segunda-feira, 15 de outubro de 2012

15 de outubro

Hoje é nosso dia! Não de todos aqueles que receberam o diploma naquele mesmo dia que nós. Tampouco de todos os que o vem recebendo depois do dia em que nos formamos. Hoje o dia é nosso, só nosso. Não é deles, não...

Hoje é dia de quem respira fundo e enche o peito pra dizer-se Professor. É dia de quem vive pelo prazer de exercer a função.
Hoje é o dia daqueles que não reclamam da distância da escola, do preço do combustível, das dificuldades de acesso. Porque quando pisam na sala de aula e vêem-se diante de trinta pares de olhinhos curiosos esquece o caminho percorrido e, simplesmente, entrega-se ao prazer de lecionar...
Hoje não é o dia de quem reclama. Não há professores naquela sala da escola onde se reúnem, entre um sinal e outro, pessoas infelizes, debochadas, cansadas, desgastadas... Hoje, não. Hoje estão comemorando as pessoas que são felizes, as que se revigoram, que renascem a cada dia de trabalho pelo simples fato de conviverem com seus alunos...
É por amor, e não há outro jeito. É um erro querer permanecer na profissão se não se tem amor para dar. Um erro, um pecado, porque lidamos com o que Deus espera do homem. E se não fazemos com amor, vai tudo por água abaixo, e o que Deus espera do homem demora ainda mais a acontecer. Estamos esperando há quanto tempo esse mundo que Deus quer? E tudo por culpa de quem abraçou a profissão de professor com braços e todo o corpo endurecido...
Ah, eu amo ser Professora! E é para gente como eu que o Dia dos Professores foi criado! Agora mesmo, estou passando por uma experiência incrível: todos os dias quando vou buscar Antônio na escola sou recebida com abraços, sorrisos e afagos dos seus coleguinhas de classe. A professora dele já não mais os contém. Como podem saber que sou professora? Não sei. Só sinto. Só os sinto. E mato um pouquinho da saudade do tempo em que tive minhas turminhas: todos os dias beijos e abraços da mesma professora que lhes chamava a atenção sempre que necessário.
Não, não é pra qualquer um. Professor pode ser apenas uma palavra escrita numa Carteira de Trabalho, ou num contracheque. Mas, certamente, o portador de uma dessas duas coisas não saberá o que é ser feliz. Professor é todo aquele que se entrega ao prazer de ensinar. Sim, é um prazer! As alegrias, as conquistas são divididas naquele espaço chamado sala de aula. Não há via de mão única. É tudo recíproco, a gente fica contente com um avanço alcançado e se entristece com um retrocesso. E quem é Professor sai em busca de soluções para aquilo que está incomodando um aluno que tenha ficado para trás.
O dia de hoje é uma festa para quem não dorme direito. A noite que antecede o início das aulas é mal dormida, por conta da ansiedade. As vésperas dos dias de prova também, por conta da cumplicidade que se estabelece com seus alunos. São mal dormidas as noites que se passam enquanto um aluno vai mal, enquanto outro está doente. E perdemos o sono, definitivamente, se um aluno nos procura para confessar um problema na família...
O dia 15 de outubro é para os Professores que são procurados pelos alunos para confissões pessoais, para um choro incontido, para um abraço de conforto. Esses, sim, fazem jus à comemoração. Somente para aqueles que guardam nas caixinhas perfumadas os bilhetinhos, os cartõezinhos, os papéis de balas e bombons, as flores secas...
Quem guarda, como eu, as fotografias, os trabalhinhos, as lembranças do tempo em que foi mais feliz na vida, tem a honra de abrir a boca e dizer que o dia de hoje é seu. Os outros, não.
Àqueles que fecham a porta de suas salas felizes por verem o dia terminado, que contam no relógio os minutos para ouvirem o sinal bater, àqueles que trocam seus planejamentos copiando exatamente o que foi escrito nos anos anteriores, os que não pesquisam, os que não estudam, àqueles que estão mortos em seus espaços esperando a aposentadoria lhe acenar com a cova, àqueles que enxergam a profissão como mero meio de sobrevivência fica uma outra data para ser comemorada. Talvez, 02 de novembro...
Estão proibidos de serem incluídos nas homenagens os professores que confessam não gostarem do que fazem (e ainda há quem não suporte, e não confesse!). Hoje é dia de quem ainda chora, ri, arrepia-se, emociona-se, ensina, educa, seduz, conquista e, sobretudo, APRENDE!
Está perdendo tempo aquele que ainda não percebeu o mistério – ou milagre? – que é saber-se professor e honrar a profissão.
Sim, ainda há muito que percorrer, o caminho é longo para que possamos alcançar a qualidade, as condições de vida digna. Sim, é fato, formamos todos os demais profissionais e não somos valorizados por isto. Mas há um reconhecimento mais do que verdadeiro, e este vive diante dos nossos olhos e importa que saibamos nos alimentar dele: as nossas crianças crescem, e vai depender do que somos ou fomos pra eles o orgulho que sentiremos. É o futuro das nossas crianças que nos mostra se nossa escolha foi certa ou não.
De nada adianta o papel timbrado nas mãos nos outorgando o título de Professores, se não levamos a sério o que fazemos e, por agirmos assim, deixamos alunos pelo caminho, sem outorgar-lhes título algum.
Maus professores não são nada. Não há dia no calendário destinado aos que exercem com descaso a tarefa de educar. Bons Professores são tudo. A estes, está dedicado o dia de hoje. Para quem pertence ao segundo grupo, Parabéns!!!

4 comentários:

  1. Fiquei arrepiada! Parabéns Karla pela coragem de falar tudo que alguns colegas precisam ouvir..Concordo com tudo que foi escrito aqui, infelizmente ao longo dos meus 40 anos dentro da Educação já conheci Professores e professores, aqueles que são envolvidos e aqueles que querem apenas receber o salário no final do mês, que permanece na profissão por conveniência ou incompetência de tentar outra profissão...Amei!

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    1. É, Cleuza... Espero que um dia esse quadro seja bem diferente!...

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  2. Querida amiga, costumo ainda, porque sempre, desde a primeira vez que adentrei uma sala de aula como docente - e lá se vão para além dos meus vinte e poucos anos - entendi, agarradinho a Jean-Paul SARTRE, que "a existência precede a essência". E mamãe, que nunca leu o filósofo (e precisava?), dizia pra mim: _Meu filho, nesta vida, lembremos sempre, que primeiro somos humanos, para depois sermos alguma coisa. A partir da concepção sartreana de mamãe, entendi que eu tinha que ser educador, porque me via e entendia como ser humano e enxergava o outro, primeiro, como ser humano. Depois, sem perguntar, sabia o seu nome, o nome que seus pais deram a essa carcaça, a esse corpo físico, a essa matéria. Mamãe não precisou falar muito, para eu entender que, para ser professor, primeiro eu teria que entender o ser humano, amar o ser humano. Primeiro eu SOU HUMANO, PARA DEPOIS SER PROFESSOR.
    Mamãe sempre foi extraordinária! Uma grande professora!

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    1. Um Professor de maiúsculas diria: "Sou PROFESSOR porque humano".
      Deus abençoe a sua mãe, meu amigo!

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