quarta-feira, 25 de julho de 2012

Letra, palavra, texto, entrega...

(Hoje - Dia do Escritor - escrevi sobre o prazer de arrumar as palavras que saltam do notebook cada vez que o abro...) 

Olhando o teclado do notebook vejo letras em espaço definido. Ainda não desenvolvi o hábito de digitar sem olhá-las, mas acho que sei o motivo...
Gosto de ver a perfilação das letras, dos sinais de pontuação...
Observando atentamente, já vejo as palavras se formando. Saltam imaginariamente, uma a uma, trazendo-me ao texto. É assim que a inspiração me chega. Pra mim, é como se cada vez que abrisse o note houvesse um texto esperando por ser escrito...
Eu olho a disposição das letras, brinco com as palavras e, aos pouquinhos, vou tecendo a teia dos meus pensamentos, com esses meus dedinhos que felizmente me acompanham.
Foi sempre assim, comigo: meu primeiro amor eu datilografei numa Remmington 22. Meus primeiros desamores ficaram registrados nas folhas de um diário que não existe mais, posto que com a mesma intensidade que amei, sofri, rasgando o caderno na mesma proporção em que se rasgava meu coração. Depois algumas manobras num Word 93, e cá estou eu.
Aqui me transformo em letras, é aqui que sou mais eu. Isto porque registro, provo, testemunho quem sou. Quando falo – e isto faço muito! – as palavras me levam embora, vão para vários lugares diferentes, nas interpretações pessoais de quem as ouve e passa adiante, e adiante, e adiante, com suas impressões pessoais positivas ou negativas de mim. A palavra – aquela que era minha – vai-se embora e, quando vejo, não há mais como alcançá-la. E às vezes sofro por vê-la tão distorcida, tão usurpada...
Aqui não. Meus dedos me indicam o melhor vernáculo, me avisam quando sou redundante, me alertam dos erros. E compõem, junto comigo, o tecido do texto. Falam demasiadamente sobre meu amor por lecionar, sobre meu amor por viver, por ter/ser Antônio,...
Hoje é o Dia do Escritor e, por felicidade, recebi algumas homenagens de amigos. Palavras doces, de admiração e carinho. Fiquei bastante emocionada, porque sei que essas pessoas leem tanta gente importante e, mesmo assim, lembraram-se de mim. E estou agradecida, de coração.
A intenção ao escrever é esta: compartilhar com gente de todo tipo as coisas das quais me acumulo (não é, Claudia Brito?) pensando...
A máquina, a tecnologia, vem no auxílio: hoje com a caneta não consigo. Minha letra já não dá conta da rapidez com que engendro o pensamento. E basta que o teclado se me apresente, lá estão as letras, as palavras, os textos diante dos meus olhos e do meu coração.
É minha arma, sigo escrevendo. Por aqui vou documentando o crescimento inexplicavelmente acelerado de Antônio. Vou dizendo do meu amor pelos meus pais, do meu orgulho por estar fazendo pelo meu filho muito do que eles fizeram por mim. Por aqui vou compartilhando ideias a respeito da educação que se faz para os meninos e meninas de amanhã. Por aqui divido com vocês meus reencontros, confesso meu passado, planejo meu futuro...
Todos aqueles que me conhecem há algum tempo já sabem que sou assim mesmo, do jeito que escrevo. Então, as palavras que se põem sob meus dedos – às vezes acho que elas é que se elegem – só vêm até a tela para divulgar a Karla que sou.
Agradeço a Deus pela oportunidade de deixar meus recados. Se é dom, vem dEle, e devo usá-lo para o bem, para a edificação das pessoas. É o que pretendo estar fazendo. Agradeço por ter tido a Remmington, que guardou tantos segredos de uma jovem menina de treze anos apaixonada e não correspondida. Agradeço pelo caderno/diário que, embora dilacerado, foi companheiro e armazenador de muitas, muitas lágrimas salgadas derramadas por muitos, muitos amores não correspondidos, também. Eu não dei muita sorte. E a solidão me levou ao papel, às letras, às palavras, ao texto, à entrega.
Foi assim, comigo. Hoje preparo o que espero ser um tesouro para Antônio: um baú virtual de lembranças, histórias, preciosidades...
O desejo é o de mudar pensamentos, mexer com conceitos enraizados, desacomodar os leitores de suas cadeiras, ser movida a mudar de opinião, também. Desejo emocionar, confundir, provocar reações. Por enquanto, tenho conseguido, e sou feliz por isto.
Aos escritores de plantão, os da máquina de escrever, do caderno ou do computador, meu orgulho por fazer parte da nação. Vou atrás, no fim da fila, aprendendo, melhorando. Mas sem nunca, de modo algum, desistir de sonhar e deixar o sonho registrado. Senão, não valeria a pena. Seria ignorar o balé das teclas implorando a vez. E ignorar o texto seria deixar o sonho à margem. “Bora” sonhar?

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