Meu
maior desejo nos últimos tempos: passar para os meus amigos leitores que vêm
até aqui a sensação de que a vida é breve e maravilhosa! De que a vida é uma
bênção concedida por Deus aos Seus escolhidos...
Hoje,
no entanto, como a dor de uma faca cravada no peito, senti no coração a
tristeza de algo sobre o qual já havia falado, escrito, mas que embora seja
desabafo meu, não passa. Hoje vou escrever sobre um espectro de gente. Sobre um
pobre coitado – eu não gosto deste termo, mas falta-me outro – que desperdiça o
dom da vida existindo, pura e simplesmente.
Tem gente
que é assim, infelizmente: quando se dá por si, percebe que existe. E não sabe
o que fazer com isto. Então, respira o dia, até que ele anoiteça. Depois,
respira a noite, aguardando o amanhecer.
Imagino
como Deus deve entristecer-se por constatar essas existências. Mas ainda há
casos piores. Tem gente que, dando-se conta de que existe, quer aniquilar o
outro, aquele que ama a vida, aquele que dá valor ao presente que recebeu de Deus,
quando foi a vida fecundada.
Tenho
olhado muito para trás, ultimamente. Refeito meu caminho, repensando um monte
de coisas. Não, eu não cheguei a conclusão alguma. Temo chegar à morte sem concluir nada. Mas também não sei se viver é concluir. E aí, fico com medo de
que, tendo concluído, reste-me deitar ao caixão.
Os
sinônimos da palavra espectro empilhados constroem aquele ser, que de humano
talvez nada tenha. Fui ao Google Images buscar a imagem para o texto, e mais me
pareceu álbum de fotos do “Senhor Espectro”. Eu tive medo, mas, sobretudo, tive
pena.
Sinto
pena de quem acha que o mundo não dá voltas. De quem se aproveita das situações
efêmeras da vida para internalizar que são eternas e, diante disto, humilhar e
perseguir os outros.
Homens
não deveriam – jamais! – sentir inveja de mulheres. Este é, em minha opinião, o
sentimento mais repugnante. Um homem, a quem Deus destinou a força, a coragem,
a sobrevivência da espécie, desmerece o gênero quando inveja uma mulher, seja
por sua beleza, por sua inteligência, por seu profissionalismo, por sua
competência. Isto é vergonhoso. Mas espectros não são homens. São apenas
ensaios de sombras de homens. E hoje ando às voltas com um espectro que honra o
nome e todos os sinônimos possíveis de se encontrar em todos os dicionários!
Mulheres
não vieram ao mundo para serem invejadas por homens, ou sombras de homens, ou
ensaios de sombras de homens. Mulheres vieram ao mundo para serem contempladas,
admiradas, veneradas, desejadas, cuidadas, amadas e, para além de tudo isto,
respeitadas.
Não
saí de casa para trabalhar pelo simples querer de ir trabalhar. Saí de casa
pela necessidade de sobreviver com dignidade, e ajudar aos meus pais a viverem
uma vida digna, também. Mas saí, e quando decidi que seria professora honrei a
classe, exercendo meu ofício da melhor maneira que pude. Errando e acertando,
fui aparando minhas próprias arestas. Hoje vejo o quanto fui querida, meus
ex-alunos estão próximos de mim, são meus amigos, apontam minhas falhas à
época, mas reconhecem o meu amor – de sempre! – pelo ato de educar. Depois que
deixei a sala de aula, depois dos dezesseis anos em que estive nela, mudei de
função e hoje, Inspetor Escolar – com muito orgulho – tento fazer o melhor que
posso.
Foi
uma das coisas que aprendi com meus pais: meu pai foi o melhor mecânico
enquanto foi mecânico, e minha mãe, a melhor balconista da Farmácia Vera Cruz.
Eu não tenho nenhuma dúvida disto. E sei que eles acreditam que saí de casa
para morar tão longe para ser a melhor Inspetora Escolar que puder ser.
