terça-feira, 17 de julho de 2012

Desprezo metades

(Amo a vida, e ando procurando por ela nos corpos de pessoas que vivem pelo meio. Pessoas que, pra mim, só não estão mortas porque ainda não se deitaram...)


Não gosto de metades. Vivo na intensidade do inteiro, nada pelo meio. Sofro as consequências, decerto. E disto, muito me orgulho. Pago o preço por ser eu mesma. Meu nome é autenticidade.
É muito mais fácil ser deste jeito, embora tanta gente insista em ser do outro: ando tropeçando em gente que só posso dizer que está viva porque anda não se deitou. Gente inexpressiva. Gente sem palavra. Gente indigna do dom da Vida concedido por Deus.
Deus também não gosta da dúvida, da mentira, da indecisão. O texto é bíblico, está em Mateus: “Dizei somente ‘sim’, se é sim; ‘não’, se é não. Tudo o que passa além disto, vem do Maligno”. E nada do que é morno, também, agrada a Deus.
Sou fria, sou quente. Sou sim, sou não. O preço, como já disse, alto demais, algumas vezes. Mas nada que não se possa pagar. Porque é fácil ser um só, onde quer que se esteja.
A verdade é bonita. Gosto desta frase, que é uma máxima entre os povos ciganos. Feio é lidar com a mentira e seus parentes próximos: a falsidade, a inveja, a dúvida, a falta de caráter. Quando se diz a verdade se vai com ela para todos os lugares, com a segurança de que não há o que ruir... A verdade anda junto com a salvação.
As pessoas morrem aos poucos quando vivem na indecisão. Não sabem tomar atitudes e, quando as tomam, não conseguem sustentá-las por muito tempo. Ora estão num lugar, ora em outro. Ora com algumas companhias, ora com outras. Ora pregam uma “verdade”, ora outra.
A mentira não caminha muitos passos. Perde-se, envolta num emaranhado de frases confusas, numa confusão de movimentos contraditórios. Uma dança oscilante que me causa enjoo. Deve ser este mesmo sentimento com que descreve a Bíblia como vômito de Deus diante do morno, atrevo-me a concluir.
E viver os dias é tão maravilhoso! Tão divino viver a vida! Somos entregues à luz quando deixamos o ventre de nossas mães. Saímos da escuridão confortável para mostrar do que somos capazes aqui fora, para mostrar como podemos multiplicar os talentos com que o Senhor nos presenteia no primeiro choro...
Fico imaginando a expectativa dos anjos lá no céu quando veem uma criança nascendo: “Mais um para melhorar o mundo!”, eles devem pensar. “Deus não desistiu da humanidade!”, devem cantar e dançar em louvor à vida... E, no entanto, tanta gente parte-se ao meio, vivendo a dúvida do dia-a-dia: Vou, não vou. Dou, não dou. Fico, não fico. Faço, não faço. E, tomando decisões das quais se arrependem segundos, minutos, anos, décadas depois, jogam por terra a oportunidade de serem sinceras, verdadeiras, conscientes e fazerem jus aos louvores dos anjos no céu.
Vivo a vida. Acordo, agradeço a Deus por mais um dia concedido, e sigo em frente: rotina imutável para sair de casa para o trabalho, rota definida, relógio cronometrando cada passo. Tudo imprevisível, porém, porque estou à disposição do que Deus quer para mim. Uma certeza, no entanto: a de defender meus ideais, a de dizer sempre a verdade.
Não gosto de metades. Falo, e faço. Simples assim, como dizem nos meios virtuais de comunicação. E me entristece – quase me constrange! – ver gente sem atitude diante das situações que envolvem a responsabilidade do que é viver. Ninguém está aqui por acaso. Todo mundo é um plano de Deus. E é para melhorar o mundo, não para piorá-lo. Fosse assim, e Ele já teria desistido, não foi quem o criou? Teria desistido e acabado com tudo, e nem precisaria de sete dias desta vez. Essa gente que ainda não se deitou para assumir a morte tem adiantado o serviço.
Todos os dias em que acordo e vejo Antônio me sorrir, ouço Deus me dizer que ainda há chance. As crianças são perfeitas para entendermos isto: são verdadeiras, são intensas, são inteiras. Criança não duvida, não fraqueja. E são presença garantida no céu, Ele já nos declarou. Justamente porque são sim, não, quente, frio.
Crianças não são pequenas. Pequenos são os do meio. Os que vivem pelo meio, sentem pelo meio, sabem pelo meio, entregam-se pelo meio. E por estes, Deus – e aí me incluo, num ousado atrevimento com redundância proposital – só tem um sentimento: desprezo pelo tempo perdido na criação.

5 comentários:

  1. Nossa que texto!
    Viajando em cada palavra desse texto lembro-me da conversa que tive com DEUS. Em lágrimas perguntei para ELE: "porque as pessoas mentem tanto?”. Aos poucos fui obtendo respostas através de algumas atitudes de amigos e parentes.
    Pessoas que vivem de engano uma hora acabam caindo em sua própria armadilha. São frias, infelizes, invejosas não conseguem olhar nos olhos e sustentar suas “falsas verdades”. Vivem em cima do muro!
    Estava precisando ler um texto assim...excelente!

    Abraços,

    Ana Cláudia

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  2. Entrei no e-mail só agora!
    E mais um convite especial ao abrir o e-mail me aguardava. Um lindo texto! Só agora fui entender o comentário do face...rs rs

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