sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sobre os dias sem você

(Seis dias sem Antônio: férias na casa da vovó e do vovô, como combinado. E um arremedo de mãe, inquieta, piegas, idiota, resolveu compartilhar o que é sentir saudade.)


Deixei você em São Gonçalo, aos cuidados da vovó e do vovô, faz seis dias. Chegando em casa, o primeiro sentimento foi o de paz. Pude ver os cômodos da maneira como deixei no dia em que saí para ter você, há seis anos...
Nenhuma bagunça. Nenhum barulho. Tudo em... paz.
Confesso a você, meu filho, que esse sentimento durou alguns poucos minutos.
Eu voltei de São Gonçalo à noite. Estava cansada da viagem e, por isso, dormi logo que me deitei. Espalhei-me na cama, sensação confortável de quem teria a noite inteira para se mexer sem machucar ninguém...
Já quando acordei senti sua ausência: faltou o “bom dia!” daqueles olhinhos de jabuticaba, arregalados, prontos para viverem o domingo. Olhei a cama, o quarto, a casa vazia. Percebi que tudo estava no mesmo lugar. Vi que as janelas ainda estavam fechadas, sinal de que você não havia “feito o seu trabalho” de abri-las nos fins de semana. E meu coração ficou apertado quando me dei conta de que estávamos bem distantes um do outro...
Antônio, eu amo você. Seis dias se passaram e nada aqui preencheu seu espaço. Estou agora a contar as horas para pegar a estrada e ir ao seu encontro, segurar você, conferir você, beijar, abraçar e trazê-lo de volta para dentro do meu abraço.
Cada ligação é uma emoção diferente. Uma vozinha de menino, uma conversa esticada, um sussurro pra contar um segredo, uma alegria, uma saudade. Se eu estou confusa entre tantos sentimentos, que pensar de você, que só agora os experimenta? Quer que eu vá buscá-lo, mas quer ficar. Quer me ver, mas quer que eu fique mais uns dias por aqui. Difícil, não é, meu menino?
Então resolvi deixar aqui neste nosso “diário” o registro de uma mãe boba que ainda não sabe o que fazer para conter esse sentimento chamado saudade.
Ando aprofundando suas raízes para que, quando chegar a hora certa – será que saberei, quando ela chegar? – as asas lhe sejam dadas com a consciência tranquila de quem fez o melhor que pôde. Mas aprofundar raízes dói. É egoísmo, eu sei, mas dói.
Sinto falta dos brinquedos espalhados (“já vou guardar!”), dos pés descalços (“já vou calçar!”), da luz acesa (“já vou lá!”)... Sinto falta do volume alto da televisão na hora da música de entrada do desenho preferido... Sinto falta de você.
Para minha alegria, amanhã isto tudo termina. Quando eu buzinar na esquina da rua da casa da vovó verei você correndo, e agradecerei a Deus por ser ao meu encontro, como na praia, como na vida... Erguerei você em meus braços e nos uniremos num abraço forte daqueles que só nós dois sabemos. Sentarei na calçadinha da varanda e ouvirei de você todas as histórias, que virão conosco numa narrativa infinita que durará até chegarmos em Iguaba, finalmente.
E aqui terei meu Antônio de volta: mais crescido, certamente, com band-aids pelo corpo comprovando o quanto foi feliz ao lado de vovó, vovô, dindinha, dindinho e seu parceiro-primo-amigo-irmão Miguel.
De volta à casa que é sua, tomará seu espaço. Em pouco tempo tudo estará pelo avesso por aqui. Terei iniciado os sermões, as broncas, os cansaços. E, no entanto, serei a pessoa mais feliz do mundo!
Deus abençoe você, meu filho querido. Que eu possa estar sempre por perto, velando seu sono, cuidando para que nada de mal lhe aconteça. Que seus voos para a liberdade de ser você mesmo aconteçam muitas e muitas vezes ainda que, por ora, se limitem a São Gonçalo. E eu louvo ao Senhor, porque é lá que estão minhas raízes, minha vida, minha família. Lá está a sua referência do que é ser sangue do seu sangue. É lá que você recebe e dá o amor mais verdadeiro. E enquanto este encontro de gerações puder acontecer farei com que você o viva, porque é assim que se aprende a ser um homem de verdade.
Agora, resta-me olhar, olhar e olhar o relógio. Daqui a pouco vou me deitar, pra ver se as horas passam mais rápido. Amanhã, quando me levantar, irei em sua direção, na direção da minha real felicidade: ter você na minha vida. Até amanhã, meu amor!

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