Então
era isto o que eu queria dizer. Que quando Deus criou homens e mulheres com
suas diferenças, não foi à toa. Nós não somos iguais. Quando Deus se
entristeceu diante do pecado confessado, destinou Adão a sobreviver do seu
próprio suor, e Eva a parir com dor. Hoje muito do que compõe nossa geladeira
em casa é fruto do trabalho da mulher, enquanto o homem não sabe, nem vai
saber, o que é a dor do parto. Então tivemos que ir à luta para ver uma
geladeira mais colorida em casa e, “sem querer”, apresentamos nossa força e
inteligência aos homens que já estavam lá fora, e eles, agora, nos invejam. E
invejando, perseguem.
Eu
pensei em resistir, mas meus quarenta e quatro anos não me sugerem isto. Lendo
os últimos textos que postei aqui, seria ter uma vida diferente daquela que
prego e, decididamente, não vim ao mundo para isto. Pago todos os preços –
altíssimos! – por ser quem eu sou, mas sou. E diante da mesquinharia, da
covardia, das atitudes atrozes que venho percebendo, recuo. Que passe a
cavalaria, que ladrem os cães. Que se levante a poeira. Daqui a um tempo, a
poeira assenta, e nem rastro fica das ferraduras, porque dias substituem dias,
há chuva, há sol, há vento... Vai tudo embora. Os cães latem por outras coisas
(aliás, por qualquer coisa), o tempo passa e tudo está esquecido.
Meu
rastro cheira a rosas, já disse “o outro”, lá, certa vez. E perfume de rosas,
este sim, demora a sair. Fica nas rosas, fica nas mãos de quem as oferece, fica
até nas páginas dos livros em que são guardadas.
Tenho
rosto. Reconheço-me no espelho. Olho profundamente nos olhos das pessoas quando
converso com elas. Às vezes até tenho necessidade de retirar os óculos do
rosto. Não confio absolutamente em quem desvia o olhar de mim. Não permito a
Antônio sequer brincar de fazê-lo. Digo sempre a ele que um homem deve olhar o
outro nos olhos. Não se é assim, e não se é digno de confiança.
Eu
não estou na diagonal da vida. Não procuro pontos de fuga para descansar o
olhar. Não marco dia nem hora para visita. Não me escondo. Não sou sombra, não
nasci para ser espectro. Portanto não sei conviver com quem o é.
Minha
direção é só uma: para frente! “Para o alto e avante”, como diria minha querida
Gisela. Vento na cara, cabelo desgrenhado, muitos tropeços, quedas incontáveis,
choros absurdos, mas uma alegria sem tamanho por ser quem sou, por assumir meus
atos, por olhar nos olhos, por dizer a verdade, andar com ela de mãos dadas,
sempre, inexorável.
Não
persigo ninguém, não admito ser perseguida. Não traio. Dispenso, portanto, a
traição. E não preciso conviver com aquilo que me aborrece. Esta não é a Vida Nova
que prometi para mim, na Páscoa. Estaria dando um testemunho contrário ao que
prego. Isto eu deixo a cargo do Sr. Espectro. Este sim, prega uma coisa e faz
outra, ensinando com seu exemplo torpe de vida aos seus descendentes.
Não
quero carregar comigo a culpa por ser dentro de minha casa um exemplo desonesto
de vida para Antônio.
A
vida é breve e maravilhosa. Eis que opto por uma Vida Nova. E as tentações
deste mundo que não é do meu Deus não vão me persuadir sob a forma de um
fantasma de gente que acha que é alguma coisa. Alma vendida, eu repreendo suas
atitudes nojentas. Engula-as. Estou fora.
Amiga Karla copiando seu texto....Mulheres não deveriam – jamais! – sentir inveja de mulheres, seja por sua beleza, por sua inteligência, por seu profissionalismo, por sua competência.
ResponderExcluirDepois que deixei a sala de aula, mudei de função e hoje, Inspetor Escolar – com muito orgulho – tento fazer o melhor que posso.
Foi uma das coisas que aprendi com meus pais: meu pai foi o melhor Policial, e minha mãe, a melhor dona de casa. Eu não tenho nenhuma dúvida disto. E sei que eles acreditavam nisso que saí de casa para morar tão longe para ser a melhor Inspetora Escolar que puder ser.
..........Somente FÉ com muita ESPERANÇA amiga!!!