quinta-feira, 10 de maio de 2012

Janela aberta: eis a vida!

(Este texto escrevi em homenagem a Antônio: uma janelinha anda se abrindo em sua boca, convidando-o a viver. Finalmente, o primeiro dentinho mole!!!)

Para mim, foi ontem. Eu olhava diariamente as gengivas rosadas de Antônio, então com sete meses, procurando por algum sinal esbranquiçado que me anunciasse a chegada dos seus dentinhos...
Há dois dias, no entanto, Antônio, agora com seis anos, presenteou-me com uma novidade: o primeiro dentinho mole.
São as mesmas gengivas, rosadinhas, lindas, vigiadas diariamente por uma mãe ansiosa... Desta vez a espera era pela queda, não pelo surgimento dos dentinhos. Então, para Antônio, foi igualmente emocionante viver a experiência. Quando veio até a cozinha revelar-me o descoberto – um dentinho que se movia pra lá e pra cá – recebeu de minha parte um abraço apertado. Ali eu me despedia do meu bebê. Eu comuniquei a ele que agora começaria uma nova etapa em sua vida. Antônio chorou, comovido com meu discurso de mãe-quase-idiota. Ficamos assim, os dois, por alguns segundos abraçados (quem se lembra do “para sempre”?), sem dizer mais nada, como que sofrendo uma alegria. Sofrer uma alegria... é possível, hoje sei.
É sofrida essa alegria de ver o filho crescer. Agora que a janelinha se abre no sorriso de Antônio vejo a vida se lhe apresentando, convidando-o para explorá-la. E sinto meu corpo tomado por uma emoção indescritível: não sei se lhe digo para ir, ou se lhe imploro para ficar.
Coincidentemente (se é que isto é uma palavra que pode ser usada por alguém que crê em Deus), no mesmo dia em que soube do movimento do dentinho – ousado, querendo brincar – havia levado Antônio para uma nova escola (É, eu não resisti à Fifi...). Deixei meu filho no portão às treze horas, solicitei uniformes para ele, e saí. Quando voltei para buscá-lo, às dezessete horas, encontrei a minha espera um menino uniformizado, lindo, enorme, com as etiquetas da camiseta para fora quase como que esfregando em meus olhos um crescimento que eu teimava em não ver: Antônio, dentro de um uniforme tamanho 10, vestido como os outros, mochila nas costas, vivendo...
Eu não sei bem onde foi parar aquele bebezinho que eu punha sentado no sofá e abria a boca para tentar enxergar algum dentinho... Não sei se está tão longe, pois quando olho seu sono durante a noite, vejo aquela mesma cabecinha redondinha coberta por cabelos pretos que eu via ao retirá-lo do berço para amamentá-lo. E nessa mistura de passado – tão recente! – presente e o futuro que às vezes insisto em arriscar prever, segue Antônio, descobrindo a vida que lhe é própria, desprendendo-se de mim, desenhando os primeiros capítulos de sua história...
Janela aberta: eis a vida, meu menino! Vá gozá-la, porque é algo maravilhoso viver! Queira Deus que eu consiga entusiasmar Antônio com essa sensação que tenho de que Deus nos abençoa cada dia que nos permite abrir os olhos pela manhã e oferece um Sol lá fora... O dia, a oportunidade de fazer o bem, de ser e fazer alguém mais feliz.
O dentinho, primeiro de outros tantos que virão, será colocado sob o travesseiro, assim que deixar a boca de Antônio. E eu o porei lá orando, agradecendo a Deus pela vida do meu filho, por merecê-lo, por ter sido escolhida por Ele para apresentar Antônio à luz.
Hoje foi esta a emoção. Uma janelinha abrirá novos horizontes para Antônio, e eu preciso urgentemente me preparar para o que vem depois, embora eu quase possa jurar que, por mais que uma mãe se prepare, tudo é imaturamente emocionante numa hora dessas. Amanhã os dentes permanentes tomarão posse de seus lugares e receberão, um pouco mais a frente, os inevitáveis aparelhos ortodônticos e “Cia”. E serei mãe de um pré-adolescente, de um rapaz, de um homem, ainda que veja um bebê com os olhos do coração.
Isto é viver. Simples, quando tanta gente insiste em complicar. Faltou luz enquanto eu escrevia este texto, e Antônio já brincou arriscando todas as possibilidades de se divertir numa casa escura. Acho que eu, na idade dele, estaria chorando numa situação dessas... Mas meu herói é destemido, é cheio de VIDA. Mostra para todo mundo o dentinho que está prestes a cair. É criança. Sonha. Espera pela fada do dente. Dia desses me contou que deseja que a fada ponha mil reais no travesseiro. Riu. Estava fazendo piada comigo. E eu, velha boba, aos quarenta e três anos, posso dizer a quem quiser ouvir que meu melhor amigo é o meu filho, um futuro banguela, de seis anos de idade.

6 comentários:

  1. Hoje vi você e o Antônio indo ao mercado. Percebi a alegria em seu olhar Karla, entendo quando você expressa o sentimento tão lindo pelo seu filho dizendo neste texto a seguinte frase: "Meu herói é destemido, é cheio de VIDA." É lindo perceber o imenso carinho de uma mãe por um filho. As palavras expressam nada mais que a alegria de está perto de quem tanto amamos!

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  2. A cada dia você consegue transformar vida em poesia, poesia em vida. Seu "muso inspirador Antonio" tem muita sorte por ter escolhido, lá em cima ainda, a Sra.Karla como mãe e anjo de um menino de janela aberta para a vida. Lindo....beijos e saudades!!!

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    1. Antônio transforma minha vida em poesia... Simples, assim. Bjs, minha amiga, cheios de saudade...

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  3. Karla, acompanhei, passo a passo (quase que literalmente) o crescimento do meu casal de filhos, mesmo com a carga de trabalho extenuante. Hoje ele com 16 e ela com 14, ainda me surpreendem. Para você ter um ideia, há, mais ou menos, 6 anos quando chegava à minha casa ao final dos 3 turnos de trabalho, beijei minha mulher e como faço sempre, fui até o quarto deles e me assustei ao ver o meu filho deitado em sua cama: os pés do "bichinho" já estavam para fora da mesma.
    Esse "monitoramento" do crescimento (em todos os sentidos) de nossos filhos, rejuvenesce muito a gente.
    Meus parabéns pelo belo texto, meus parabéns pelo filho e meus parabéns pela mãe que você é. A propósito, FELIZ DIA DAS MÃES!!!

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  4. Obrigada, Francisco! Antônio é um presente de Deus, uma raspinha de tacho que veio ao mundo para me ensinar a viver!... Tem muitas histórias dele por aqui. Depois vá olhando, com calma...
    Com certeza não tardará e verei seus pés pro lado de fora da cama, também. Ele é um menino enorme para os seus seis anos. Ainda vem muita coisa por aí. Resta-me escrever Antônio...

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