segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Um monstro vestido de gente

(Há monstros à solta. E não são nada parecidos com os monstros de Antônio... São como nós! Tive medo de um monstro que encontrei hoje.)


Há um Deus acima de nós, eu creio.
Atitudes indecentemente egoístas de certas pessoas às vezes levam-me ao desespero: será que tem gente que duvida da presença viva de Deus?
Hoje minha cabeça dá voltas e meu coração apertado me convida a chorar. Preciso de um banho quente. Gosto de combinar a temperatura da água que cai do chuveiro com aquela que me aquece as maçãs do rosto: lágrimas quentinhas, salgadas, companheiras na minha aflição. Não sou nada neste mundo. Nada. Deus olha lá de cima para o planeta Terra e vê a muitos, mas não me vê. Ah, Senhor, volta Seus olhos pra mim!!!...
Temo passar meus dias neste mundo e não conseguir livrar-me da visão que tenho. Trata-se de uma visão estranha, involuntária: vejo manchas escuras ao lado de gentes... Um sentimento de que estão acompanhadas de algo muito pesado, muito terrível...
Preciso chorar, hoje. E não sei se conseguirei controlar o meu desespero antes do banho, uma vez que sentei diante desta tela agora. Tudo para fazer aqui em casa, e nada farei enquanto não expurgar minhas angústias...
Todos somos um só, e é nisto que acredito. E tem me causado tristeza – e, particularmente hoje, um certo medo – ver pessoas olhando para si como se fossem as únicas no mundo.
Eu não sobreviveria sem o padeiro. Tampouco sem o médico que retirou Antônio da minha barriga, ou o que me retirou da barriga da minha mãe. Preciso do rapaz que poda minhas amendoeiras tanto quanto da professora que alfabetiza Antônio, tanto quanto do meu dentista. Sempre fui muito observadora, neste aspecto: quando tomava o ônibus para ir para o trabalho, em São Gonçalo, às 5h 50’, antes de reclamar do sono avaliava quantas pessoas tinham acordado antes de mim. No caminho, a conclusão de que eu não existia no mundo sozinha: o motorista do ônibus não fazia sua primeira viagem; para alguns passageiros aquele já era o segundo ônibus do dia. Bancas de jornais abertas testemunhavam que jovens já haviam separado os jornais desde a madrugada. Enfim, todo mundo vivia, a Terra girava, as coisas aconteciam e eu, “só” pegava o ônibus às 5h 50’. Tarde, perto da rotina daquele tanto de gente.
Escrevi sobre um monstro em construção no texto anterior. Um monstro jovem, com todas as chances – ainda que desperdiçadas pelo seu criador! – de reversão.
E Deus colocou-me diante de um monstro ainda pior: um monstro adulto, criado. Um monstro egoísta. Um monstro vil, sujo, indecente, perigoso, inescrupuloso.
O monstro tinha uma pretensão: levar vantagem sobre os outros.
Quem almeja levar vantagem sobre os outros não se vê como parte de um todo. Deus criou a humanidade. Espera, pacientemente – e senta-Se em nuvens fofas enquanto isto – que a humanidade se dê conta do que Ele espera dela. Mas ninguém tem tempo para pensar nisto, ocupadas que estão as pessoas com os quilos que se deve perder para alcançar as medidas que a mídia cobra.
É o inferno que cobra as medidas. É isto o que penso. E o afã de ter o que nunca se teve – porque Deus não as criou assim – leva as pessoas a garantirem suas vagas no inferno individualizando-se, esquecendo-se de que precisam do homem que conserta o elevador para chegarem ao 35º andar.
Os “personal everythings” dão conta de “tudo o que se quer fazer, desde que sozinho”. E nessa involução fomentam o inferno do “eu”, num mundo tão bonito que Deus criou para “nós”...
Hoje me senti amedrontada, e esta foi uma sensação nova no meu atual contexto... E, posso dizer, talvez tenha sido a pior das sensações vividas até agora.
Eu sou todo mundo. Vibro com os movimentos de alegria e tristeza, solidarizo-me, quero fazer tudo ao mesmo tempo. Minha energia pra lá de balzaquiana não acompanha a velocidade dos meus pensamentos. Os dias passam, perco prazos, datas, porque os planos foram feitos também sob o mesmo pensamento dos demônios de que tudo deveria dar errado.
Eu creio num Deus acima de nós. Bom o suficiente para perdoar os pecados de todos. Os pecados da pior das criaturas, desde que haja verdadeiro arrependimento em seu coração. E do jeito que sinto vergonha de ser humano quando diante de um monstro-humano como estive hoje, penso que Deus deve entristecer-Se, envergonhar-Se também. Às vezes ouso enlouquecer e imaginá-Lo tapando os olhos e ouvidos, perplexo diante daquilo que sonhou ser gente.
Acho que estive confusa por aqui, hoje. Mas devo confessar a vocês que o medo me assombrou de tal maneira que já não sei o que será do futuro do meu filho. Preciso ter uma conversa séria com Antônio na hora dormir. Preciso dizer a ele que há monstros lá fora, e que eles não são peludos, não possuem garras afiadas, não grunhem... São da nossa estatura, falam baixo, são delicados e belos. E quero avisar a Antônio que pode ser que ele viva quarenta e quatro anos até estar diante de um.

9 comentários:

  1. Lamente por eles! Motivos: desconhecem a Lei de Causa e Efeito; são seres sem luz e sem rumo; necessitam da nossa compaixão à distância, certamente. Não vivem, apenas passam pela vida sem se dar conta da sua própria inexistência e insignificância! Vamos pedir piedade pra essa gente careta e covarde!

    ResponderExcluir
  2. É o que mais existe, homens que não são humanos, são monstros, que comem o que estiver pela frente para alcançar seus objetivos. Vivemos numa selva, graças a Deus, ainda existem anjos e pessoas "humanas"!!!

    ResponderExcluir
  3. Amiga, pode ficar indignada mas não permita que o medo penetre no seu ser. Esse é o objetivo do tal monstro. Você é forte o suficiente e iluminada para perceber tudo que percebeu então, respire fundo, pode até lamentar mas, siga e fortaleça seu espírito para que seus passos continuem a ser dados no caminho de construção daquilo que você acredita e almeja. Bjs e bons sonhos, que sejam sonhos com anjos, porque graças a Deus, esses também existem.

    ResponderExcluir
  4. Conheci um monstro assim...que por fora parecia um anjo e queria levar vantagem em tudo. Não se preocupe DEUS tudo vê!
    Bjs!

    ResponderExcluir
  5. Conheci e infelizmente convivo com uma...Mas estou protegida,aliás estamos protegidas pelo sangue do nosso senhor Jesus Cristo, são as boas samaritanas e bons samaritanos que falam baixinho...rsrsrsrsrs bjus,tamo junto! E a agum tempo que venho conversando sobre isso com meu favo de mel.

    ResponderExcluir