecer tanta graça? Nada. Quando pensava em assistir unicamente à entrega de um prêmio a uma aluna da rede pela redação vitoriosa, recebo o presente maior: o meu professor querido, inesquecível, que por tantos anos trago no coração em forma de saudade!
A presença de Jorge Vicente no evento da Academia retrata que ele não desistiu, trinta e quatro anos depois. E trouxe-me ainda mais ânimo, mais motivação, mais energia.
Vou com tudo na luta por uma educação pública de qualidade na minha cidade. Com a mesma garra com que iniciei, em 1984. Foram tantos os erros cometidos, tantos! Tantas histórias pra contar! Mas se eu tive um professor que me ensinou que errando se aprende, não tenho motivos para parar.
Deus o abençoe, Jorge! Inexplicável e inesquecível a alegria de vê-lo, depois de reviver há tão pouco a emoção dos meus dias no Castello Branco. Como chamar isto de coincidência? Impossível! Ouso crer ter sido alvo da atenção divina – ainda que por curto espaço de tempo – que, por nada fazer pela metade, completou os parágrafos daquele texto de domingo passado com o nosso abraço, trinta e quatro anos depois.

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