domingo, 16 de setembro de 2012

Ser o outro

(Há quarenta e quatro anos venho me construindo, me transformando no que sou. No entanto, há pessoas que vivem a vida tentando ser o que não são. Elas tentam "ser o outro". )

Eu sou. Levei quarenta e quatro anos para ser. E agora, sou. Por enquanto...
Todos os dias a gente é, porque as mudanças estão aí, todos os dias, e devemos dar graças a Deus por elas. As circunstâncias da vida que nos modificam têm, exatamente, este objetivo. Quem não muda, vegeta. É um ser diferente de humano. Bem diferente!
Mas existem virtudes, características, que nos são próprias. Ninguém pode ser o outro, não há como. Deus nos criou a cada um, com suas especificidades, suas peculiaridades, seus jeitos, enfim.
Fico triste quando vejo alguém querendo ser o outro. Porque quando se quer ser o outro, não se quer ser aquele que se é. E isto é complicado, não?
Não há sustentação quando não se é, de verdade. Faz-se pouco, realiza-se pelo meio, vive-se outra vida. Particularmente, penso que quem quer ser o outro está predestinado a adoecer, a morrer. E isto muito me preocupa...
Quem tem caráter, mantém-se firme. Muda, certamente, porque aprende enquanto vive. Toma as experiências vividas como ensinamentos. Mas é constante em suas ações, porque é verdadeiro, e viver de verdades é muito bom. Com a verdade se caminha longe, inenvergável, indestrutível, porque ela é única, enquanto a mentira e a falsidade são duvidosas, medíocres e confundem seus autores...
Quando admiramos uma pessoa pelo que ela é, a primeira coisa que nos chama a atenção é sua atitude. Ter atitude não quer dizer sair por aí “batendo de frente” com tudo e com todos, ou ser contrário a qualquer tipo de ação do outro. Não! Na maioria das  vezes, é justamente o oposto: saber ceder, saber ouvir (que exercício!), saber aceitar o tempo das coisas, as opiniões alheias. O segredo, quando se quer convencer a alguém do contrário do que pensa, é o argumento. Eis o mistério, a grandiosidade: saber argumentar. Falar com propriedade, porém, com voz baixa, com calma, com decência, com educação. E, aí, deixar no outro sua marca, sua impressão, de tal forma que este seja tão seduzido pela inteligência da sua organização de pensamento que mude de opinião...
Não me interesso por gente que inventa um “tipo” pra ser... Porque não se sustenta, cai em contradições frequentes, não segue adiante.
E entristeço-me, porque é grande e preciosa perda de tempo viver a vida estabelecendo um papel a desempenhar que esteja tão longe do que a verdadeira face – definida por Deus – determina. Cobre-se a face sob máscaras de todas as cores. E, no entanto, nada se consegue esconder: lá está o rosto frio, digno de pena.
Sabemos o dia em que nascemos, mas não sabemos o dia em que vamos partir... Mas a despeito da data marcada no calendário divino para o encontro com Deus, há tempo de revermos nossas ações. Sempre. Se há sol lá fora, se há um novo dia, se uma criança nasce, se há música tocando ao longe, se pássaros voam, se ovos se abrem, é porque há chance. Que tal mudar?
O exercício nem é tão difícil assim: basta olhar para o espelho. Cada um sabe, na sua intimidade, quem é que está lá do outro lado do objeto, verdadeiramente. Cada defeito, cada qualidade. Cada um sabe o que tenta esconder atrás da máscara. Cada dor, cada medo, cada covardia...
Imagina a alegria de Deus ao saber que hoje um filho seu decidiu abandonar a personagem e viver a sua vida, ser quem sabe que é!... Não há porque temer. Há um Deus que nos conhece sobremaneira! Vergonha de que, de quem?
Com tudo o que há de errado comigo, carrego o orgulho de ser quem eu sou. De não invejar ninguém, de não desejar ser diferente. De ser autêntica em minhas atitudes que, para quem bem me conhece, agora já estão sendo até previsíveis... Não há lugar na minha vida para perda de tempo cuidando do que é do meu próximo. Isto a ele cabe, unicamente.
Assim, sigo vivendo a vida que é minha. Cuidando para que Antônio aprenda a viver a dele, também. Como mãe de um menino ainda tão pequeno, ajeito-lhe os limites, mas sempre mostrando a ele as consequências das atitudes que se toma durante a vida. Com exemplos educo Antônio. Ele hoje sabe que é responsável por cada atitude que toma.
Assim espero estar contribuindo para que também ele construa a sua personalidade, independentemente da personalidade do colega ao lado. Com isto me preocupo, pois é ele quem vai se entender com Deus, quando chegar a sua vez. Da mesma forma, preocupo-me comigo. Em manter minha postura verdadeira, porque tem gente que confia em mim por isto, e não posso decepcionar quem aposta suas “fichas” em mim.
Eu sou, graças a Deus. E para quem quer ser o que não é, digo que ainda há tempo de desistir desta loucura. Deste fardo pesado demais para carregar por uma decisão profana de renunciar aos propósitos de Deus.

2 comentários:

  1. Que belo Karla!!Pessoalmente,vivo uma situação em que fez-se necessário que eu me repensassse como a Glória;eu,uma pessoa que já foi uma ontem e jamais, espero, seja igual amanhã...e foi meu(?) Marcello, quem me fez refletir justamente sobre esse tema essa semana.Seu lindo texto só veio confirmar o meu pensamento!!Parabénss!

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  2. Que bom que o texto lhe serviu, Glorinha! Aproveite-o! ;-)

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