Antônio
está na praia, neste momento. Seu pai o levou. Trouxe para buscá-lo, um
amiguinho. O menino escondeu-se no carro. E até agora está na minha memória o
sorriso do meu filho ao ver o amigo surgir na janela.
Eu
fiquei no portão até perder o carro de vista. Os dois no banco de trás,
brincando, felizes, felizes!
Tenho
estado pouco com Antônio. Trabalhando demais. E, por estar certa de que não sou
a única, quis escrever uma pergunta que ando fazendo a mim mesma. Eu me faço
perguntas demais, não consigo responder a todas. Quanto custa viver?
Estou
na metade da vida. E confesso que é verdadeira aquela história de que quando se
chega aos quarenta anos quer-se ter os dezoito de volta. Mas não os dezoito do
viço. Os dezoito do futuro mais distante, da morte quase impossível.
Ontem
soube da morte de Talita, uma pessoa que quando conheci só pude concluir uma
coisa a respeito: amava viver. E aí fiquei pensando em como Talita deve ter ido
embora insatisfeita! Mas ela já vivia seus oitenta anos, daí o desejo de
prender-se à vida que se despedia dela.
Hoje
deve ser o dia mais feliz da vida de Antônio. Crianças têm isto de bom, todos
os dias são seus melhores dias. Crianças não planejam muito o amanhã, tampouco
choram pelo ontem como os adultos. Crianças amam o dia de hoje. Antônio abriu
as janelas do seu quarto e me disse que o dia estava lindo lá fora, enquanto eu
abria as da sala e supunha que iria chover. Meu filho – Deus menino – é o meu
otimismo, quando a vida me obriga a entristecer. Isto foi há algumas horas
atrás. Olhando para o céu agora, vejo que o dia de Antônio venceu a batalha
contra o meu, graças a Deus!
Eles
estão por aqui por perto, mesmo. Na lagoa. Disseram que vão comer um churrasco
num quiosque. Antônio saiu coberto de filtro solar, com um boné na cabeça e
uma bola embaixo do braço. Eis o preço do dia mais feliz da sua vida...
Enquanto
meu menino se diverte às custas de uns picolés e de um churrasquinho de beira
de lagoa, eu aproveito o silêncio de casa para fazer as contas das despesas. Preciso saber se o dinheiro que tenho durará até o fim do mês. Preciso
saber se conseguirei pagar as contas de luz e água antes do corte. Preciso
renegociar a dívida do cartão de crédito, cuja fatura já venceu e eu não tive
condições de pagar. Preciso ver se a quantidade de ração que há no pacote
alimentará as cadelinhas até a semana que vem. Preciso de informações junto ao
RH sobre a data do pagamento, para saber se vai dar para comprar o ovo de Páscoa
“dos Thundercats”, que Antônio tanto quer! Pretendo passar o feriado em São
Gonçalo, vou precisar ter dinheiro para o combustível e para os pedágios...
Às
vezes – em muitas das vezes! – desisto de continuar. Papéis sobre a mesa da
sala, calculadora, anotações, boletos bancários, carnê do carro, caneta, tudo
aquilo misturado me dá sono. As contas não se encaixam, não cabem no total que
acusa o saldo da conta corrente, e eu nunca sei como fazer. Junto tudo, guardo
na gavetinha da cozinha e deito para dormir.
Lá
fora me exigem comprar a bolsa e o sapato de marca. Exigem que eu não tenha
cabelos brancos, muito menos crespos. Exigem que meu manequim seja trinta e
oito. Lá fora eu não posso ter barriga protuberante, nem estrias, nem
celulites. Não posso ter cravos nem espinhas, e tenho que me lembrar, quando
vou à manicure, de que um dos dedos tem que ter a unha pintada numa cor
diferente das demais. Quando me esqueço de alertar para este detalhe fico me
punindo e, na rua, sempre acho que estão olhando para o meu anelar de forma
discriminadora.
Quanto
custa viver, verdadeiramente? Quanto me custaria estar lá, com Antônio, na
lagoa? Quanto me custa caminhar com ele pela orla, levá-lo ao parquinho da
praça?
