sexta-feira, 13 de julho de 2012

Re-conhecer pelo olhar

(Quando às vezes acontece de eu atender às tentações do mundo em duvidar se estou no caminho certo, Deus me olha, e me arrebata. E Ele olha pra mim com os olhos de meus ex-alunos, precioso resgate virtual.)


Só um louco pensaria diferente: tudo acontece da maneira como Deus quer que aconteça.
A presença de Deus na minha vida é constante, é viva, é fervorosa. Obrigada, Senhor!
Não foi só no texto anterior a este que confessei procurar pelos meus ex-alunos observando as crianças nos lugares por onde passo. Daquela vez foi em Niterói, mas onde quer que eu vá olho ansiosa os rostinhos dos pequenos nos arredores das escolas onde lecionei à procura dos meus amados, que um dia estiveram ao meu redor numa sala de aula...
Talvez esta seja a centésima vez que eu diga, mas vou repetir, orgulhosa: eu sou muito feliz! Tive uma vida feliz. Fui uma professora feliz. Não há do que reclamar.
Hoje estou aqui, página aberta diante de vocês, para compartilhar minha emoção por mais um reencontro. Pois bem:
Há mais ou menos três meses estive diante dos olhos de Neydson, ex-aluno de 1992, num abraço do qual duvido ter saído até agora. Tendo me informado que Iguaba Grande constava em seu roteiro de viagem, sugeriu-me um encontro. Combinamos um local próximo à lagoa para nos vermos. Vinte anos haviam se passado. Eu, nervosa, emocionada desde a noite anterior, cheguei bem mais cedo ao local do encontro e, ainda que Neydson tivesse me avisado que passaria pela estrada dirigindo, procurei pelo menino nos volantes de todos os carros que passaram por mim...
Depois de alguns minutos de uma espera difícil (quantos minutos cabem em vinte anos?) um toque no meu ombro trouxe-me meu aluninho de volta: era ele, Neydson, meu passado feliz, de volta aos meus braços, segurando minhas mãos como no primeiro dia de aula no Colégio Daflon Ferraz. Trazia-me flores, e um sorriso inconfundível. Ele estava de óculos escuros, e eu pedi, abobalhada, que os tirasse do rosto: eu queria ver os olhos de Neydson.
Então o reconheci, verdadeiramente. Ali estava o meu sorriso. Meu aluno querido, meu passado de que me orgulho tanto! Guardei na memória por todo este tempo os olhos de Neydson, o seu olhar. E os encontrei naquele homem. Ele deve achar que cresceu. Eu o vi com seus oito anos de idade...
Reencontrei Bruno, outro ex-aluno, encontrando seu olhar, também, apesar de quinze anos depois. Olhos grandes, expressivos, contornados pela alegria que se tem aos nove anos e, contudo, com uma doçura incomum. Jamais me esqueceria. E onde quer que fosse, por onde quer que tivesse caminhado eu o reconheceria, bastaria que me olhasse nos olhos...
Hoje  estou aqui, perplexa diante dos olhos de Matheus. Fui surpreendida com uma solicitação de amizade no facebook e, ainda que a foto me revelasse um homem, pude estar com meu menino, aluno da terceira série, em 1999, correndo pelos pátios do recreio, a brincar de pique, a esperar pelas minhas “palmas” para retornar à sala...
Vem tudo muito rapidamente à lembrança. E são recordações, felizmente, agradáveis para mim e para eles, também.
Agradeço a Deus pela vida que tracei. Pelos rastros que deixei, por tudo o que fiz. Hoje a evolução virtual aproximou-me de mim mesma. E quando o cansaço tenta vencer-me com um cotidiano que às vezes me parece óbvio e previsível, recebo uma rasteira divina: recebo os olhos do meu passado de presente (passado de presente, curiosa combinação de palavras).
Meu amor está aqui, no meu coração. O amor que senti por cada aluno, em suas diferenças tão especiais... Ele solidificou-se e, a cada reencontro, renasce ainda maior. Rezo pelo destino de cada rapaz e moça, homem e mulher que está aí, na lida, vencendo suas batalhas, começando a viver o que será o futuro de Antônio.
Emocionada diante do que vejo todos os dias quando abro o notebook e percebo minhas turmas assinando presença sigo vivendo, trabalhando, tentando incansavelmente mostrar para o povo que duvida – ainda há gente que duvide! – que ser Professor é tudo de bom!
Se uma passagem por Iguaba Grande interrompe um silêncio de vinte anos é porque valeu a pena. No dia em que postei o texto “Feliz reencontro” recebi uma mensagem de Bruno, dizendo que o havia lido e que sentia saudades do tempo em que esteve comigo. Bruno enviou a mensagem pelo celular, estava a caminho da Faculdade, num ônibus... Hoje Matheus me revelou ter pensado em mim dentro de um ônibus, em Niterói, a caminho do ensaio da peça “A gaivota”. Ao procurar-me no “google”, encontrou meu blog. Ao ler o último texto postado,  “Uma viagem a Niterói”, emocionou-se com as circunstâncias em comum: viagem, ônibus, Niterói, gaivota...
Laços. Foi o que tentei estabelecer com eles, desde o primeiro dia em que os vi. Hoje sei que são para sempre. Todos os dias leio uma palavra de carinho vinda de algum deles e me animo para viver o dia. E só por isso vivo.
Talvez um dia eu consiga alcançar o meu objetivo único: fazer com que professores e professoras tomem para si a consciência da responsabilidade do papel que exercem cada vez que dão seus passos em direção à escola. Eu queria estar viva para ver isto acontecer. Enquanto espero, Deus ratifica meu desejo, meu pensamento, meu discurso. Porque se alguém passasse pela experiência que tenho passado nestes tempos, perceberia que vale a pena todo sacrifício quando se consegue conhecer e reconhecer, só pelo olhar.

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