Já faz
um tempo venho pensando em escrever sobre ela: a música!
Já não
a ouço mais como ouvia aos catorze, dezesseis anos. Ah, época boa em que minha
vida se resumia a trabalhar – pouco, ainda – e correr para casa para ligar meu “3
em 1” e me esquecer da vida!...
Aqui
em casa as estações do rádio não pegam bem. Desisto. E devo confessar que ouvir
CD às vezes me cansa. Não gosto de saber a próxima música que vai tocar (este é
um segredo, hein?). No meu “3 em 1” havia uma tecla “shuffle” (acho que é assim
que se escreve) e quando eu a selecionava as músicas tocavam aleatoriamente.
Era bom...
Mas de
uns dias para cá, não sei o que é, ando necessitada de ouvir música. É algo,
assim, impressionante.
Daí
essa semana fui para o trabalho ouvindo Zé Ramalho. Mas eu sou poeta, então, eu
não ouço só a música. Não fico nisto. E viajei com Zé, pulando as canções que
não queria ouvir, sempre com aquele medo de bater com o carro. Eu pulo as
faixas, mas depois só quero ouvir as que pulei. É estranho, isto.
Na voz
grave de Zé Ramalho, a presença de Deus. Como pode termos sido presenteados com
tamanha bondade dEle em conceder-nos o dom da música? Não sei se já revelei
aqui, mas gosto muito de cantar. Mas eu sou voz, sou garganta, respiração
nenhuma, e na terceira música já não sai mais nada da minha boca. Nada de
trabalhar o diafragma, solto a voz como vivo a vida. Canto bem, não sou desafinada,
não. Mas não sei cantar. Um dos meus sonhos: aprender a cantar está na lista
onde incluo também aprender fotografia e cursar a Graduação em Matemática. Meu
filho Francisco ficou pra trás, já não há mais tempo. Sorte de Antônio, que não
precisa dividir com mais ninguém o meu imenso amor.
Estou
escrevendo ao som da música do filme “Proposta Indecente”. A instrumental. É
linda! Meu amigo Wellington me brindou com músicas no note. E posso afirmar que
há umas quatro gravações aqui que se eu colocar para tocar, escrevo
imediatamente. É automático. Como entender?
Bem,
Zé Ramalho cantava absurdamente no meu rádio, volume 40, janelas abertas, sinal
fechado e todo mundo ouvindo eu cantar, também. Sou a Elba, quando Zé canta. Aí
eu fico prestando atenção na voz, que pouco envelhece... Ele divide o palco no
show ao vivo com Alceu Valença. Eu pulo, pulo, pulo, até que resolvo ouvir “Coração
bobo”, e meus ouvidos sorriem. Brincam, aqueles dois. Que vozes! Eu já sinto
saudade, porque coração de poeta é assim. Já fico pensando que Antônio não
saberá muito daqueles dois. E agradeço a Deus por ser contemporânea deles.
Viva a
música! Sete notas musicais e... a perfeição! Sete notas musicais e ela está
lá, de todos os tipos e formas que se possa imaginar, e ainda vem muito, muito
por aí. Graças a Deus!
Voltei
ouvindo Titãs. O meu álbum preferido, o acústico ao vivo, com violinos e outras
cordas no palco. Quem foi que inventou o violino, meu Deus? Coisa mais linda! E
aquela mistura toda de vozes dos meninos dos Titãs que parecem uma voz só. E as
composições, naquele manifesto contra o podre-social-podre, que tanto ouvi
quando menina das gargantas de Chico, Edu Lobo, Gil. Naquela poesia que tanto
ouvi de Vinicius, de Nara, de Jobim.
Duvidosa
– e temerosa! – de que Antônio não se sirva dessa nata, vim me consolando. O
talento, o dom, ainda existe. A gente fica malhando, reclamando da música que
se faz hoje em dia, mas diante da cultura musical que as pessoas receberam ao
longo de suas vidas sobrou-lhes pouco, não? E, no entanto, compõem, criam
instrumentos, dançam, revelando o que têm de melhor, a expressão do corpo, do
rosto, da vida! Uma apresentação de meninos de rua – ou não – dançando aquilo
que eu chamava de funk antigamente é
uma coisa linda de se ver!
E a
alegria da plateia? Zé e Titãs eram álbuns ao vivo. E, de vez em quando meu
braço arrepiava sobre o volante só de ouvir a galera vibrando, aplaudindo,
assoviando... Depois de uma apresentação de Arnaldo Antunes cantando “O pulso
ainda pulsa” (música maravilhosa!), todo mundo num grito só de “fica, fica,
fica...”, do mesmo jeito em que pedia para ficar o pessoal que recebeu Alceu no
show de Zé Ramalho. Às vezes eu dou uns gritos, também: “Uhuhuhu!!! Fica!!!”...
Se alguém me vê no carro, acha que sou louca.
Assisti
no fim de semana passado o vídeo “Singing in the rain”, com Gene Kelly. Cinco
minutos e eu estava aos prantos, com Antônio no meu colo (eu o chamei para assistir).
Como pode aquilo ter acontecido, e eu não ter podido viver naquela época? Emocionada
diante do talento brilhante de se fazer algo tão ingênuo e apaixonante, tão
maravilhoso, tão bom que fica eternamente. Antônio adorou! Ficamos conversando
sobre sapateado, e depois ele escolheu outros vídeos para assistir. Todos da
mesma época. Sinatra e Fred Astaire...
Mas
quando uma mulata samba, quando alguém sacode uma caixa de palitos de fósforo,
quando alguém dedilha um violão, quando meu pai assovia, quando ouço Kansas com
“Dust in the Wind”... Não é a própria presença do divino? Que dizer da Susan
Boyle? Que voz é aquela, senão a própria voz de Deus?
Cresci
com meus pais me ensinando as canções de Elizete Cardoso, Isaurinha Garcia,
Nora Ney, Silvio Caldas, Orlando Silva, Antônio Maria, Pixinguinha, Dolores
Duran... A gente se calava para que eles pudessem cantar. O sentimento era
apalpável! E eles cantam até hoje lá em casa, e ouso dizer que cantam ainda
melhor, hoje.
Abençoada
seja a música! Abençoada a voz grave dessas cantoras de música gospel, esses
corais, que trouxeram para a igreja muitos perdidos no mundo. É maravilhosa a sensação
de ouvir uma voz poderosa falar em Deus. Eu me arrepio!
Abençoados
sejam aqueles que das sete notas musicais fazem nossa vida mais feliz.
Completam nossa vida. Aqueles que compõem, aqueles que cantam, aqueles que representam
a música dançando.
Cantamos
em línguas diferentes e, no entanto, nos entendemos. Música é paz, é união.
Àquilo que não se traduz em bem, não podemos chamar de música. Rendo-me à boa.
Curvo-me. Agradeço. Música, sou feliz, só porque você existe!
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