Na
metade da vida, o desejo de abandonar as ordens de lá de fora e viver e ser
feliz. Viver como criança, como Antônio, que sente a mesma alegria se lhe
presenteio com um boneco do Ben 10, ou com uma régua geométrica, ou com um
bilhetinho dizendo “Te amo!”, ou com um abraço numa hora inesperada...
Para
viver para “lá fora”, eu trabalho o dobro do que deveria. Mal vejo meu filho. E
de nada adiantará preparar um futuro “mais confortável” ao lado dele, porque
nada me certifica de que estaremos juntos nesse futuro. E, mesmo que estejamos,
já não estarei ao lado do meu menino, porque infelizmente sua infância está
passando na mesma velocidade com que acelero o carro rumo ao trabalho.
Há
cinco anos completei quarenta anos, e desde então estendi minhas mãos para o
tempo. “Eis-me aqui!”, suplico todos os dias, implorando por um pouco mais de
vida – de tempo de vida – porque Antônio não tem culpa se eu decidi ser mãe aos
trinta e sete. Olho a vida agora e invejo a época em que tinha dezoito. Quero
voltar, não há mais como. Queria estar com dezoito anos agora, para correr
atrás de Antônio, para ser perseguida por ele, para ter juventude e energia o
suficiente para acompanhá-lo. Vou querer ter os mesmos dezoito anos quando ele
tiver também essa idade, para entender as suas dores da adolescência e ter,
naquele vocabulário esquisito que se tem aos dezoito anos, a palavra certa para
lhe fazer sorrir quando a tristeza vier lhe importunar.
Viver
custa caro demais, demais! E a gente vai se entregando às exigências cada vez
mais fúteis da vida sem se dar conta de que abrimos mão daquilo que nos é mais
importante: o amor verdadeiro. A família, os amigos, nossos animais de
estimação, o bem ao próximo.
Feliz
de quem aprendeu a negar os apelos imundos do mundo ainda em tempo de viver
bem. Feliz de quem se despede de todos os dias da sua vida, com a mesma alegria com
que os recebe. Não estamos nós, todos os dias, morrendo um pouquinho?
Imaginando
um Antônio que chegará ao meu portão com bochechas avermelhadas que emolduram e
embelezam – e eternizam! – ainda mais o seu sorriso, desejo que a mensagem
deste texto de hoje penetre no coração do seu leitor como semente. Semente de
uma vida melhor. De uma vida que caiba no bolso de todos aqueles que veem
prioridade e relevância naquilo que lhes é mais sagrado – cada um tem a sua – daquilo
que, justamente por isto, o mundo só quer afastar.
Quanto
mais a gente paga para viver, mais se afasta do que é a vida. Está na hora de
vivermos o gratuito: o sentimento, a acolhida, o fim de tarde, o nascer do sol,
o plantio, a colheita, o sorriso, o afago, a palavra, a ajuda, o perdão, o
afeto. Por isto não se paga nada. E só por isto se vem ao mundo. Só por isto se
custa viver.
Minha amiga Karla Pontes, hoje aos 52 anos me sinto na idade do viço...rrsrssrs.....amo viver quero chegar a idade da minha bisa 98 anos....nessa vida passamos por faces...sinceramente por tudo que já passei me sinto realizada aos 52 anos mas penso que ainda tenho muito o que fazer por aqui.....ajudar muita gente principalmente minha filhas, família e amigos. Trabalhamos, trabalhamos, mas nunca se esqueça de aproveitar a vida de viver e ser feliz a cada dia, temos que procurar pela felicidade a cada final de semana de trabalho...isso eu já aprendi.
ResponderExcluirIsso tudo não tem preço.....tem sim muito AMOR.....a cada ação seja ela no trabalho, na família ou outra situação foi feito tudo com AMOR e isso não tem preço AMIGA Karla Pontes!!!
Parabéns belo texto!!!
Ah, amiga Nícia!... E com quantos anos será que se aprende tudo? Obrigada pelas lindas palavras!!!
ExcluirSempre....falando a coisa super certa na hora totalmente certa....saudades e preces por vcs dois..compartilho das contas,kkkkkkkkkkkk e de como tenho passado pouco tempo com ele....:(
ResponderExcluirRs. Que bom ver você por aqui! Saudades! Obrigada pelo carinho. As preces são bem-vindas!!! :)
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