Há quem diga que existe certa
permissão do oprimido, em relação ao opressor. Isto é horrível de se ouvir,
quando nos diz respeito. Há uns dias isto vem dizendo respeito a mim. E resolvi
me libertar.
Libertar-se não é tão fácil. Exige
discernimento, responsabilidade e, sobretudo, coragem. Verdadeiramente, às
vezes estar-se preso é mais cômodo.
É que eu tenho esta característica, que
muitos dos meus amigos chamam de defeito: vivo a preocupação de não ser
incoerente. Temo pelos exemplos que dou. Controlo a todo o momento se o que
faço testemunha o que digo. Não, ainda não é na metade da vida que se aprende
isto. Talvez mais à frente eu já saiba perceber isto melhor, e aí, ou me torno
ação da minha palavra ou desisto de provar as coisas que prego por aí. Com meus
setenta, oitenta anos, realmente, não estarei tão preocupada assim.
Deste pensamento é que surgem as
dúvidas. Alimentamos-nos bem para morrermos sãos? Vivemos para aprender a viver
à beira da morte?
Quem me conhece sabe o quanto amo
viver, o quanto me orgulho da profissão que tenho, com quanto amor e
responsabilidade realizo meu ofício de educadora. Mas quando a gente percebe
que a vida pessoal está interferindo na profissional, ou vice-versa, é hora de
libertar-se. Nada que se adie. A hora é agora!
Hoje um sentimento de alegria
invadiu meu coração. Hoje senti orgulho de mim mesma. Hoje optei por viver, e o
que é melhor, ser feliz! As coisas hoje em dia nos levam à depressão muito
rapidamente. As vitrines piscam produtos que nunca conseguiremos ter – e nem
sei se precisamos deles! – e então nos endividamos, inconsequentes, para
adquirirmos algo para um prazer tão instantâneo e célere! Juros altos no final
do mês nos cobram, no boleto do cartão de crédito, por um produto que já está
fora de moda até que a fatura chegue.
Há certa permissão do oprimido, sim,
diante do opressor.
O mundo nos diz que não somos
capazes de ter, de ser, de fazer. O mundo nos gerencia. O poder nos gerencia, e
as pessoas que eventualmente ocupam as cadeiras hierarquicamente superiores
tentam se apoderar das nossas ações. Quando nos damos conta, estamos subjugados
a pessoas incompetentes, inconvenientes, imaturas, intolerantes e sequer
questionamos isto. Obedecemos. Ponto.
Não quero crescer assim, embora
saiba que já passei do tempo de crescer. Evoluir é todo dia. Eu quebrei umas
correntes hoje. Eu disse não. Eu escolhi ser um pouco mais feliz.
Hoje quero ser rápida por aqui. Vim
só dar o meu testemunho, porque sei que há muita gente querendo tomar decisões
na vida – tanto pessoal, quanto profissional – com o objetivo único de se
libertar. Então, vim aqui dizer que o gosto é ótimo! E quando andava pelas ruas
pela manhã, o vento bateu-me à cara como em 1995...
Em 1995 atrasei-me cinco minutos
para chegar à escola onde trabalhava. Eu tinha que chegar às 7h25min e cheguei
às 7h32min. Entrei na sala dos professores e a diretora – dona da escola –
estava nervosa, e começou a dizer que já estava preparando uma aula para os
meninos, que eu deveria ter avisado do atraso, e blá, blá, blá...
Acontece que eu andava insatisfeita
naquela escola, e todas as manhãs eram um suplício pra mim, já havia um tempo.
Eu acordava às 5h para poder chegar às 7h25min, nunca havia me atrasado antes.
Todos os dias ensaiava o pedido de demissão. Acabava deixando pra depois, por
conta de gostar demais dos meus alunos. E naquele momento, aquela mulher
mexendo a boca (eu já nem ouvia mais o que ela dizia) só me convidava à
liberdade. Uma professora entrou, e eu pedi a ela que retirasse minha bolsa da
sala da quarta série. Nem entrei. Deixei a escola, mesmo depois de ver a
diretora chorando, arrependida. Ela até poderia estar. Eu, nunca. Aquele foi um
dos dias mais felizes da minha vida. Vento na cara, como o de hoje, embarquei
no ônibus de volta a casa e dormi, de tão leve!
Umas e outras falas fizeram-me
quebrar as correntes, também, ao longo desses meus vinte e nove anos de trabalho.
E dou, sempre, graças a Deus por cada oportunidade!
Então, esse mesmo Deus me trouxe até
aqui para dizer a você que a hora é agora. E que as chances aparecem, é preciso
que estejamos atentos.
Deus abre janelas para todas as
portas que se fecham. E ninguém é obrigado a viver triste, ou trabalhar
insatisfeito, porque o companheiro ou patrão resolveu ser o opressor da vez.
Para que a liberdade aconteça, é
necessário percebermo-nos escravos. E desejarmos sair desta condição. Depois
deste reconhecimento, é entregar a vida nas mãos de Deus e seguir adiante,
vento na cara, sentindo aquele alívio indescritível, perene, maravilhoso!
Hoje meu nome é liberdade. Obrigada,
Senhor!
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