Deixei pelo rastro de rosas do meu
caminho muitas pessoas jogadas pelo chão. Não volto atrás. Não as vejo. Sigo.
Deus me ensinou a enxergar o coração
das pessoas. Já não me surpreendo tanto quanto antes. Aos quinze anos, enchia o
travesseiro com lágrimas por uma decepção. Hoje, não mais: respiro fundo, e tudo
o que sai do meu coração é um “obrigada, Senhor!”...
Já faz um tempo que percebo que estou
me construindo e, que pela minha idade, já entrei na fase do acabamento. E,
justamente por isto, estou muito mais exigente: quero material de primeira,
quero garantir meu futuro.
Tornei-me uma pessoa diferente, nestes
tempos de construção. Usei artigos que não se usa mais, alicercei demais uns
ideais que agora tomaram corpo dentro de mim, e não sei mais viver sem eles.
Rubem Alves falaria que construí um jequitibá no lugar de um eucalipto. Mas
como sei que ele ficaria feliz por isto, fico também: eis que sou jequitibá,
enquanto eucaliptos me rodeiam.
Sou inteira. Radical. Direta. Muitos
temem essas características (eu pensei em escrever “qualidades”). Mas elas
estão lá, concretadas na minha base, vêm se solidificando há quarenta e quatro
anos, inútil querer mudar.
Ontem recebi um conselho daqueles que
chegam até nossos ouvidos como “crítica construtiva”. Eu não acredito em
crítica construtiva, quem bem me conhece, sabe. Em nenhuma situação. “Crítica
construtiva” é, para mim, mais uma das expressões ridículas que ouvimos em reuniões
de Conselho de Classe. Eu abomino as reuniões de Conselho de Classe. Abomino,
então, o que se chama por aí de “crítica construtiva”.
Mas eu dediquei alguns segundos a ouvir
o tal do conselho, e tudo o que pensei foi: “preciso dizer para todo mundo que não sou uma encomenda de vida”...
Há gente que encomenda a própria vida.
Encomendar a própria vida é submeter-se
aos julgamentos dos outros. Inclusive aos prévios. É esperar ouvir dos outros o
que se deve fazer, que caminho tomar. Passa por bem longe de mim a ideia de ter
que esperar pela opinião de alguém para ser eu mesma. Isto é uma encomenda, não
é uma vida.
Eu vivo. E tem gente à beça que não
sabe o que está perdendo por não querer arriscar viver ao meu lado. Uma gente
que, temerosa, se afasta e – ainda pior! – aconselha a quem está por perto a
fazer o mesmo.
Talvez eu preferisse a morte a ter que
perguntar antes sobre o que fazer. Eu faço, e dou-me o direito de arrepender-me
depois, quando é o caso. Isto acontece pouco, até, pelo jeito que, tendo
assentado minhas “sapatas”, minhas colunas se ergueram...
Hoje abro caminhos, furacão
enlouquecido – mas são! – entregue às paixões de amar viver: carrego comigo
umas verdades que me sustentam, cato amigos, parceiros, para seguir adiante,
porque acredito que a vida é nada sem que se tenha amigos para compartilhá-la. Dos
que tentam me ludibriar me desfaço, ficam pelo chão, largados, sentindo ainda
um pouco do perfume de rosas que deixo, mesmo sem que mereçam. E gente deste
tipo fica rastejando, sem dar-se conta de que já sumiu da minha vida. E não
fazem a menor falta.
Lanço-me ao novo, ao inesperado. Gosto
disto. Gosto de acreditar no que penso, no que faço. Às vezes me confundo com
meus sonhos, porque acredito neles. E sonho, e vou, e levanto-me ainda mais
forte cada vez que tropeço. Porque faço questão de dar valor à vida que em
junho de sessenta e oito Deus resolveu me conceder. A luz me recebeu, eu não
posso ser o escuro.
Gosto de iluminar. Tem gente que gosta
do meu sorriso. Tenho infinitos dentes, que se atropelam, se entortam, mas que
estão lá, fiéis, a adornarem-me a boca, pra eu poder ser feliz. Não gosto de
sorrisos contidos. Gosto dos meus dentes, assim mesmo, porque gosto de rir. Eu
rio de tudo, graças a Deus! E gosto de ver gente rindo ao meu lado, gente rindo
por mim, de mim, para mim. Não tolero cara feia, rosto sisudo, mau humor. Isto,
a vida nos dá de graça (assim, com essa redundância, mesmo). O mundo – este que
não é de Deus – ocupa-se disto: de nos mostrar as caras feias das gentes de todos
os dias. Repreendo. Entrego nas mãos do meu Senhor. Que me venha a alegria! Amo
viver!
Tudo o que perco, fica fora da minha
vida, porque creio num Deus que me define o joio antes que ele cresça demais a
minha volta. Simples assim: “Saiu? Oh, Glória! Vá com Deus!” Foi assim com meus
tão poucos relacionamentos afetivos, com alguns amiguinhos de infância... Não
mudou nada.
Um dia novo na janela rompe meus olhos.
A janela do meu quarto ainda está quebrada, e eu não vou consertar. Porque amo
sentir o Sol atravessando meus cílios! Ele brinca comigo, eu reclamo um pouco,
mas logo, logo estou de pé a abrir-lhe a janela inteira para que entre em meu
quarto e invada tudo! Aí, ele fica todo bobo e compõe minha casa: é a alegria
da vida, a energia da vida, a mola mestra! Sem ele nada há, eu já falei muitas
vezes sobre meu amor pelo astro-rei!
Como Sol vivo a vida: saio feliz de casa
para trabalhar, observo a rua, os cachorros, os vizinhos, as amendoeiras, os
pescadores, todos com a mesma importância, e é quase um louvor! Um ritual de
respeito à vida que cada um ganhou pra si, com o mesmo amor de Deus.
Respeito a vida. Entrego-me. Cuido dos
limites para que ninguém atravesse a minha, tampouco eu a de ninguém. Parei o
carro, dia desses, para que uma cobra enorme atravessasse a rua. Não tenho o
menor direito sobre a vida daquele animal que, sem sombra de dúvida, é mais belo
que eu: uma cobra linda, enorme, imponente, que em nada atrapalhou o meu
caminho. Só quis seguir o seu.
Não faço encomendas. Vivo o que vier. E
vivo plenamente, faço questão! Sofro todas as consequências, mas assumo todos
os meus atos. Sou “do bem”, não desejo nem faço mal a ninguém. Não falo
mentiras, não iludo pessoas, não prometo o que não posso cumprir. E desconheço
o motivo pelo qual certas pessoas alimentam tanto ódio, tanto sentimento ruim
em relação à vida que optei viver. Ela é minha, de mais ninguém. Responderei por
tudo o que fizer de errado por aqui, e sei bem disto. Só não quero ser um
ensaio de alguém que não viveu. Porque quem ensaia não vive. Para isto, vou
tentando, vou vivendo. Sem encomendas.
A construção nunca acaba...
Seja o que Deus quiser!
Maravilhoso texto, compartilhando em minha rede social....bom domingo!
ResponderExcluirBom domingo, Ieda!!!
Excluir