sexta-feira, 29 de março de 2013

Vida nova

(Em tempos de Páscoa, o título do texto vem bem a calhar... Eu quero uma vida nova. E resolvi escrever sobre isto.) 


Eu quero uma vida nova.

Quero poder dizer adeus. Algumas pessoas se foram da minha vida, sem que eu tivesse me despedido. Quero dizer adeus a Wilson, amigo engraçado que se foi de repente, e me deixou sem sorrir durante um longo tempo... Wilson fez isto. Morreu. E mandou alguém me avisar por telefone. Dias antes estava comigo, brincando, me divertindo. Como pôde ter sido assim?

Quero dizer adeus à Madalena. Quero atender o telefone naquele dia que ela me ligou, às vésperas de deixar o mundo, e eu não atendi. Quero saber o que ela me falaria. Quero pedir sua bênção, para continuar vivendo, mesmo com a saudade que não me deixa ter paz.

Eu quero uma vida nova. Aproveitaria ainda mais o tempo ao lado de Wilson e Madalena. Gargalharia com as histórias de um aventureiro, que veio ao mundo para vivê-lo, e aprenderia com as histórias de Madá, que veio ao mundo para que eu pudesse ser mais feliz.

Na minha vida nova, eu teria um sítio para acolher os animais que vagam abandonados nas ruas. Lá seria o céu – daria este nome ao sítio – já que dizem que no céu não há animais... Faria campanhas de preservação da natureza em tempo de ver bons resultados. Ensinaria às crianças que o que se planta hoje, se colhe amanhã. Ensinaria aos adultos que vale a pena investir na semeadura, ainda que não estejamos vivos para testemunhar a colheita.

Preciso de uma vida nova. Quero dizer do meu amor para as pessoas que amo. Essa vida corrida que levo não tem me deixado fazer isto. Quero abraçar – muito! – para matar saudade, quero beijar, fazer carinho. Preciso escrever cartas, quero perfumá-las, para que seus destinatários fiquem com o aroma da lembrança do que é uma amizade verdadeira.

Uma nova vida para ajudar as pessoas que moram tão longe de mim e sofrem por carências materiais. O mínimo, eu não quero muito, mas uma vida nova me impulsionaria a largar tudo isto que vivo aqui, e sair mundo afora ajudando ao meu próximo.

Eu quero uma vida nova. Preciso pedir perdão a algumas pessoas por coisas que fiz, que disse, que pensei. Preciso perdoar algumas dores que sinto, que me deixam doente de vez em quando. Preciso falar mais verdades, mas preciso ser mais cuidadosa, e observar que nem todo mundo está preparado para ouvi-las. Preciso omitir certas opiniões, evitar brigas, desgastes, porque isto não leva a nada.

Quando se chega a querer uma vida nova, é porque já se sabe alguma coisa. Fico aqui, na frente, tentando alertar a Antônio do que é triste, do que é chato, do que faz mal. Mas ele cai do mesmo jeito, machuca o joelho, chora, sofre. Graças a Deus eu dou colo. Aqui em casa, quando ele chora, já vem “subindo” em mim. Depois do consolo, desce. Sempre me beija antes, e agradece, como se não fosse minha a total obrigação de amenizar o sofrimento dele...

Quero amenizar sofrimentos, na vida nova. Ter palavras certas para dizer, para que as lágrimas nos rostos de todas as pessoas cessem. É difícil chorar sozinho. Ninguém nunca se esquece do dia que chorou sozinho... Quero estar lá, no momento preciso, em que a primeira lágrima for derramada. Quero ser porto, ajuda, companhia, servidão.

Eu quero uma vida nova, mais próxima de Deus.

Quando se chega à metade da vida, se quer viver. Jovens não sabem de nada, crianças sabem menos ainda e, no entanto, são as crianças e os jovens que sabem viver: amam a vida, respiram cada minuto dela como se fosse o último. Riem-se de si mesmos, são alegria para quem está por perto. Quer vida melhor?

Se eu pudesse ter uma vida nova, afastaria os jovens das drogas. Dessa morte que convida a partir o nosso filho, nosso amigo, nosso vizinho. Que leva consigo as famílias, que desagrega, que torna dependente do inferno toda uma sociedade. E eu apresentaria a VIDA aos meninos e meninas que não experimentaram alegria diferente, e só conhecem o prazer dos cinco minutos de êxtase. Mostraria a eles que existe o circo, o parque, a arte, o livro, o sol, o mar, a natureza. Mostraria que existe o outro, o irmão, a palavra, o carinho. Mostraria que afeto existe, que é possível amar e ser amado. O amor cura, liberta, e nos livra dos vícios desde muito tempo atrás!...

A metade da vida é o sinal que se acende amarelo: ATENÇÃO!

Tudo o que fiz até aqui, está feito. Orgulho-me dos acertos, envergonho-me pelos erros. Mas com acertos e erros aprendo e, tendo aprendido, ensino. Hoje olho pra trás e tento lembrar-me dos sonhos que tinha ajoelhada aos pés da cama aos dezesseis anos. Sonhava em ser feliz. Tenho quarenta e quatro, sonho em ser feliz. Antônio já me é quase certeza de que sou, de que serei. Mas resta-me pouco tempo ao seu lado.

Todos os dias, quando saio de casa para trabalhar e pego a estrada, peço a Deus que me leve e me traga de volta. Mas não há um só dia em que, trocando uma estação do rádio do carro ou um CD, eu não pense em morrer num acidente. Sempre penso, não domino isto. E já não sei se é um alerta ou uma intuição.

E se um dia eu não voltar pra casa?

Deveríamos viver a vida inteira pensando nesta possibilidade, ainda que prefiramos não pensar nisto.

Um dia a gente não volta do trabalho, do passeio, da internação, do banho, do sono. E, no entanto, mesmo cientes disto, a gente perde tanto tempo com coisas que valem tão pouco, e adia pra muito depois o que realmente interessa.

Quero uma vida nova. Começar tudo de novo. Amar, acolher, saber retribuir na mesma medida o amor que recebo...

Minha vida nova começa agora. Já vivi quarenta e quatro anos. Se eu mudar minha vida e conseguir planejar meus outros quarenta e quatro, já valerá a pena.

Para quem sabe (re)viver, vida nova é todo dia!

Um comentário:

  1. Amiga, vida nova não é começar tudo de novo, é sim mudar o rumo e os hábitos em nossa vida. A respeito do acidente na estrada um anjo já nos salvou vc lembra!!!Bjks.Nícia.

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