quarta-feira, 1 de maio de 2013

Música!

(Já faz um tempo estava querendo escrever sobre música. E, desde que vi o vídeo de Gene Kelly, não penso em outra coisa.)


Já faz um tempo venho pensando em escrever sobre ela: a música!

Já não a ouço mais como ouvia aos catorze, dezesseis anos. Ah, época boa em que minha vida se resumia a trabalhar – pouco, ainda – e correr para casa para ligar meu “3 em 1” e me esquecer da vida!...

Aqui em casa as estações do rádio não pegam bem. Desisto. E devo confessar que ouvir CD às vezes me cansa. Não gosto de saber a próxima música que vai tocar (este é um segredo, hein?). No meu “3 em 1” havia uma tecla “shuffle” (acho que é assim que se escreve) e quando eu a selecionava as músicas tocavam aleatoriamente. Era bom...

Mas de uns dias para cá, não sei o que é, ando necessitada de ouvir música. É algo, assim, impressionante.

Daí essa semana fui para o trabalho ouvindo Zé Ramalho. Mas eu sou poeta, então, eu não ouço só a música. Não fico nisto. E viajei com Zé, pulando as canções que não queria ouvir, sempre com aquele medo de bater com o carro. Eu pulo as faixas, mas depois só quero ouvir as que pulei. É estranho, isto.

Na voz grave de Zé Ramalho, a presença de Deus. Como pode termos sido presenteados com tamanha bondade dEle em conceder-nos o dom da música? Não sei se já revelei aqui, mas gosto muito de cantar. Mas eu sou voz, sou garganta, respiração nenhuma, e na terceira música já não sai mais nada da minha boca. Nada de trabalhar o diafragma, solto a voz como vivo a vida. Canto bem, não sou desafinada, não. Mas não sei cantar. Um dos meus sonhos: aprender a cantar está na lista onde incluo também aprender fotografia e cursar a Graduação em Matemática. Meu filho Francisco ficou pra trás, já não há mais tempo. Sorte de Antônio, que não precisa dividir com mais ninguém o meu imenso amor.

Estou escrevendo ao som da música do filme “Proposta Indecente”. A instrumental. É linda! Meu amigo Wellington me brindou com músicas no note. E posso afirmar que há umas quatro gravações aqui que se eu colocar para tocar, escrevo imediatamente. É automático. Como entender?

Bem, Zé Ramalho cantava absurdamente no meu rádio, volume 40, janelas abertas, sinal fechado e todo mundo ouvindo eu cantar, também. Sou a Elba, quando Zé canta. Aí eu fico prestando atenção na voz, que pouco envelhece... Ele divide o palco no show ao vivo com Alceu Valença. Eu pulo, pulo, pulo, até que resolvo ouvir “Coração bobo”, e meus ouvidos sorriem. Brincam, aqueles dois. Que vozes! Eu já sinto saudade, porque coração de poeta é assim. Já fico pensando que Antônio não saberá muito daqueles dois. E agradeço a Deus por ser contemporânea deles.

Viva a música! Sete notas musicais e... a perfeição! Sete notas musicais e ela está lá, de todos os tipos e formas que se possa imaginar, e ainda vem muito, muito por aí. Graças a Deus!

Voltei ouvindo Titãs. O meu álbum preferido, o acústico ao vivo, com violinos e outras cordas no palco. Quem foi que inventou o violino, meu Deus? Coisa mais linda! E aquela mistura toda de vozes dos meninos dos Titãs que parecem uma voz só. E as composições, naquele manifesto contra o podre-social-podre, que tanto ouvi quando menina das gargantas de Chico, Edu Lobo, Gil. Naquela poesia que tanto ouvi de Vinicius, de Nara, de Jobim.

Duvidosa – e temerosa! – de que Antônio não se sirva dessa nata, vim me consolando. O talento, o dom, ainda existe. A gente fica malhando, reclamando da música que se faz hoje em dia, mas diante da cultura musical que as pessoas receberam ao longo de suas vidas sobrou-lhes pouco, não? E, no entanto, compõem, criam instrumentos, dançam, revelando o que têm de melhor, a expressão do corpo, do rosto, da vida! Uma apresentação de meninos de rua – ou não – dançando aquilo que eu chamava de funk antigamente é uma coisa linda de se ver!

E a alegria da plateia? Zé e Titãs eram álbuns ao vivo. E, de vez em quando meu braço arrepiava sobre o volante só de ouvir a galera vibrando, aplaudindo, assoviando... Depois de uma apresentação de Arnaldo Antunes cantando “O pulso ainda pulsa” (música maravilhosa!), todo mundo num grito só de “fica, fica, fica...”, do mesmo jeito em que pedia para ficar o pessoal que recebeu Alceu no show de Zé Ramalho. Às vezes eu dou uns gritos, também: “Uhuhuhu!!! Fica!!!”... Se alguém me vê no carro, acha que sou louca.

Assisti no fim de semana passado o vídeo “Singing in the rain”, com Gene Kelly. Cinco minutos e eu estava aos prantos, com Antônio no meu colo (eu o chamei para assistir). Como pode aquilo ter acontecido, e eu não ter podido viver naquela época? Emocionada diante do talento brilhante de se fazer algo tão ingênuo e apaixonante, tão maravilhoso, tão bom que fica eternamente. Antônio adorou! Ficamos conversando sobre sapateado, e depois ele escolheu outros vídeos para assistir. Todos da mesma época. Sinatra e Fred Astaire...

Mas quando uma mulata samba, quando alguém sacode uma caixa de palitos de fósforo, quando alguém dedilha um violão, quando meu pai assovia, quando ouço Kansas com “Dust in the Wind”... Não é a própria presença do divino? Que dizer da Susan Boyle? Que voz é aquela, senão a própria voz de Deus?

Cresci com meus pais me ensinando as canções de Elizete Cardoso, Isaurinha Garcia, Nora Ney, Silvio Caldas, Orlando Silva, Antônio Maria, Pixinguinha, Dolores Duran... A gente se calava para que eles pudessem cantar. O sentimento era apalpável! E eles cantam até hoje lá em casa, e ouso dizer que cantam ainda melhor, hoje.

Abençoada seja a música! Abençoada a voz grave dessas cantoras de música gospel, esses corais, que trouxeram para a igreja muitos perdidos no mundo. É maravilhosa a sensação de ouvir uma voz poderosa falar em Deus. Eu me arrepio!

Abençoados sejam aqueles que das sete notas musicais fazem nossa vida mais feliz. Completam nossa vida. Aqueles que compõem, aqueles que cantam, aqueles que representam a música dançando.

Cantamos em línguas diferentes e, no entanto, nos entendemos. Música é paz, é união. Àquilo que não se traduz em bem, não podemos chamar de música. Rendo-me à boa. Curvo-me. Agradeço. Música, sou feliz, só porque você existe!

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