sábado, 8 de setembro de 2012

Por viver

(A alegria de Antônio por viver inspira-me! Agradeço a Deus, todos os dias, por ter em casa esse professorzinho que me ensina a dar valor a cada segundo do meu dia...)


Antônio vem me ensinando, todos os dias, que viver é maravilhoso.  Bem, na verdade, não sei se eu é que tenho ensinado isto a ele. Pouco importa. O bacana é ver como meu menino ama a vida!
Agora mesmo, está lá, dormindo, mas foi para a cama contra a sua vontade. Depois que almoçamos, eu impus-lhe a ordem: Hoje é sábado, poderá ficar acordado até um pouco mais tarde mas, para isto, precisa dormir...
Ficar acordado até mais tarde significa viver mais, para Antônio. Foi uma troca razoável e, depois de me olhar fixamente nos olhos – treinamento do qual não lhe deixo escapar – aceitou a imposição. É isto, eu imponho, mas ele sempre tem a chance de argumentar. Às vezes acaba me convencendo. Menino inteligente, este! Obrigada, Senhor!
A alegria de Antônio é por viver: acorda cedo, faz “seu trabalho” de abrir janelas e portas, liga a TV e fica lá, interagindo com seu desenho preferido. Algumas vezes sou acordada pelos seus gritos, pelo barulho dos pulos que dá de um sofá para o outro... Noutras, assiste com olhos fixos na telinha a vida de Jesus. Quando chego perto me pergunta coisas, ou me conta o que aprendeu com a entonação da emoção de quem sofre com as injustiças feitas com Cristo.
Cada minuto para ele é importante. Vigia o relógio. Já descobriu que para que o minuto passe é preciso que sessenta segundos se vão. Dá valor aos sessenta toques do ponteiro do relógio, me ensina a fazer o mesmo. E não é que dá tempo de fazer muita coisa? Já experimentou? Pois tente!
Dormindo “pesado” agora, eu o observo. Lindo, meu filho! Cara de homem, expressão séria de quem está resolvendo algum problema em seu sonho...  Completamente desligado do meu tempo, agora, vive o seu. Costuma me perguntar com o que pode sonhar. Eu lhe digo uma personagem, um super-herói, e ele agradece. Constrói o próprio sonho, determinado. E, depois, entregue aos anjos, vive o sonho que lhe vier, com a mesma intensidade com que vive ao acordar.
O viver de Antônio é limitado, ainda. Isto, por minha culpa. Os adultos é que tolhem as crianças. Somos nós quem lhe apresentamos o medo, toda criança nasce corajosa. Somos nós quem lhe apresentamos a decepção, toda criança nasce cheia de esperanças. Somos nós quem lhe apresentamos o não. Criança é sim. Criança é sim, porque criança é vida, e a vida é um sim!
Ando cheia de problemas, enquanto Antônio tem solução pra tudo: esconde as meias embaixo do sofá quando peço que as guarde. Ora, se lhe digo que “não quero vê-lo com as meias nos pés” e que “não quero ver essas meias por perto”, ele me resolve o problema. Se lhe digo que quero que coma o pão todo e que não quero ver sobras, as cadelinhas ganham felizes os pedacinhos picados. Não, Antônio não está errado em suas atitudes. Errada estou eu, ao pedir-lhe coisas tão absurdas. Ou peço coisas erradas, ou da forma errada. Antônio está certo.
Quando abre os olhos, olha para a janela. Quer ver logo se é sol ou chuva, dia ou noite, frio ou calor o que o espera para viver. Anima-se ou desanima-se, então. Mas nunca desiste: criança tem sempre opção. Vai depender do que vir pela vidraça a brincadeira a ser selecionada. Pronto, está vivendo, a despeito do que o céu lhe reservou.
Há seis anos e meio Deus me mandou esse presente, para que eu envelhecesse sem esquecer-me de louvar a Ele pela vida. Há seis anos e meio, em vez de entristecer-me, alegro-me, aprendo. Digo a Antônio que “sei de todas as coisas” (as mães têm essas besteiras, comumente), quando na verdade ele é quem sabe muito, e me ensina também.
Há alguns dias tenho sentido uma tristeza profunda, dolorida... Acordado com aquela sensação de quem desperta de um sonho ruim e, no entanto, constatando que o pesadelo é real. E, dispensando confissões a amigos, ou procura por médicos, recebo de Antônio o que tem pra me dar, o que me cura: o amor, o apreço que tem pela vida, a vontade que tem de sugar cada instante que lhe é oferecido por Deus.
Olhando pela janela, vejo que a natureza toda vive. O vento balança as árvores e flores, promovendo a reprodução das sementes. Pardais e rolinhas brincam de pique, apostam corridas (voadas?) aproveitando-se da velocidade que o vento lhes permite. O sol brinca com as poucas nuvens que arriscam-se a escondê-lo. Ele ri. É soberano. É o meu rei. Sabe disto. O sorriso é para mim, sim. E, esquecendo por segundos todo o mal que me rodeia, tenho por alguns instantes seis anos e meio. E agradeço a Deus por viver.

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