quinta-feira, 11 de abril de 2013

Libertar-se

(Experiência compartilhada com você que anda querendo libertar-se daquilo que lhe faz mal.)


Há quem diga que existe certa permissão do oprimido, em relação ao opressor. Isto é horrível de se ouvir, quando nos diz respeito. Há uns dias isto vem dizendo respeito a mim. E resolvi me libertar.

Libertar-se não é tão fácil. Exige discernimento, responsabilidade e, sobretudo, coragem. Verdadeiramente, às vezes estar-se preso é mais cômodo.

É que eu tenho esta característica, que muitos dos meus amigos chamam de defeito: vivo a preocupação de não ser incoerente. Temo pelos exemplos que dou. Controlo a todo o momento se o que faço testemunha o que digo. Não, ainda não é na metade da vida que se aprende isto. Talvez mais à frente eu já saiba perceber isto melhor, e aí, ou me torno ação da minha palavra ou desisto de provar as coisas que prego por aí. Com meus setenta, oitenta anos, realmente, não estarei tão preocupada assim.

Deste pensamento é que surgem as dúvidas. Alimentamos-nos bem para morrermos sãos? Vivemos para aprender a viver à beira da morte?

Quem me conhece sabe o quanto amo viver, o quanto me orgulho da profissão que tenho, com quanto amor e responsabilidade realizo meu ofício de educadora. Mas quando a gente percebe que a vida pessoal está interferindo na profissional, ou vice-versa, é hora de libertar-se. Nada que se adie. A hora é agora!

Hoje um sentimento de alegria invadiu meu coração. Hoje senti orgulho de mim mesma. Hoje optei por viver, e o que é melhor, ser feliz! As coisas hoje em dia nos levam à depressão muito rapidamente. As vitrines piscam produtos que nunca conseguiremos ter – e nem sei se precisamos deles! – e então nos endividamos, inconsequentes, para adquirirmos algo para um prazer tão instantâneo e célere! Juros altos no final do mês nos cobram, no boleto do cartão de crédito, por um produto que já está fora de moda até que a fatura chegue.

Há certa permissão do oprimido, sim, diante do opressor.

O mundo nos diz que não somos capazes de ter, de ser, de fazer. O mundo nos gerencia. O poder nos gerencia, e as pessoas que eventualmente ocupam as cadeiras hierarquicamente superiores tentam se apoderar das nossas ações. Quando nos damos conta, estamos subjugados a pessoas incompetentes, inconvenientes, imaturas, intolerantes e sequer questionamos isto. Obedecemos. Ponto.

Não quero crescer assim, embora saiba que já passei do tempo de crescer. Evoluir é todo dia. Eu quebrei umas correntes hoje. Eu disse não. Eu escolhi ser um pouco mais feliz.

Hoje quero ser rápida por aqui. Vim só dar o meu testemunho, porque sei que há muita gente querendo tomar decisões na vida – tanto pessoal, quanto profissional – com o objetivo único de se libertar. Então, vim aqui dizer que o gosto é ótimo! E quando andava pelas ruas pela manhã, o vento bateu-me à cara como em 1995...

Em 1995 atrasei-me cinco minutos para chegar à escola onde trabalhava. Eu tinha que chegar às 7h25min e cheguei às 7h32min. Entrei na sala dos professores e a diretora – dona da escola – estava nervosa, e começou a dizer que já estava preparando uma aula para os meninos, que eu deveria ter avisado do atraso, e blá, blá, blá...

Acontece que eu andava insatisfeita naquela escola, e todas as manhãs eram um suplício pra mim, já havia um tempo. Eu acordava às 5h para poder chegar às 7h25min, nunca havia me atrasado antes. Todos os dias ensaiava o pedido de demissão. Acabava deixando pra depois, por conta de gostar demais dos meus alunos. E naquele momento, aquela mulher mexendo a boca (eu já nem ouvia mais o que ela dizia) só me convidava à liberdade. Uma professora entrou, e eu pedi a ela que retirasse minha bolsa da sala da quarta série. Nem entrei. Deixei a escola, mesmo depois de ver a diretora chorando, arrependida. Ela até poderia estar. Eu, nunca. Aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida. Vento na cara, como o de hoje, embarquei no ônibus de volta a casa e dormi, de tão leve!

Umas e outras falas fizeram-me quebrar as correntes, também, ao longo desses meus vinte e nove anos de trabalho. E dou, sempre, graças a Deus por cada oportunidade!

Então, esse mesmo Deus me trouxe até aqui para dizer a você que a hora é agora. E que as chances aparecem, é preciso que estejamos atentos.

Deus abre janelas para todas as portas que se fecham. E ninguém é obrigado a viver triste, ou trabalhar insatisfeito, porque o companheiro ou patrão resolveu ser o opressor da vez.

Para que a liberdade aconteça, é necessário percebermo-nos escravos. E desejarmos sair desta condição. Depois deste reconhecimento, é entregar a vida nas mãos de Deus e seguir adiante, vento na cara, sentindo aquele alívio indescritível, perene, maravilhoso!

Hoje meu nome é liberdade. Obrigada, Senhor!

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