domingo, 22 de julho de 2012

Perdão

(Depois de uma abençoada noite de reencontro, vim aqui para pedir perdão a vocês, meus queridos alunos...)


Passei o dia ansiosa pelo reencontro. Viajei acompanhada por uma lua sorridente, que me parecia tão emocionada quanto eu. Luas crescentes são sempre simpáticas. A natureza é extremamente acolhedora, e Deus, infinitamente bom!
Demorei a chegar. A viagem durou mais tempo que o previsto. Mas, ainda que atrasada em quase uma hora, pude vê-los lá, à minha espera...
Sentados à mesa, jovens com uma alegria que o corpo todo revelava. E fui decifrando cada olhar e traduzindo em nomes: Mariana, Lucas, Matheus, Ianê, Victor...
Dentro de cada abraço recuperei o tempo perdido, matei um bocado da saudade. Fui apresentada a outros dois jovens, Luiza e Bruno, pares românticos daqueles que se dispuseram a deixar de namorar um pouquinho para ir me ver.
E, acomodando-me numa cadeira, comecei a saber deles, dos meus queridos... Ouvindo suas histórias imaginei por uns minutos estar em 1998, 1999... Depois que a gente fica velho vê os jovens como crianças. E foi difícil transportar corpos tão pequenininhos para aquelas alturas, principalmente a dos meninos, que passavam de mim!
Mas seus olhares – estes sim! – estavam lá, do mesmo jeito. E, relembrando acontecimentos da época em que estivemos juntos, fui confirmando minha tese de que não haviam, mesmo, se esquecido de mim. Foi aí que resolvi pedir perdão a eles... e quero registrar o meu pedido, oficialmente, aqui.
Eu peço perdão a vocês, alunos que passaram por mim, por todos os erros que cometi. Deixei Lucas em recuperação em julho, só para que completasse as tarefas do livro de Matemática, que ele nunca fazia em casa. “Seria um bom exemplo para os outros alunos”, a diretora argumentou, convencendo-me. Lucas sempre foi excelente aluno e, certamente, fazer ou não o dever de casa jamais interferiria em seu aproveitamento. Quanto à Matemática, pouco lhe serviu para ser, hoje, o que já anunciava lá atrás: Lucas é instrutor em cursos de meditação, respiração, relaxamento...
Lucas é só um exemplo. Fiz mal a muitos, ainda que com a melhor das intenções! E cinco deles iam me dizendo isto, entre uma e outra fatia de pizza, pois se tornaram homens e mulheres, são responsáveis, batalhadores, estão correndo atrás das oportunidades para que a vida lhes seja um pouco melhor, e nem sabem a tabuada de cor.
Minimizada, arrependida, mas feliz demais pela parte que me cabe, pedi-lhes perdão uma, duas, três, várias vezes... Eles riam. São alegres como é alegre a juventude...
Perdão, meus amores. Perdão pela ausência depois da festa de encerramento. Um Papai Noel (Tio Rubens,não?) entregou-lhes os presentes de Natal, os microfones anunciaram a chegada das férias, vocês se foram, eu também, e nem os vi crescerem...
Não estive ao seu lado quando os hormônios da adolescência romperam suas vísceras e os fizeram chorar, sofrer, odiar o espelho... Não estive ao seu lado quando brigaram com o melhor amigo e, por orgulho, deixaram tanto tempo passar na distância... Não fui eu quem afagou-lhes os cabelos na primeira dor de amar sem ser correspondido... Não lhes expliquei as dúvidas que surgiram ao longo da escola, depois que me deixaram... Não mais os vi, os segui. Nenhuma piada para alegrar uma tarde cansativa e sem graça. Nenhuma brincadeira (pique-se-esconde?) no recreio...
Quero lhes dizer que desde que comecei a ter de volta o melhor do meu passado reencontrando vocês pela internet sou uma pessoa diferente. Aposto no que faço, confio no que sou. Porque o amor de vocês me prova que vale a pena tentar.
Bruno, o novo “agregado”, estuda Física e quer ser professor. Por “coincidência” sentou-se bem à minha frente no restaurante, o que nos permitiu conversar bastante sobre o terror da Matemática. Bruno quer ensinar uma Matemática melhor para as crianças. Tem esperança nisto. E por ser tão jovem encheu meu coração de alegria. Disse a eles que ainda espero retornar aos bancos da Faculdade e formar-me professora de Matemática. Eu vou com Bruno. Na certeza de que tem mais por aí.
Olhando as fotos de ontem, vejo que meus olhos brilham. E vejo brilho nos olhos deles, também. Acho que estou perdoada. E por sentir um perdão tão reconfortante, agradeço pela noite de ontem: obrigada, Senhor!

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